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Franando na França #4: Estrasburgo

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Quando eu estava falando com minha irmã no Hangouts dia desses e contei que estava em Estrasburgo, ela perguntou: “ué, na Alemanha?”. Nada mais natural essa confusão, já que essa é mais uma pra coleção das cidades que já passaram por quinquilhões de mudanças de personalidade – e em poucos anos. De vez em quando da Alemanha, de vez em quando (e atualmente) da França, dependendo do período histórico que você está estudando, Estrasburgo (ou Strasbourg, como dito em sua língua natal) é mesmo essa bagunça toda: mas ô bagunça bonita!

O trajeto de Nancy até aqui foi menos cheio de ooohs e aaahs, mas já deu pra notar as casinhas, todas madeirinhas, todas com cara de Natal, todas com aquele visual que Campos do Jordão faz de tudo pra simular. Ao chegar, demoramos pra pegar no tranco. Chegamos num domingo, ficamos a manhã inteira numa lavanderia lavando roupas (viagem de 50 dias é assim…), aí errei feio na escolha da roupa e passei muito frio, o que me deu um bode danado e um mini-desespero. Eu amo frio, mas é preciso sacar o jeito que ele anda em cada cidade para escolher bem a roupa e se dar bem com ele – senão, é um gelo só, entrando por todos os seus poros e congelando seu cérebro (foi assim que me senti!).

Depois, com as roupas lavadas e já muito melhor agasalhada, fui me aprochegando melhor daqui e curti bastante. É uma cidade bastante turística – finalmente, encontramos turistas de outros lugares que não só a França (mas ainda nenhum brasileiro, oba!) – e chegamos no pior ou melhor momento, dependendo do ponto de vista. Melhor porque ainda não está bombando, ruim porque não pegamos a feira de natal aqui que dizem ser maravilhosa! Hoje, que foi nosso último dia inteiro aqui, é que o pessoal estava começando a montar os enfeites de Natal :(. Mas sobrevivo – já fui em feiras de Natal na Alemanha e tô ligada na fofura e no cheiro de canela no ar!

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Foi ótimo ficar 4 noites aqui, deu pra fazer bastante coisa de tudo que é estilo (a maioria comida e caminhada, é só isso que fazemos em viagens): comemos chucrute em restaurantes tradicionais, compramos uma cegonha de pelúcia pra dar sorte para nossos planos de 2017 (<3), andamos no Batorama (passeio de barco pelo Reno, Ill e pontos históricos da cidade – recomendo bastante), demos um pulo a pé até a Alemanha (a cidade de Kehl faz fronteira com Estrasburgo, perto do apartamento em que ficamos), vimos alguns museus bem bacanas (demos a sorte de chegar aqui no primeiro domingo do mês, quando todos os museus abrem gratuitamente), subimos no topo da Catedral de Notre Dame daqui, comemos no Au Crocodile, restaurante com estrela Michelin com os pratos mais gostosos que já comi na vida (nunca mais vou escovar os dentes na vida, para o gosto não sair nunca mais, tipo isso), descobrimos as maravilhas dos saucissons (uma espécie de salaminhos de diversos temperos), sobrou espaço até para um trio de paellas maravilhoso num restaurante espanhol (nada a ver, mas sabe como é… já bateu saudades de um arrozinho).

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Só ainda não comemos chocolate, porque pretendemos pegar a rota dos chocolates amanhã, rumo à próxima cidade! Isso, rota de chocolates e não dos vinhos, como muita gente me recomenda e curte. Decidimos optar por algo menos alcoólico e mais light depois de percebermos nosso tipo de rolê… não demos conta nem da primeira metade da garrafa dos dois vinhos que trouxemos para o apartamento aqui! – aliás, um dos vinhos foi dado de presente pelo senhorzinho dono do mercadinho <3. Se tem uma coisa que aprendi logo cedo na França quando vim há anos na primeira vez é que basta você puxar assunto e ser legal que ganha piada, ganha um amigo, ganha presente. Nunca – eu digo nunca – encontrei um dos franceses mal educados que a galera fala que existem por aqui.

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“Ah, Francine, tudo muito bem, já entendi que você tá comendo e vivendo a vida que pediu a Deus… mas e seu livro?” Notícias do front: sigo firme e forte na revisão dele antes do sprint final. Estou cheia de altos e baixos, hora achando que perdi meus últimos 15 anos tentando escrever algo levemente medíocre, hora tendo certeza que tenho em mãos o próximo hit do verão. Só emoções.

Agora já estou cansando da Alsácia e sua alemanhice, tô a fim de uma França mais França. Amanhã, começaremos pouco a pouco a entrar mais na França. Allons-y!

 

 

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Franando na França #3: Nancy

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E aqui ficamos nós, finalmente em uma cidade que não passou por um monte de desgraceira, pra variar um pouco. Nancy fica no coração (acho que é no coração, mas não sou tão boa de geografia, então pode ser que fique em algum outro órgão menos honrado) da Lorena (ou, em bom francês, Lorraine – e sim, é claro que comemos quiche lorraine só pela piada) e por isso é cheia de docinhos (pensem em macarons originais, sem recheio, coisa de doido) e bergamotas (para os paulistas, mexericas ou tangerina). Foram dias com pontos altos como uma manhã gelada escrevendo (ou tentando escrever) na Praça Stanislas, nosso primeiro almoço em um restaurante estrelado do Michelin (chiquérrimos), um carnival descoberto num parque (adoro isso) e a passagem pela cidade de Belleville, no caminho Verdun-Nancy – fiquei toda empolgada, adoro o desenho As Bicicletas de Belleville (mas não tirei fotos, porque passamos rapidinho e só fiz um vídeo pra mandar pra minha mãe)!

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Mas Nancy é mais conhecida por ser o berço da art-nouveau, escola de design do começo de 1900 que unia japonismo, racionalismo e naturalismo e acreditava que, como na natureza, tudo devia ser não apenas funcional – mas também lindo. E apesar desse raciocínio ser muito dos meus, eu não era tão fã da art-nouveau, porque nunca tinha sacado ela direitinho. Agora que vi de perto, posso dizer que voltei fã-za-ça. Acabou que art-nouveau foi o tema de nossa visita à Nancy e inspirou caminhadas (agradeço à Letícia do Parisieníssima por várias dicas!) e nossas visitas a museus.

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O que me lembra de fazer um comentário sobre os franceses e um pouco do meu gosto por eles. Pode ser um comentário cheio de erros, afinal, apesar de eu já ter vindo bastante pra cá, nunca vivi efetivamente aqui ou fui amiga íntima de algum francês, mas a impressão que tenho é que a cultura e a intelectualidade (seria essa a palavra, será?) estão muito enraizados aqui, no jeito de viver, de pensar, de criar filhos inteligentes. Deve ser muito difícil não crescer interessado em arte ou cultura de modo geral aqui. Aqui em Nancy, a todo instante trombamos com grupos de criancinhas tendo aulas ao ar (frio!!!) livre, quer de assuntos mais “sérios”, como história da arte, quer apenas passeando na praça e aprendendo a apreciar uma exposição. Se for comparar com meu ensino no Brasil – que não foi ruim -tive história da arte apenas no colegial, vendo slides cansados e antigos em um retroprojetor. Aqui a cultura e a história são vivas, a cultura é coisa que seus avós e bisavós fizeram, está nas ruas. Não tem como fugir dela, né?

Outra coisa que acho interessante observar é o comportamento das crianças em outros contextos, que não apenas o escolar, nos museus. Fomos a um aquário aqui numa quarta feira e tinha um monte de crianças passeando por lá com seus avós (se não me engano, quarta feira não tem aula aqui na França). Os avós não estavam gritando OLHA O PEIXINHO QUE LINDO!!! PEGA O PEIXINHO! TIRA FOTO COM O PEIXINHO! DIZ QUE AMA O PEIXINHO! Eles estavam curtindo com os netos e explicando o que era cada peixe, o quanto ele era curioso, como ele vivia, sua interessância toda como peixe.

Talvez seja por uma mistura de tudo isso que aqui eu ainda não tenha visto ninguém tirando selfie no museu, por exemplo…

E acabou que achei que ficamos tempo demais em Nancy – calculamos 3 noites e fizemos tudo o que queríamos em 1 dia, tendo que matar o resto do tempo! Mas é bom para descansarmos e aprendermos a curtir as coisas com calma. Normalmente, somos muito alucinados em viagens – saímos do hotel\apartamento às 8h e voltamos de noitão, mortos de canseira, usando o lugar de estadia praticamente pra tomar um banho e dormir. Esse ritmo é divertido, mas muito insano – e temos noção de que 50 dias nessa adrenalina vai ser impossível. Assim, estamos ainda aprendendo a lidar com o slow-traveling ou algo assim.

O primeiro erro que descobri que cometemos foi que acabamos economizando demais no hotel e estamos num quarto tão apertado que é praticamente cama. Me sinto os avós do Charlie, da Fantástica Fábrica de Chocolates, que viviam em cima de uma cama, todos os quatro, juntos. Desse jeito apertado não é tão animador ficar de boas descansando entre um passeio ou outro e acabamos querendo sair o tempo todo. Meio claustrofóbico aqui. :S

Viajando e aprendendo! Torcendo pra que a próxima acomodação seja mais chic e boa pra descansar, um beijo pra vocês!

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Franando na França #2: Verdun

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Pensem numa cidade que esteve constantemente no lugar errado e na hora errada. Agora pensem no quão ruim deve ser você ser essa cidade, já que como cidade você não tem muita escolha a não ser continuar ali. Essa é Verdun, uma cidade que calhou de ser bem no meio das brigas entre alemães e franceses não apenas em uma, nem duas, mas em pelo menos 5 grandes guerras – e pra ajudar tem uma geografia extremamente estratégica para construções de fortes. As datas da foto acima contam todas as vezes em que esse local foi destruído ou damaged (estou tão imersa em outras línguas, tentando falar o menos de português possível por aqui que já estou dando tilt vocabular) em sua história.

A cidade, hoje, no entanto, parecia uma coisa pacata só. Descobri que dia de finados é comemorado dia 1 na França, e por isso ontem e hoje a maioria dos lugares estavam fechados e quietinhos. Quando descobri que íamos visitar o Ossuário de Douaumont em pleno dia de finados, achei que íamos fazer o pior erro ou o mais lindo acerto da viagem. Logo imaginei centenas de descendentes de soldados indo lá prestar homenagem a seus bisavôs. Ao chegar lá, uma surpresa: tudo bem vazio. Em termos de pessoas visitando seus bisavôs, no caso. Porque em termos de pessoas já passadas, é uma coisa de doido. De lindeza e de “gente, apenas parem”.

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A sensação em Verdun – no Ossuário, especialmente – que não fica exatamente na cidade, mas a uns 15 minutos de carro dela, é de melancolia. Muita tristeza passou por aqui e esse tipo de coisa dá um jeito de agarrar na parede de pedra dos lugares. Mas muita coisa linda também, muita história pra contar. Faz pensar em nossa história no Brasil, como é pequena, curtinha e felizmente de muita paz. Me fez pensar em meus ascendentes (tenho um tataravô nascido em cada país da Europa ocidental, praticamente) e no que eles passaram pra que eu chegasse aqui e visse essa história. Pra falar a verdade, não faço ideia do que eles passaram, mas a gente vai imaginando e sabe como é a cabeça. A minha, pelo menos. 🙂

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Pela manhã compramos chips de celular (yay) e viajar para outro país com internet ilimitada no celular é uma experiência que nunca tinha tido antes e super recomendada. Me sinto mais segura, mais em casa. Parece que não, mas um Google aqui e acolá e uma fuçadinha no Instagram fazem uma diferença.

De manhã, passamos na Cidadela Subterrânea de Verdun, um passeio por um lugar escondidinho onde muita presepada aconteceu. Achei que ia ser um passeio simples, um pique meio Museu dos Esgotos de Paris (sim, fomos lá ano passado, adoramos nos enfiar em buracos), mas logo que chegamos nos botaram num carrinho muito doido que saiu passeando por lá, com direito a projeções e músicas. Bem pique Disney. Bem o tipo de passeio que eu e o marido adoramos. Túneis com projeções e musiquinhas é com a gente mesmo. Sempre damos um jeito de encontrar, até numa cidade pequena da França. Pior que era de excelente qualidade, não era pique museu de Stars Hollow.

Comidamente, hoje não fomos tão bem, mas fomos. Por conta do feriado e de alguns desencontros de horário, o almoço e o jantar foram aqui perto do hotel mesmo, na beira da estrada. Não preciso nem dizer que restaurante de beira da estrada do interior da França já é bom pra chuchu, né? Pra mim, França é tipo Minas: qualquer biboca vendendo qualquer coisa merece Michelin.

É isso! Amanhã partimos pra próxima! Au revoir!

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Franando na França #1: Comecinho da viagem – Berlim e trajeto Paris-Verdun

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Olá olá olá!

Estamos no quinto dia da nossa viagem e só agora consegui uma somatória de internet acessível + fôlego pra fazer um post!

Já começo explicando porque raios fomos parar na Alemanha, sendo que a roadtrip era francesa. Não, caros, não acabamos perdidos pegando a estrada errada nessa pertitude maravilha que é a Europa. É que tínhamos um amigo perdido por lá (na realidade, morando por lá, mesmo) e decidimos, antes de começar a parte road da trip, pegar um avião e fazer uma visitinha a ele. Passamos o primeiro final de semana da viagem em Berlim e ficamos hospedados no apartamento dele (que foi dormir na casa de amigos – ato muito fofo e que me deixou muito sem graça – magina, sair de casa pras visitas, nunca fiz isso na vida!).
Eu já conhecia Berlim – tinha passado 4 dias por lá num mochilão-de-boutique que fiz em 2010 e tinha gostado demais. O Julio ainda não conhecia essa loucura de cidade e decidimos ir para ele conhecer. Achei a Berlim de 2010 mais doida que a de agora – talvez porque na época eu estava um pouco mais doida também e fiz um walking tour especializado em cultura underground e grafite. Mas dessa vez, além de fazer passeios bacanas, como o walking tour do Sandeman’s e o museu da DDR (duas ótimas pedidas, que conheci da última vez que fui graças à Mirele, minha amiga de extremo bom gosto), além da Dungeon’s Berlin (se você não conhece essa franquia de passeios de terror divertidos, por favor passe a conhecer!) e de uma exposição-experiência bizarra do Bosch, conseguimos conhecer um lado mais dia a dia da cidade – e me apaixonei por um canto chamado Admiral Strasse.

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Mas hoje voltamos para Paris e começou oficialmente a parte mais aguardada da viagem: o dia em que pegamos um carro e começamos a rodar. Eu tinha muitos medos, especialmente porque não temos um carro e não dirigimos muito – meu marido tirou a carta não faz nem 1 ano (!) – é, eu e o marido (ele ainda mais que eu) somos meio avessos a esse lance todo de ter carro (e estamos sempre adiando o dia em que teremos esse tal carro). Mas no dia em que decidimos fazer essa viagem, o leasing de um carro foi a primeira coisa com a qual concordamos.
Como gostamos de já começar no nível hardcore, nunca tínhamos feito uma viagem de mais de 2 horas dirigindo e decidimos estrear numa viagem de 6 horas (contando paradinhas) em outro país, numa língua que não falamos tão bem. E. FOI. TUDO. MUITO. TRANQUILO.
(é sério, o medo era tanto que dormi ontem a base de calmante).
E foi lindo.
Parte porque o Julio é um motorista sensacional, parte porque o carro que a gente pegou, um Peugeot 308 (pela Peugeot Open Europe) é uma coisa de louco. Nos sentimos dirigindo no futuro… mas rumo ao passado. <3
Tem muita coisa pra contar e pretendo contar nos próximos dias, mas queria dividir algumas dicas, caso alguém aí se inspire com meus (possíveis) próximos posts ou tenha googlado e caído aqui em busca de informações.

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Organizar uma viagem assim exige uma dose muito boa de organização e outra de maluquice. É muita coisa pra pensar – desde filtrar quais cidades visitamos e quais deixamos de visitar – até baixar as fotos direitinho e organizadas para não bagunçar tudo. É trabalho de equipe do começo ao fim! De todas as viagens que fizemos, essa foi a mais organizada e a menos organizada ao mesmo tempo. A mais organizada, porque nos preparamos bastante: financeiramente, é claro, mas também comprando um guia bacanudo da Lonely Planet, treinando um pouco dirigir em estradas e até fazendo uns meses intensivões de francês! A menos organizada porque temos um trajeto-master, mas nem tudo está reservado e escrito em pedra. Por muito tempo, tudo o que tínhamos era a passagem de ida e volta e muita vontade de conhecer a França por inteiro.
Somos um casal com um combinação muito boa de opostos e por isso vivemos sempre na base de um equilíbrio de caos e ordem, na minha opinião, perfeito. Eu sou a pessoa que cria e bagunça. Ele é a pessoa que executa e organiza. Eu sou o departamento de entretenimento (pesquisei mil lugares, restaurantes e hotéis) e ele o departamento logístico (é ele quem cuida do dinheiro e dos horários).
Esse equilíbrio é bom no on-the-go da viagem também, especialmente: o Julio é muito bom com a ordem. Assim, temos tudo muito claro sobre onde estamos, quanto temos e quais os próximos passos. Evita coisas horríveis que já passei em viagens-solo que eu fazia como perdas de passagens (!), de passaporte (!!!) e gastos escabrosos de dinheiro (!!!!!) Se eu entro em pânico (porque sou meio desesperadinha), ele me mostra as planilhas e tudo fica bem. Já na hora do improviso, sou eu que assumo. Quando uma das planilhas se mostra errada meu marido sai de cena (e precisa sair, senão ele entra em pânico!!) e eu assumo, achando uma saída às vezes inusitada, às vezes simples pacas.
Com essa divisão clara de tarefas, fica muito gostoso viajar e temos o melhor dos dois mundos: uma viagem extremamente divertida e livre, mas com tudo bem organizadinho.
Nosso primeiro momento desse foi hoje na hora do almoço. Pegamos o carro com o tanque meio vazio e não aparecia um postinho sequer no caminho. O Julio, já um pouquiiiinho preocupado, me pediu para ler o manual de instruções e descobrir como o GPS poderia calcular o caminho até o próximo posto. Olhei o manual de instruções, desolada. Nunca li um manual de instruções na vida e não seria dessa vez. Decidi inventar que, pela lógica, toda cidade teria um posto de gasolina. Viramos na primeira cidade à direita e acabamos almoçando por lá um frango com legumes da estação maravilhoso (esses franceses sabem fazer até chuchu ficar gostoso!) e descobrindo os preparativos do Halloween por aqui.
Mas a lindeza toda é o equilíbrio! Claro que vou defender o meu jeito meio caótico de fazer as coisas, porque adoro essa diversão toda… mas uma ordenzinha também é boa pra chuchu (por exemplo, se não fosse a teimosia metódica do marido não teríamos conseguido conectar e esse post nem existiria!). Já falei aqui antes como o melhor caminho para a liberdade e a criatividade são as regras, não? Senão falei, me lembrem de falar quando voltar.

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Falando nisso… sigo na revisão final do meu livro e numa notícia muito doida: decidi trocar o sexo do meu protagonista. O Sandro, que durante 15 anos foi um protagonista menino do meu livro, virou Samara. Isso porque hoje, com 29 anos na cara, não vejo sentido nenhum ser uma autora mulher escrevendo meu primeiro livro com um menino como protagonista. Um pouquinho de girl power não faz mal a ninguém. 😉

Ufa, mil coisas! Até a próxima!

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Amanhã a gente começa, e dessa vez é amanhã mesmo

 

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Parece que foi ontem (quando na verdade foi há 11 anos atrás). Primeiro ano da faculdade, aquele monte de pessoinhas prontas para encarar a verdade daquela música que eu temia ver realizada, à sua maneira moderna e cheia de “crises dos 20 anos”, sentadinhas, ansiosas, na aula de sociologia, aquela disciplina de nome misterioso.

O professor entrava na sala e do alto de seu allstar vermelho e sua expressão de sonhador moderado que arrancava suspiros das calouras falou sobre o flâneur.

Aquele sujeito-estilo-de-vida-função-social que surgiu na França (é claro) do século 19 junto à ideia de cidade, entrou na minha cabeça imediatamente e se aboletou por lá. Eu era uma caiçara fajuta recém fugida saída de Santos e estava encantada com essa São Paulo toda. Aquela multidão, aquela coisa que não tinha começo nem fim que era a cidade, a urbanidade da urbanidade, aquela coisa particularmente linda para quem, como eu na época, vivia no circuito Pinheiros-Vila Madalena-Paulista, ah, aquela São Paulo da diversidade, do bom gosto e da cultura pulando por todos os lados (nota mental: uma São Paulo que ainda existe pra além do meu cansaço e que merece minha atenção ano que vem)…

O raciocínio flâneur era um prato cheio praquela Francine de roupas coloridas que vivia na Avenida Paulista matando tempo. O flâneur me inspirou a andar tardes e mais tardes por aquela avenida naqueles primeiros anos da faculdade, em que eu ainda não trabalhava oficialmente, era só freelancer, com a vida mais ou menos ganha porque nem precisava de muito. E curti muito e guardo com muito carinho os anos de 2005 e 2006, antes dos amigos terem que marcar na agenda para se encontrar, antes do dinheiro ou da vontade de cada um de ser mais bem sucedido mais inteligente mais culto mais diferente mais descolado mudar todas as lógicas.

Aí eu arranjei emprego, a vida foi sacolejando e o conceito de flâneur sumiu da minha cabeça.

Até agora. Nesses últimos seis meses (na verdade, nesses últimos anos, sem querer) em que eu e meu marido nos preparamos para a viagem que começa amanhã, flanar tem sido um verbo possível. Graças a Deus, aos planos, aos sonhos e às planilhas mágicas da família Guilen-Almeida. Serão sete semanas em que quero, apenas, pura, simplesmente, de toda a alma, ser flâneur.

Sai o relógio, sai o compromisso, sai o deadline, sai o ganhar mais e mais e mais e mais, sai a necessidade de provar que é isso, aquilo, é publicitário, é empreendedor, é descolado, é nômade digital, sai a necessidade de ter uma resposta pronta para os jantares em que perguntam pra você “mas e aí, o que você faz da vida?”, sai até mesmo a vergonha e medo de ter que me explicar sobre como pretendo fazer para ter dinheiro nos próximos 2 meses (ou mesmo pelo resto da vida). Entra o flâneur.

A Wikipedia me ajuda a explicar um pouquinho dos meus planos de vida e de viagem pra vocês. Flâneur é metade curiosidade, metade fazer-nada. É andar pelas ruas, calçadas, parques, passagens, cafés, sem um trajeto definido. É estar e ser, ao mesmo tempo.

O pulo do gato, a magia da coisa toda é que flanar é o oposto de vagabundagem ou preguiça. Não é um simples andarilho a esmo. Balzac dizia que flanar é a gastronomia do olho. É degustar cada passo, observar tudo, sem tempo marcado e sem ter-quê. Sim, flâneur é o jeito mais francês do mundo de falar sobre atenção plena, aplicada à vida na cidade.

Pra quem diz que flâneur é coisa de mendigo ou coisa de quem já tem a vida ganha eu digo que é claro que é fácil flanar na França, sem outro compromisso que o de terminar de escrever um livro – mas os meses de puro estresse e mudanças constantes que precederam (e permitiram) essa viagem me mostraram que do jeito que esteve não dá pra continuar. E quando voltar, quero tentar de todos os jeitos permanecer flâneur. Prestar atenção no fluir do metrô cheio ou no aroma do bolo assando aqui em casa, entender o passarinhar do passarinho no outro lado da avenida e no gingado esquisito do mendigo que mora aqui no bairro. Esteja eu cheia de jobs ou cheia de sonhos, ou os dois juntos, que é bom também.

 

The crowd is his element, as the air is that of birds and water of fishes. His passion and his profession are to become one flesh with the crowd. For the perfect flâneur, for the passionate spectator, it is an immense joy to set up house in the heart of the multitude, amid the ebb and flow of movement, in the midst of the fugitive and the infinite. To be away from home and yet to feel oneself everywhere at home; to see the world, to be at the centre of the world, and yet to remain hidden from the world—impartial natures which the tongue can but clumsily define. The spectator is a prince who everywhere rejoices in his incognito. The lover of life makes the whole world his family, just like the lover of the fair sex who builds up his family from all the beautiful women that he has ever found, or that are or are not—to be found; or the lover of pictures who lives in a magical society of dreams painted on canvas. Thus the lover of universal life enters into the crowd as though it were an immense reservoir of electrical energy. Or we might liken him to a mirror as vast as the crowd itself; or to a kaleidoscope gifted with consciousness, responding to each one of its movements and reproducing the multiplicity of life and the flickering grace of all the elements of life.

— Charles Baudelaire, “The Painter of Modern Life”, (New York: Da Capo Press, 1964). Orig. published inLe Figaro, in 1863.

 

É isso. Esse é meu plano, que começa amanhã, que tem e não tem a ver com minha crise sobre continuar morando ou não em cidades grandes.

Porque acho curioso ver como o conceito de flâneur nasceu exatamente junto com as cidades, que no século 19 eram muito mais vazias e lentas, mas já eram devoradoras. Afinal, foi quando as cidades nasceram e se encheram que as pessoas tiveram que aprender a dividir pequenos espaços públicos sem se cumprimentar. Pense nisso: para acelerar a vida, para nos cansar menos, para fugir de conversas, aprendemos a dividir elevadores, vagões, carros, sem um bom dia. Aprendemos a nos des-conhecer.

É de arrepiar a espinha esse desconhecimento, não?

E eu aqui, com medo dos 50 dias de desconhecido que serão essa viagem, como se o desconhecido não fizesse parte de nossos dias a cada minuto… 😉

Leia mais sobre o flâneur aqui 

E está convidado a acompanhar meus próximos passos de agora em diante! O próximo pode ser amanhã enquanto eu estiver fazendo as malas, ou mais pra frente, em outro continente.

🙂

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O pulso ainda pulsa

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Sobre criar, sobre escrever, sobre deixar o cérebro e o coração escorrerem pelas pontas dos dedos, sobre falar um pouco sobre sua verdade, com um pouquinho de edição, deixar dizer o que você tem por dentro.

Sobre escrever, um post sobre escrever e sobre fugir de sua sina e falhar miseravelmente, porque escrever é do que você é feito.

Fiquei aqui pensando. Tentando lembrar quando foi que eu descobri que era escritora. Não me lembro exatamente – mas o engraçado é que lembro de todas, todinhas as vezes em que descobri (ou inventei) que não era.

Nasci em família de leitores, com estantes cheias de livros. Me interessei por aquelas letrinhas tão cedo! Antes de saber escrever, lembro como eu me sentava na varanda do prédio e escrevia diários. Escrevia num alfabeto imaginário, uma coisa que parecia um vvvvvvvvvvvvvvv, mas que eu entendia muito bem.

Deve ter sido por isso que minha irmã de 8 anos decidiu me ensinar a ler e escrever de verdade – e aprendi direitinho, quando eu tinha 4 anos. Imagina, mal tinha aprendido a falar! Tão logo juntei as palavras de uma embalagem de longa vida (simbólico, talvez?) que estava na geladeira, descobri como fazer isso sozinha, agradeci minha irmã e saí juntando todas as outras palavras do mundo.

Com 7 anos, já tinha um diário (costume que levo até hoje). E tomava ditados dos meus coleguinhas de escola – o que nunca contribuiu para minha popularidade, mas aprendi a superar, usando o gosto pela leitura a meu favor.

Costumava ser a melhor aluna na aula de português – claro que só até o momento em que entramos nas teorias da gramática. Nunca fui pessoa de teoria, sempre fui mais apaixonada pela prática. E errava todas as análises sintáticas de frases – mas minhas frases eram impecáveis, mesmo eu não sabendo dizer se o que tinha acabado de escrever era um objeto direto ou indireto. Quando chegou literatura, no colegial, briguei com o professor, que ao final do período confessou que morria de medo de eu corrigir algum erro literário dele (afinal, ele era jornalista e conhecia mais de Marcelo Rubens Paiva que de Machado de Assis, um ultraje para a Francine adolescente, sempre uma fã dos clássicos).

Em 2001, uma coisa linda começou a acontecer. 2001 foi um ano muito importante pra minha vida – com 14 anos, me sentia alinhada ao universo. Foi quando me converti oficialmente e me batizei, a fase em que estive mais alinhada com tudo o que acredito até hoje. Foi quando aprendi a tocar piano. Algo muito cósmico acontecia naquela época. Foi, inclusive, quando o meu marido (até então, um desconhecido em algum lugar de Santos) abriu o site que foi a razão pela qual nos conhecemos.

Também foi quando uma vontade muito grande de escrever um livro nasceu. E comecei a escrevê-lo.

E 15 anos se passaram e eu não terminei.

E hoje eu entendo porquê. Hoje eu entendo que passei os últimos 15 anos fugindo de ser quem eu sou, de uma forma ou de outra. Nunca foi nada terrível, não é como se eu tivesse me perdido na vida – pelo contrário, eu estive incrivelmente achada. Uma carreira muito bacana como publicitária, depois o famoso “largou tudo para abrir seu próprio negócio” e todo o status de empreendedora criativa que vem com isso… mas nunca tive coragem de constatar o óbvio: não sou publicitária. Não sou empreendedora. Ou sou tudo isso… mas sou, acima de tudo, e no fundo de tudo, escritora.

Engraçado como a gente repara nessas coisas depois. Pela lógica da vida e da paixão pelas palavras, eu devia ter feito jornalismo e devia ter feito letras, mas decidi cursar publicidade. Porque se tinha uma coisa que amava tanto quanto escrever era “criar”, de um modo geral. E ainda amo. (Na realidade, como cristã, acredito que criação é a força mais poderosa que temos. Está ali, lado a lado com o amor [e é por isso que o poder de criar uma vida através do próprio amor é o maior presente que recebemos como seres vivos, na minha opinião] – e está nas nossas mãos. Acredito que criar nossas próprias vidas da melhor maneira possível é perpetuar a criação de Deus no universo… e coloquei isso tudo entre parênteses, porque seria assunto pra outro post, mas decidi juntar tudo). E entrei em publicidade tendo certeza de que queria criar, mas não queria ser redatora. Passei os 3 primeiros anos da faculdade dizendo pra quem quisesse ouvir que EU NÃO PASSARIA MADRUGADAS PENSANDO EM UM TÍTULO SENSACIONAL PARA UM ANÚNCIO, QUERIA CRIAR “DE FORMA GERAL”. Claro que esse pensamento um tanto generalista me rendeu uma certa dificuldade pra encontrar um emprego, mas consegui algo incrível e com esse perfil depois de tentar bastante. Trabalhei 1 ano com guerrilha, um tipo de propaganda que amava demais. Não era óbvio, não era uma chatice como quase toda propaganda é e a equipe era incrível.

Até que o departamento foi fechado e fomos todos para a rua.

E resolvi, a muito custo, virar redatora.

Tirei um portfólio da cartola, fui contratada em uma agência super incrível que estava começando e o resto é história. Passei praticamente 7 anos, entre idas e vindas, trabalhando com redação publicitária – que é um jeito um pouco besta, mas completamente legítimo, de ser escritora.

E assim fui escritora para várias marcas. Fui a escritora que contou a história de personagens como o Itaú, a Natura, Intimus, Huggies e muitos outros que nem me lembro mais.

E o meu livro continuava lá, tímido e lento, às vezes calado, mas quase sempre sendo escrito em horários de almoço espremidos enquanto estava na agência. Eu conseguia olhar pra ele e guardá-lo como meu tesourinho, minha garantia de que tudo podia dar errado, mas ele seria meu trunfo.

E meu blog, bem, a frequência com a qual atualizo meu blog é um excelente termômetro do quanto ando ou não alinhada com o que quero pra minha vida. Pois é, você já entendeu pra onde isso vai.

Até que não rolou mais. A vontade de criar algo novo, de fazer algo mais meu, veio com tudo. E veio sob a forma de um negócio novo, a Sras&amp;Srs, bebê lindo que já nem é mais tão bebê assim e do qual gosto muito. Ajudar casais a fazerem casamentos mais verdadeiros e menos cafonas e menos cheios “de requinte” (quem lê esse blog há anos saw that coming há muito tempo atrás, não?) é uma coisa incrível. Gosto muito de fazer isso.

Mas tem alguém me olhando lá de dentro da gaveta.

Que me diz que faz 6 meses que não conversamos. Nem no horário espremido no almoço, mais. Que me diz que sou uma traidora, porque a razão principal pela qual eu tinha largado meu emprego das 9h às 18h é porque ia parar de criar histórias para marcas e criar aquela história que quer sair de mim.

Porque na inexperiência de poder ter tudo, de poder fazer tudo, abracei tudo e esqueci de uma coisa, uma coisa simples: esqueci do que tinha que fazer.

Desde maio, estive trabalhando de domingo a domingo, sem parar, criando casamentos, sim, mas escrevendo não muito mais que os e-mails para clientes e fornecedores.

E embora criar casamentos dê um prazer danado, tinha algum ponto cego aqui dentro que se encontrava muito, muito contrariado.

Já faz algum tempo estou planejando uma desaceleração nessa loucura toda – e finalmente chegou outubro. E hoje, pela primeira vez em muito tempo, embora ainda tenha algumas coisas pra finalizar antes das férias chegarem oficialmente, consegui olhar pro relógio sem entrar em desespero e sem ter alguma coisa pra fazer.

Achei que quando essa hora chegasse, ia me afundar no cobertor e relaxar.

Não. Vim pra cá, escrever.

Porque estava com uma saudade danada do poder criador da palavra.

E mesmo sem saber onde queria chegar com esse texto todo, cheguei aqui. E não estou nem preocupada por ele ter saído tão grande e meio, até, manquinho. Porque mostra o quanto ele estava entalado aqui dentro.

Hoje, cheguei ao primeiro post oficial das minhas férias – mesmo antes de elas chegarem oficialmente. E estou muito feliz.

Porque dia 27/10 começará a viagem em que vou terminar de escrever meu livro. Porque acho que a gente pode agradecer quando está realizando um sonho (mesmo tendo demorado um pouco pra entender que era o que estava acontecendo). Porque sempre achei incrível pessoas que saíam de viagem para terminar de escrever um livro. Lia ou ouvia isso e pensava “é o que quero pra minha vida”. E, sem querer, acabei fazendo isso.

Minha ideia é atualizar esse blog com frequência durante a viagem – mas se eu não o fizer, a razão é boa – vai querer dizer que a família Zaspargo, o Pedro, a Greta, o Gregório e a Daphne estarão voltando à vida e verão um ponto final, finalmente.

Obrigada pelo dom de gostar de escrever, devo tudo a e(E)le.

🙂

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O que é casamento?

AlexNoriega06

Faz menos de 1 ano que saí da agência pra trabalhar com casamentos. Parecem 10 anos. No começo, achei maluquice – nunca tinha pensado em abrir um negócio, muito menos um negócio que pareceu brotar tão do nada – eu, escritora, publicitária, designer de ideias, trabalhar com casamento? De onde veio isso?

Até que descobri que veio da minha vida inteira acreditando na instituição do casamento e odiando as festas de casamento em que ia – que se esqueciam completamente do real motivo do casamento. Veio do meu sonho em me casar, que era um sonho muito presente (até demais). Veio de ser uma romântica incurável, mas à minha maneira peculiar – sempre fui de um romantismo sem cavalo branco. Um romantismo do dia a dia, das coisinhas, do amor que não vem com drama.

Demorou pra perceber isso. Mas essa semana, em que, além, de poder dizer que a Sras&Srs floresceu e entrou nos trilhos oficialmente, completei 2 anos de casada, deixou muito claro o que é casamento, pra mim.

Casamento é você combinar de comemorar seus 2 anos de casados de várias maneiras diferentes E TODAS ELAS SEREM ESTRAGADAS COMPLETAMENTE por razões além do seu alcance – e você e seu marido, em vez de brigarem, desistirem ou resmungarem, rirem de todas elas. E, mais ainda: o plano B se mostrar melhor do que o plano A, invariavelmente.

Senão, veja: nossa primeira comemoração seria tomar um brunch exclusivo numa sala fechada só pra nós dois num café relativamente chique aqui de São Paulo no sábado, a Brigadeiros by Cousins, antes do dia do aniversário. Um brunch caro (180 reais por cabeça, magina, nem o Barbacoa custa isso), mas que estávamos dispostos a provar porque somos loucos.

Quando já estávamos à caminho do café, o dono me ligou avisando que a chef ficara doente e (curiosamente, um brunch de 180 reais não tem um plano B! WAT – nem preciso desrecomendar, né?) nosso brunch estava cancelado.

Desanimados, mas não derrotados, acabamos comendo um pão na chapa numa padaria no caminho. O melhor pão na chapa que comi na vida.

A próxima celebração seria na própria terça feira, dia do nosso aniversário. Tem um restaurante italiano que até já mencionei aqui, o Millesapori. Amo. A comida é boa, mas o legal mesmo é o dono dele, que é o cara mais divertido e simpático do mundo. Certa vez, levei o marido pra comer lá no aniversário dele e ganhamos até parabéns pra você em italiano e uma oração, ou algo parecido. <3 O restaurante não é perto de casa, então pegamos um Uber Pool, que demorou 435 horas para chegar lá. Ao chegarmos, a descoberta: o dono se aposentou há 1 ano. Hoje, quem atende é o filho dele, que também é simpático… mas parte da magia do restaurante legal se perdeu.

Derrotados, mas não desanimados, decidimos voltar pra casa. Tínhamos uma terceira etapa de celebração – íamos conhecer um lugar novo também longe de casa, mas ouvimos nossa intuição e cancelamos essa etapa. Chega de dar sopa pro azar.

Vale dizer também que, é claro, minha ideia era não trabalhar na terça feira, afinal sou dona do meu próprio nariz e pela primeira vez eu poderia fazer isso. Vale dizer que é claro que não fiz, porque a vida.

Oito horas da noite, cansados, mas ainda apaixonados, depois de negociar se iríamos descongelar o tupperware de estrogonofe que descansava solitário no freezer ou tentar uma última intifada pedindo o delivery do Mercearia do Francês – só para descobrir que esse delivery não funciona mais – acabamos por pedir uma pizza de 30 reais. E nos entregamos para o destino.

Numa última tentativa de sermos chiques e românticos, abrimos um vinho que estava na geladeira aqui de casa. Ele se mostrou um dos piores vinhos que já tomamos na vida.

E foi comendo pizza de 30 reais e tomando um vinho ruim em copo de champignon embaixo do edredom, assistindo a Brooklin Nine-Nine, que olhei para meu marido e pensei, feliz da vida: isso é casamento.

E eu não trocaria isso por nada desse mundo. 🙂

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Planos não viram realidade. Sonhos viram.

Não sei bem se fui eu que cunhei essa frase, mas tenho a impressão de que sim, ainda mais depois de ter dado um rápido Google e não encontrado ela por aí. Pois bem. Estou aqui pra avisar que meu livro está a muito pouco de ser terminado. E que estou dando início a uma nova rotina, com marido em casa fazendo café da manhã pra nós e o palito de fósforo e a caixinha na mão para virar aquela figura que sempre sofreu meu preconceito, mas que venho descobrindo que faz todo o sentido no mundo de hoje, com o capitalismo morrendo e um monte de oportunidades pra explorar: uma nômade digital.

Eu tenho mais trocentas e uma coisas pra falar, mas digitei uns 3 parágrafos que não soaram bem, o que quer dizer que as coisas ainda não estão pensadas o suficiente. O que me deixa extremamente feliz. Prefiro coisas sentidas.

Vêm novidades por aí. E por aqui também. Uma delas é que quero postar mais fotos minhas e de minhas aventuras diárias por aqui. Vamos ver se minha nova rotina comportará isso.

Paris (458)

Gosto dessa foto porque estou parecendo uns 10 anos mais velha, com um cabelo horroroso, no meu pior ângulo… mas com cara da mulher que imaginei ser. É isso, por hoje!

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Mindfulness, leitura e a mesa do jantar

Apenas um pensamento que me acometeu hoje, enquanto lia um texto interessante e, no meio da leitura, já pensava se valia a pena compartilhá-lo ou não.

Não sei se é alguma coisa que acontece só comigo, ou se vem acontecendo com vocês, também. Hoje percebi claramente que há tempos não vejo (especialmente leio) coisas na internet da maneira como lia antigamente. Agora, em todo e qualquer texto, eu me pego, a dois ou três parágrafos dele, já pensando: “que texto interessante! Onde vou compartilhar?”.

Aconteceu mais ou menos assim: era um texto no blog da Bust, uma revista feminista que eu assino há anos (sou feminista antes de ser moda novamente, hehe), que falava sobre como as capas de muitos livros hoje em dia são sexistas e por aí afora. Lendo o texto, estava achando bacana a essência do que foi falado ali (queria compartilhar em algum lugar – em questão de segundos minha mente checava se era um texto bom para ser compartilhado aqui, no Facebook, no Twitter, no Whatsapp ou no Skype para uma amiga que gosta do tema)… mas fui percebendo que alguns argumentos da autora eram ruins (aí já fiquei imaginando como eu iria escrever um textinho falando para as pessoas que porventura vissem meu compartilhamento, algo como VEJA BEM EU NÃO CONCORDO COM TUDO O QUE ELA DISSE etc). E pronto. Alguém me diz se eu estava realmente lendo o texto enquanto pensava em tudo isso? No final, minha conclusão foi que não valia a pena compartilhar o texto e que era o tipo de coisa legal para ser discutida na mesa de jantar com meu marido.

Quando pensei nessa terceira opção, percebi que loucura essa mania de querer compartilhar, mostrar, dizer. Que antigamente (e nem tão antigamente assim!), quando eu lia alguma coisa interessante, antes de sentir essa necessidade de encaminhá-la imediatamente e pendurá-la por aí como um poster-de-mim-mesma, eu digeria o assunto e o guardava lá até o momento em que fosse encontrar alguém legal para discutir sobre ele. Na mesa do jantar, na cama antes de dormir, no bar…

Enfim, não acho que isso seja o apocalipse e sei o valor do compartilhamento de informação. E não, esse texto não quer conclamar o óbvio do “AS PESSOAS NEM LEEM MAIS E COMPARTILHAM SÓ A MANCHETE”. Isso aí é fato sabido. O que me bateu hoje foi a aflição de ler um texto, sim, completo e direitinho, mas com o cérebro metade no texto, metade no VOU COMPARTILHAR.

O pior? Mesmo lendo revistas e livros me pego de vez em quando querendo tirar fotos de trechos pra publicar no instagram. Pra mim, não existe mais leitura solitária, sem necessidade de aprovação ou de mostrar pro mundo o-que-sou.

Decidi, então, começar a exercitar mais a atenção plena na leitura.

Ee se você já está pensando em compartilhar esse texto, talvez você precise disso também. 😀

 

Um dia quem sabe nos encontramos numa mesa de jantar e discutimos mais esse assunto pessoalmente.

olha quanta gente arranjando assunto para o jantar.

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Hoje eu ia ficar quieta

Porque passei os últimos anos não tocando nesse assunto, porque “política não é pra mim” e não gosto de discursos de ódio. Mas eu decidi vazar minha própria visão, já que tanta coisa vazou e veio me mostrar que as coisas às vezes são menos em tons de cinza do que parecem. Ah, a escala de cinza, “mas veja bem, todo mundo tem mais que dois lados”, mas quanta gente tende a ficar num lado só. E aí a coisa fica preta.

Durante todo esse tempo (antes dessa semana), eu dizia que queria ser uma mosquinha pra ouvir os diálogos de Dilma porque eu não gosto de polarizações. Queria entender a motivação, a sinceridade, a verdade de tanta teimosia pra não abrir o diálogo. Ficava pensando o quanto ela devia estar sofrendo com essa pressão toda. Que não era fácil pra ela, que era tudo exagero. Até que essas divulgações de áudio (e não vou entrar no mérito da validade delas ou não, estou falando do conteúdo e não da forma) saíram e todos conseguimos virar mosquinhas.

Fiquei uns dois dias sem palavras. A verdade é que fiquei estarrecida, e olha que não sou de usar essa palavra à toa, não. Sou redatora e escolho bem as palavras. Talvez tenha sido por isso que foram as palavras que me chocaram. Não, não foram as denúncias de corrupção econômica. As manobras políticas me incomodaram muito, mas acho que é o preço que se paga por viver em uma sociedade. Foram as palavras.

Não sei o quanto eu espero o melhor das pessoas – e acho que é isso que pega pra mim, ver que nem sempre o melhor é fácil de encontrar – mas eu juro que acreditava em um corpo político que se expressasse com menos ódio. Menos risada de escárnio, menos palavrão, menos descaso. Mais preocupação com o povo. Com o povo, sem distinção de rico, pobre ou qualquer outra coisa, porque já conheci bem os dois lados e sei que na prática é tudo gente.

Sempre achei que expressões como “coxinha” e”tucanos” eram tão estúpidas quanto “petralhas”. E que era coisa de grupo de whatsapp, daquele seu amigo meio mala, no máximo de imprensa meio atrapalhada.

Mas descobrir que o discurso de ódio vem de cima me chocou. De todas as ligações políticas que vazaram, a que mais me atingiu foi a menos política, por isso a mais sincera. Foi ouvir o diálogo da ex primeira “dama” (sic) rindo desses “pobres que não conseguem comprar apartamento em São Paulo” (e ouvi tanta gente dizendo que tinha votado na reeleição por causa da camada mais pobre, acreditando em uma preocupação social bonita e não uma preocupação em ganhar o poder*). E usando a expressão coxinha a torto e a direito.

Coxinha. Mas que palavra. Porque se é pra nos atermos às palavras, posso ir longe. Vamos falar sobre a coxinha. Uma comida simples, que nivela todo brasileiro. Porque tem coxinha de boteco e tem coxinha gourmet e é tudo coxinha. Tem coxinha em casamento de buffet chique e casamento de quintal. Se você quer mostrar o que é o Brasil pra alguém, você apresenta ele pra quê? Brigadeiro, guaraná… e coxinha.

Coxinha é Brasil. E é uma comida bem inofensiva, mas se você engolir muita coxinha, ah, isso vai dar um mal estar danado.

 

*lembrei de uma época em que trabalhei em uma ONG. Toda caridosa, queria ajudar os pobres, mas não gostava muito de pobre não, gostava mais era do poder que isso dava pra ela. Cansei de ver as pessoas que trabalhavam ali desligarem o telefone morrendo de rir porque a pessoa “incapacitada” do outro lado tinha falado “pobrema”, ou estava com dificuldade de entender alguma coisa.

 

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