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Um post sobre banheiros.

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Bem, eu… (mais ou menos como começa aquela propaganda HORROROSA do Spotify – sério que tenho vontade de assinar o premium só para parar de ouvir anúncios tão malfeitos) eu me orgulho em dizer que sou uma crítica de banheiros.

Quando viajo ou vou conhecer um lugar novo, adoro ver qualé a do banheiro. Entender as diferenças culturais, a existência ou não de lixos, o tipo de sabonete, os costumes. Devo dizer que poucos lugares do mundo têm banheiros tão limpos e confortáveis quanto os do Estado de São Paulo (amém!). Acho interessante como, em muitos países, mesmo restaurantes chiques não se importam com a situação de seus banheiros e como banheiros simples são bem cuidados por aqui.

Isso em mente, fico pessoalmente ofendida quando vou a um banheiro mal usado. Xixi no assento, descarga não dada, cestinho de lixo com papel saindo pelos cantos. De fato, pensando que não é possível mulheres de alta classe e compreensão cultural (parece que quanto mais chique o shopping, mais nojento o banheiro) não terem a noção básica de boas maneiras toaléticas, e pensando que um dos principais causadores de tal balbúrdia no banheiro feminino é a impressão errada de que é proibido sentar em vasos públicos (explico abaixo), decidi criar um guia sobre o uso correto de banheiro públicos no Brasil (no Brasil, porque fora dele é um tal de não ter cestinho de papel e loucuras afins, que prefiro não me comprometer). É o guia que vou pendurar na porta do banheiro quando eu tiver filhas, em busca de um mundo mais cheiroso e polido, um vaso sanitário por vez.

  1. Escolhendo o banheiro: tome tempo. Não precisa entrar na primeira cabine que viu. Entre em uma cabine que esteja com a tampa aberta. Se não houver uma que siga esse perfil, antes de abrir a tampa dê descarga. Assim você não precisa sofrer com surpresas desnecessárias.
  2. Talvez esse seja o item mais polêmico: eu sou contra o xixi-agachamento, que fortalece as pernas, mas não ajuda em nada na higiene como um todo. Portanto, dividi essa parte em subtópicos.
    1. Se você tiver um nojo mortal do banheiro em que está indo ou tiver medo de pegar alguma doença bizarra nele, aí talvez seja o caso de rever os lugares que você frequenta. Se não for esse o caso, então para de frescura. Você sobrevive.
    2. Dê uma olhada geral no assento. Normalmente, ele vai ter xixi. Sim, desculpe a escatologia, mas é verdade. E esses xixis são culpa das adeptas do xixi-agachamento, que perdem a assertividade, a mira e a paciência nessa posição desconfortável, querendo se livrar logo de seu problema e esquecendo de suas amigas que vão usar o banheiro depois delas. Como se livrar dessa nojeira? Passando um papel no assento. Sim, simples assim. Passa um papel no assento, joga fora e senta, confortável e limpinha.
    3. Não tem papel? Nem nesse banheiro, nem em outros, nem na sua bolsa, nem fora do banheiro? Aí sim, AÍ SIM EU DEIXO, você vai ter que fazer o xixi-agachamento. Mas faça como uma lady: levante o assento (não se preocupe, você vai lavar a mão depois, né?) e faça o xixi-agachamento sem correr o risco de sujar ainda mais o assento.
  3. Acabou? Faça o que tem que fazer (acho que não preciso entrar nesse detalhe) e coloque o papel no lixo. Não, não estou falando pra você jogar o papel no lixo. COLOQUE o papel no lixo. Não se preocupe, você não vai sujar sua mão porque você vai entrar em contato apenas com a parte limpa do seu papel – use seu papel para empurrar o conteúdo do cesto de lixo, não contribuindo, assim, para que o lixo transborde. Se ele já estiver transbordando, esse hábito vai ser bom da mesma maneira. Se ele já estiver transbordado de maneira nojenta e seu detrito for apenas papel, é melhor jogar o papel na privada e pronto.
  4. Não dê descarga. Achou que seria fácil assim? Antes de dar a descarga, FECHE A TAMPA DA DESGRAÇADA DA PRIVADA. Depois, aí sim, evitando que todo seu cuidado vá por água abaixo e que a descarga desconhecida espirre por todos os lados, dê descarga.
  5.  Aí, abra a tampa novamente (a não ser que você esteja em sua casa, aí super indico deixar fechada, acho mais arrumadinho), para que outras usuárias entrem e não precisem sofrer no passo 1 dessa regra.
  6. Por fim, antes de sair, confira se você deixou alguma sujeira – e isso vale para sujeiras suas ou de outras usuárias porquinhas antes de você. Limpe o assento novamente com o papel, se for o caso, tire papéis do chão, se possível.
  7. Lave as mãos com sabonete – e se não tiver sabão, lave com muita água (e carregue um trequinho de álcool gel na bolsa).
  8. Sobre enxugar as mãos, fica a dica de sempre: papel suficiente para secar as mãos (e um papel para tirar o excesso de oleosidade do nariz, coisa minha), jogados no lixo junto a qualquer resto de sua presença ali (resto de pasta de dente, maquiagem, cabelo etc.). Não use aqueles secadores de vento porque eles demoram e são chatos – e por mais agradável que seja o banheiro público, você não quer passar 15 minutos a mais por ali.

É isso. Um post de utilidade sanitária pública, baseado exclusivamente em minha vivência. Do jeito que tem que ser. 😀 Também tem alguma técnica-ninja de boas maneiras no banheiro e quer dividir comigo? Está super convidado(a)!

 

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Uma poesia para o meu nariz e as missões para um ano agradável

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Nariz pequenino, muito tem de menino.

Jamais lhe escreveria uma poesia, não teria a ousadia.

Mas hoje olhei para o meu nariz e deixei de diz-que-me-diz.

Encarei a questão de frente e percebi o quanto ele é diferente.

Meu nariz é uma coisinha sem pé nem cabeça, muito tem de inusitado.

Por isso dedico esta ode a quem sempre sonhou com um nariz arrebitado.

Mas não sabe a bipolaridade visual que é ser dona de tal paradoxo nasal.

Fiz esses versos horrorosos sem métrica e sem rima como que para provar para mim e para o mundo que não sei escrever  E NÃO GOSTO de poesia etc.

Mas foi para finalmente falar pra vocês (leitores inexistentes ou quietinhos etc.) do projeto que comecei junto com o Julio esse ano – já faz mais de 1 mês, então estou um pouquinho atrasada pra falar.

É o Um Ano Agradável, uma fanpage e um Instagram com 366 missões para fazer de 2016 um ano legal de se viver!

Explico:

Eu sempre fui fã de agendas, de missões e de tudo o que nos ajude a tentar viver menos no automático, de maneira mais criativa e inspiradora (não é à toa, esse tenta ser meu objetivo aqui no blog). E há muitos anos atrás (talvez uns 5), eu criei essas missões, cuja principal missão é mandar a rotina embora, seja com tarefas simples e abstratas, seja com tarefas mais complexas e práticas (como a da poesia para o nariz supracitada).

Daí que elas ficaram rolando de um computador para outro em um arquivo Word nunca ou poucas vezes aberto. Eu não sabia o que fazer com essas missões. Nesses anos, encontrei amigos designers e ilustradores que me prometeram que iam me ajudar a ilustrar essas missões, mas imagino que meu Word esteja rolando nos computadores deles até hoje. Precisei casar e ver que meu marido estava ansioso para fazer um projeto novo, mas não encontrava como nem onde, para resgatar minhas esquecidas missões.

Foi a combinação perfeita: o Julio já tinha um personagem, o Lorde O’Ganson, uma fofura cheia de classe, e queria pegar a prática e o hábito de desenhar mais. Eu queria inspirar o mundo com minhas missões engavetadas, mas não encontrava como fazer isso (e, honestamente, tinha até me esquecido delas). Eu reescrevi e reordenei as missões (além de acrescentar mais uma, afinal estamos num ano bissexto) e lançamos o projeto no começo do ano.

Está sendo divertido acordar toda manhã, ver qual é a missão do dia e tentar cumpri-la. É muito legal ver como coisinhas simples podem mudar completamente seu propósito e sua rotina.

E, em paralelo, continuo seguindo com minha consultoria criativa especializada em casamentos alternativos, a Sras&Srs, pegando alguns freelas de redação e conteúdo e escrevendo meu livro.

E cozinhando, e fazendo crossfit, e indo à igreja, e tocando órgão em casa (esses dias desengavetei vários métodos musicais que eu não tocava há uns bons 10 anos). Parei de dançar, mas é que a vida é feita de escolhas.

E eu amo a vida, um dia agradável por vez! Abaixo, mais missões que já rolaram no Ano Agradável:

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As repetições de todos os dias são lindas

Estou aqui com uma lista de 5 temas de posts pra dividir com vocês. Com uma vontade danada de mudar o layout desse blog. Neste exato momento, escrevendo meu livro (aquele que vai completar 15 anos de idade no dia 19). Mas essa frase me veio à mente e abriu alas, até pra me lembrar que posts curtos são legais, também.

Acontece que decidi por uma vida mais saudável. Sim, é muito bonitinho e fácil gostar de fast food e brincar que salada não leva a nada, o que me salva é que amo academia, mas mesmo ela tem sido deixada de lado a qualquer sinal de ai-hoje-não, mas quando você pensa na VIDA como um todo, poxa vida. Eventualmente, quero ser o lar de um bebê em formação (é esquisito falar isso e acho que não ficará menos esquisito quando eu realmente o for) e depois oferecer meu lar-casa para esse bebê que vai virar uma criança que quero que seja saudável e que reconheça diferentes frutas, verduras e legumes etc. E pedir pizza sempre que a preguiça aperta não pode ser uma opção (eu não quero). Aí que decidi ser mais disciplinada pra comer. Porque não sou. Porque não consigo ir a uma nutricionista e seguir o que ela fala. Porque as únicas vezes em que consigo comer direito foram as vezes em que comprei aqueles kits maravilhosos (de verdade!) de dieta da Keep Light, mas investir 500 reais por semana nessa fase de vida autônoma-não-assalariada não rola. E porque eu fico me enganando, achando que vou mudar isso e aquilo, só pra apelar para o delivery logo em seguida.

Pois bem. Criei um cardápio variado, mas seguindo aquelas coisas que pessoas inteligentes sempre falam: proteína, carboidrato, salada. O que me mata é a repetição, porque eu gosto do caos.

Mas fico me repetindo a frase do título do post. Essa frase sobre repetição que eu também gosto.

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Muitas agendas!

Eu amo agendas, diários e calendários. É aquela sensação gostosa de ver tudo começando em branco em mais um ano e terminá-lo com tudo rabiscado e, em parte, cumprido! O legal é que eu gosto tanto que vou comprando e sempre tenho um estoque de agendas e diários para os anos seguintes. Ontem passei na festinha que a Silvia Strass fez para lançar o projeto dela que foi financiado no Partio! Adivinha: mais uma agenda, mas com uma proposta super bonita e divertida.

Fiquei muito feliz de ver coisas dando certo e muita gente disposta a fazer sonhos acontecerem.

Estou aqui, com mil agendas, uns diários e alguns calendários pra escolher como começar meu 2016. E quero começar muito agradecida e otimista! Por pior que as coisas lá fora nas páginas do jornal queiram brincar de ser. Elas sempre querem ser piores, mas elas não estão com nada!

Beijos e tenham um ótimo final de ano. Devo voltar aqui até dia 31!

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Eu queria agradecer o meu misterioso vizinho

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Há pouco mais de 1 semana achei estranho ouvir sinos perto de casa. Digo, moro no Centro de São Paulo e a igreja católica mais próxima fica longe o suficiente para eu não conseguir ouvir seus badalos. E, apesar de não ser católica e nem entender o que badalos de sinos querem dizer, sou encantada com esse som. Me dá aquela sensação de saudades do que nunca vivi, sabe? Parece que estou numa cidade do interior, parece um abraço. Parece um ritual de todo dia, badalando as coisas constantes da vida.

Pois bem. Ao ouvir aqueles sinos, eu e meu marido ficamos nos perguntando se tinham aberto uma igreja católica nova aqui perto (sei lá, nunca vi isso, mas vai quê, o Papa novo é legal etc.), até que dias depois percebi a verdade: algum vizinho meu realizou meu sonho por mim. ALGUÉM AQUI PERTO COMPROU UM RELÓGIO DE CARRILHÃO PRA MIM. Digo, não comprou pra mim, imagino que tenha sido pra ele, mas eu ouço todos os badalos em horas cheias e fico feliz porque sei que elas badalam pra mim também!

Melhor? Às 18h em ponto ele toca Ave Maria. O único lugar em que via isso acontecer era a praça de Águas de Lindoia, que também conta com uma fonte sonorizada (e de repente me deu a maior saudades de ir pra lá). Melhor ainda? 18h é o horário em que termina meu expediente aqui no meu home office. E agora tenho um despertador pontual e sagrado para me lembrar de que a vida real começou. 🙂

Caso você não conheça um relógio de carrilhão (que triste sua vida deve ter sido até agora), conheça já:

Não sei quem fez essa escolha, mas me dá uma vontade danada de bater de porta em porta aqui no prédio, para descobrir quem fez essa escolha tão acertada na vida e agradecer. Abraço, vizinho de bom gosto!

E deixem estar, que quando eu for uma milionária excêntrica terei uma coleção desses relógios!

Ah sim, a foto que ilustra esse post é o relógio do meu avô. <3

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Falando para as moscas

E moscas não comentam, apenas olham para você com uma inconfundível cara de mosca morta.

Às vezes vocês também sentem que perderam o bonde da blogagem? Que seu blog era um relativo sucesso no início dos anos 2000, mas quem se importa, o bug do milênio também era um tremendo sucesso e ninguém nunca mais falou nele? E que agora você continua escrevendo só porque gosta muito dessa coisarada toda de palavras e sentenças jogadas para o mundo pelos seus dedos?

Tantos pontos de interrogação e nenhuma respostinha. Deixem estar, leitores invisíveis. Vocês podem não me dizer nada hoje, mas o tempo dirá.

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Tempo, esse senhor tagarela e um pouco fofoqueiro.

 

 

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A vida vai pro livro e ele devolve de maneiras maravilhosas

Coisas ruins acontecem na vida. Adoraria que fosse tudo algodão doce, unicórnios e pinhatas estrategicamente localizadas nos cantos mais tediosos, cheias de balinhas de chocolate e bençãos. Quer dizer, acredito nas pinhatas estrategicamente localizadas, mas tem vezes em que não as enxergamos e é isso. Infelizmente, às vezes têm coisas horrorosas que pulam na gente saídas do nada e nos afogamos nelas sem entender bem o que estamos fazendo.

Digo isso porque na minha vida coisas assim aconteceram. E tem coisa horrorosa que é que nem teia de aranha. Parece que quanto mais você tenta melhorar, se salvar e mexer, mais a teia prende. Sair dessa teia precisa de muita… não sei dizer muita o quê. Força de vontade, epifania, fé ou apenas uma oportunidade bem explorada? Não sei. Depende de qual é a sua teia e como ela foi feita. Mas se tem uma coisa em comum entre as teias é que fica também aquela impressão de que foi você que se lançou na teia, pra começo de conversa, e aquela sensação de COMO FOI QUE FIZ ISSO, ESSE NÃO SOU EU, uma frasezinha que imprime no seu cérebro como uma tatuagem e acende e queima. Eu já passei por isso, talvez você também. Quer dizer, espero que você não, mas eu acho que em certa medida todo mundo já passou por isso na vida. Pode ser um ISSO tenebroso ou um ISSINHO, digamos, como por exemplo, quebrar um vaso caro na casa de seus pais quando você é criança.

Enfim, por que estou falando isso? Porque há 1 ano, mais ou menos, decidi voltar à terapia pra me livrar de vez de quaisquer resquícios de teias interiores e estou mais feliz que nunca. Não vou entrar em detalhes sobre fatos (porque sou escritora, e escritores transformam sentimentos em metafóricas borboletas, é isso que fazemos), mas vou tentar ajudar um pouco com minha opinião sobre como lidar com teias do passado. Pela minha experiência pessoal, como disse acima, a primeira resposta automática é acender a tatuagem mental e se culpar: como disse lá em cima, POR QUE, COMO, ONDE, O QUE EU ESTAVA PENSANDO? EU ISSO, EU AQUILO, E SE? Depois que passa essa sensação (que pode durar horas ou anos), você evolui mentalmente, percebe que virou o dono da razão (oh não) e decide culpar qualquer outra coisa que aparecer na sua frente: a aranha, a sociedade, alguma faxineira metafórica que não fez seu serviço direito… a verdade é que conheço muita gente que parou nessa segunda sensação. E estou pra ver geração pior que a minha pra lidar com ela: porque aprendemos que nos culpar não é saudável e nem correto. Até aí, parabéns, tarefa bem feita. Acho ótimo. Mas culpar os outros é a nova moda. Mais legal ainda: culpar a sociedade, essa senhora tão austera quanto genérica e inexistente. Essa tem sido a escolha mais pedida.

Pois é. Foi o que escolhi por um tempo. Depois de apagar a tatuagem mental, passei uns tempos culpando esse ser etéreo (ah, sua aranha nojenta e horrorosa) e me revoltando. Só para perceber, depois de alguns quase-ataques de pânico no transporte público, que essa também não era a melhor solução. Ela pareceu confortável até eu perceber que estava era criando uma nova teinha, dessa vez feita por mim mesma, que me deixava desconfortável pra caramba. Não, culpar o que quer que seja não era DE LONGE  a melhor solução. Culpa é o pensamento mais fácil, não é? Uma catástrofe acontece e já buscamos os culpados. Acontece que em pouquíssimos casos existe um culpado, em outros o buraco é mais embaixo e na grande maioria nem mesmo existe um culpado. Existe responsabilidade e existe – e vou dizer mesmo que vocês achem feio – existe perdão. Me perdoem por usar uma expressão tão fora de moda em um mundo com perdões tão seletivos, mas sim, ele existe.

E se posso ajudar de algum jeito, baseada em minha própria experiência pessoal com teias de aranha, enquanto você culpar a si mesmo ou culpar a aranha ou o que quer que esteja culpando, a teia não vai embora. E em vez de você melhorar, a cada comentário que você faz cheio de rancor xingando as teias do planeta, mais você se apega a essa teia que hoje nem existe mais. Você saiu da teia, tem que sair cem por cento e aproveitar essa oportunidade, aproveitar o mundo lá fora. E pegar uma vassoura. E em vez de usar essa vassoura para bater, recomendo usar para varrer as teias, as suas e as dos outros. Por que sabe o que bater gera? Mais aranhas. Que vão ficar com raiva da sua raiva, e só de raiva vão gerar mais teias. E apesar de você ter aprendido a lição e estar ileso às teias (será?), outras pessoas podem se prejudicar por causa dessas aranhas e teias que tanto rancor gera, eventualmente. Se tenho uma sugestão é: aproveita que você saiu dela, assume sua responsabilidade como sobrevivente e usa essa vassoura pra varrer. Com um sorriso no rosto e trabalho duro e não o trabalho fácil de falar mal das aranhas do mundo.

Por que decidi escrever sobre isso? Pra terminar um raciocínio que comecei no meu livro hoje. A verdade é que há anos planejo uma cena de um personagem caindo num abismo sem fundo (sim, meu livro é uma fantasia, em que esse tipo de coisas existe fisicamente e não apenas mentalmente). Mas, uma vez escrita, essa parte da história nunca tinha me convencido cem por cento, estava meio sem graça, sem emoção, fácil. Hoje, decidi dar mais atenção para essa cena. Mais ou menos como ando dando atenção nas sessões de terapia, ultimamente. E acho que consegui deixar ela senão perfeita, pelo menos mais sincera. Ela ficou mais ou menos assim:

Os pensamentos de Sandro continuavam caindo com ele, em cima dele. Não se lembrava de algum par de mãos ou vareta ou o que quer que fosse empurrando sua força de vontade para o Abismo sem Fundo. Então era ele que tinha se jogado? Mas que diacho. O que o fizera fazer aquilo? Será que seu cérebro ruivo era tão frágil que não aguentava comentários malcolocados? Especialmente quando eram comentários malcolocados sobre a inexistência súbita de sua mãe? Mas ele já não tinha ouvido o suficiente, lido o suficiente nas redes sociais por aí? Já não tinha sobrevivido a cerca de mil quinhentos e oitenta comentários sutilmente maldosos e duas mil e oitenta sugestões feitas de bom coração, mas tão tortas quanto os comentários maldosos, porque fingiam que não o eram? Não, nunca se ouve o suficiente quando você não tapa os ouvidos para sempre. Ele sabia que era algo por aí. Nas três vezes e meia em que tentara fazer terapia, Sandro chegou a olhar para esse novelo da sua cabeça, um dentre muitos, mas era um novelo tão felpudo e bonitinho, e estava tão bem encaixado ali dentro, que ele não tinha coragem de puxar o primeiro fio – para falar a verdade, não conseguia nem encontrar a ponta.

E, leitor, você sabe como são os novelos dentro da cabeça.

Foi mais ou menos quando já estava a mais de dez mil milhas (milhas são mais chiques que quilômetros, e não me faça começar a tentar explicar o sistema de medidas willifillenses) que Sandro percebeu que voltar não era uma opção. Olhar para cima só servia para lhe dar noção da velocidade com que caía, olhar para baixo era olhar para o impossível. Terrestres terrenos não são feitos de fibras suficientes para encarar o infinito com razão. Quando o fazem, uns inventam, outros descobrem, depois criam semânticas que viram guerras. O segredo para encarar o infinito, e esse é um segredo valioso que divido com você porque se você chegou até aqui comigo é porque é curioso o suficiente, e vai que algum dia na sua vida você acabe indo parar numa situação análoga a de Sandro Zaspargo, a gente nunca sabe. O segredo não é encarar de cabeça aberta, como muitos pensam. O segredo é encarar de peito aberto e sorriso também. E aí tudo se assenta, o infinito e o terreno.

Mas Sandro não conhecia esse segredo. E antes de inventar, antes de descobrir, antes de pensar se ia de peito ou de cabeça, antes de qualquer coisa, entrou em verdadeiro pânico, e esse foi o destino de Sandro. Quero dizer, o destino de Sandro foi continuar indo para baixo, porque não havia muito o que se fazer. E como quem se afoga, talvez pior que quem se afoga, quanto mais ele tentava ir para cima, quanto mais pensava em sacudir braços e pernas em busca de alguma superfície, mais ia para baixo. Willifill não era muito bom em gravidade, mas quando decidia ser, ah, era bem grave.

Dizem que quando estamos prestes a morrer, um flashback de nossa vida inteira passa diante de nós. Uma maneira de ocupar a cabeça com pensamentos do passado, num momento em que o futuro está mais nebuloso que fabuloso, deve ser. Acontece que na posição de Sandro, não havia flashback. Porque ele não estava prestes a morrer. Ao menos não tão preste assim. Sabia que eventualmente, não desfalecendo devido à queda, poderia sofrer fome, tédio ou qualquer coisa pior. Nessas horas, coisas bem frugais passam por nossa cabeça, também, como por exemplo o que fazer quando bater a vontade de ir ao banheiro, ou como seria interessante ter um celular no bolso para fotografar esse momento único, e não digo que Sandro não pensou nestas duas coisas com bastante desânimo.

E naquela mente em que flashback nenhum passava, a sensação de impotência era pior que tudo. E junto a ela, pensamentos bem desinteressantes começavam a se aboletar por ali. Como por exemplo “o que foi que eu fiz?”. Como por exemplo “será que alguém vai mesmo sentir minha falta?”. Ou então “se eu sair daqui, será que alguém vai mesmo me perdoar?”. Afinal, prosseguia a mente de Sandro, chegar em Willifill tinha sido um capricho de sua parte. Ninguém o obrigara a fazer aquilo, e ele, um adolescente já feito, não era assim tão ingênuo. Sabia dos perigos e eventuais desventuras que poderiam surgir de uma aventura daquelas. Afinal, a vida já não havia lhe ensinado que tudo o que parece bom demais geralmente não é? E que esse negócio de usar a imaginação e lutar por ela, e, por todos os céus, essa coisa de sonhar, não ia levar ele a lugar algum? Ele sabia que o futuro de verdade, seu destino como platanense naturalizado pouco a pouco paulistano e como humano não era viver naquele mundo frumez em que tudo plantava bananeira e as imaginações corriam soltas (para o bem ou para o mal). Ele sabia que sua missão era crescer para virar seu pai, seu engravatado e… e quem ele queria enganar? E covarde pai. Era tudo aquilo que rolava mente abaixo em Sandro. E mais um pouco. E ele não percebia mais o que era e o que não era, porque chega uma hora em que a mente mente – e você sabe que mente.

E Sandro caía.

O que vai acontecer com Sandro? Vai continuar caindo ou vai dar um jeito de voltar pra terra firme? E uma vez em terra firme, como vai lidar com a sensação pós-Abismo? A resposta que tenho pra hoje é que meu livro é como minha vida. E aqui sou eu que escolho.

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Uma parminha pra cá

Pra ler ouvindo isso aqui:

Não vou mentir, eu sou urbana pra caramba. Quase todas as minhas férias são baseadas em uma viagem para alguma capital. Adoro entender os segredos da vida urbana de diferentes cidades e países. Como boa filha da praia, não gosto de praia. E como boa criança de apartamento (mas nem tanto, devo dizer a meu favor que passei boa parte das minhas férias de infância brincando de índio nos pés de fruta da chácara do meu avô no interior) tenho verdadeiro pavor de mato. E tenho também a “sorte” de ser premiada com algum tipo de animal selvagem dentro do meu quarto sempre que arrisco uma viagem pra fazenda – geralmente uma aranha horrorosa, sendo perseguida por um sapo.

Acontece que coisas estranhas acontecem com o passar dos anos. E ando meio rural na minha cabeça. Sim, minhas raízes de família do interior de São Paulo / de Minas andam falando um pouco mais alto ultimamente. Não sei se é uma vontade genuína de sair do Centro de São Paulo e ir morar no interior (acho que não conseguiria…), mas é mais uma vontade de viver melhor, sem a necessidade de acotovelar pessoas no metrô ou buzinar no trânsito como parte obrigatória da vida. Uma vida mais simples, menos HORÁRIOS HORÁRIOS HORÁRIOS. E menos gente reclamando nas redes sociais.

Bem, minhas últimas decisões na vida foram todas nesse sentido e já melhoraram bastante :). Mas parece que falta mais. Estive lendo o livro C S Lewis Letters to Children, uma coletânea gostosa de cartas escritas pelo autor para crianças que eram suas fãs nas décadas de 50 e 60, e não tem como deixar de notar o quanto ele comenta sobre os animais que viviam ao redor de sua casa e sobre os fatos da natureza com muito mais frequência do que comentamos hoje. Mais que isso: era tudo tão mais devagar. Hoje reduzimos em meses a comunicação. Uma resposta que levaria 1 mês para chegar chega em 1 minuto via WhatsApp. Não acho que isso seja negativo – que ajuda essa facilidade fez na vida! Mas o que ando vendo como negativo é ficarmos aflitos se não recebermos a resposta em 1 minuto. Acho negativo enxergar essa facilidade como a única alternativa que a vida oferece.

Nesse livro, achei interessante uma passagem em que C S Lewis pergunta para uma criança o que significa uma expressão que ela usa numa carta. No começo, achei esquisito ele não ter pesquisado sobre a expressão e aceitar esperar pelo menos mais 2 meses para só então entender o significado da expressão e sóóó então poder continuar o diálogo. Até que lembrei que em tempos pré internet existia um jeito de saber mais sobre as coisas antes de googlar: perguntar para a pessoa.

Acho que é por isso que tenho uma paixão tão coisada por Paris. É uma cidade grande, com cotovelos no metrô e buzinas, muitas buzinas. Mas, nas duas vezes em que tive a chance de ir até lá, tive a impressão de sentir um resquício de vida mais calma dentro deles. Não lembro se já cheguei a colocar essa foto neste blog, e se já coloquei, me desculpem a repetição. É que ela resume o que quero ver mais na minha vida. Não sei se esse sujeito estava tendo pensamentos horrorosos ou se na verdade tinha acabado de brigar com a esposa e enchido a cara de vinho, no melhor estilo francês. Mas não me interessa. O método como ele tirou os sapatos e se deitou, todo urbano, mas em contato com o momento, no meio desse parque, é isso que me interessa. 🙂

Paris (158)

Tentando. Acho que essa é a palavra que mais tenho usado ultimamente. E conseguindo também. 🙂

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Na correria

August 1936:  Constantine Kondyllis carries the Olympic Torch over the first part of the 3000km stretch from Olympia to Berlin for the start  of the 1936 Olympic Games.  (Photo by Hulton Archive/Getty Images)

Há tempos faço um exercício enorme para evitar a correria. Quero dizer, evitar a resposta fácil para a pergunta: “e aí, como estão as coisas?”. Não sei se é só coisa de São Paulo, mas parece que é um acordo comum da sociedade responder a isso: “correria, cara, correndo, né”. E, embora eu esteja com coisa até a tampa pra fazer, dizer que estou correndo é mentira, porque não estou correndo. Estou fazendo crossfit e morrendo várias noites por semana, mas não estou correndo. Para falar a verdade, na maior parte do tempo estou é sentada, às vezes olhando desesperada para minha agenda e para o relógio e parando para pegar uma água ou ir ao banheiro. Ou um café.

A verdade é que sim, contrariei minhas expectativas e estou com bastante coisa pra fazer, bastante mesmo – e aprendi que isso é UMA DELÍCIA de dizer quando você está trabalhando para você mesmo, o que, sim, em última instância quer dizer dinheiro entrando (nem sempre “bastante mesmo”, mas alguma certa quantia feliz) 🙂

E por causa disso estou atualizando menos o blog do que gostaria etc.

Ontem foi um domingo legal, em que não saí de casa para nada, e fiquei tentando acordar por 4 horas até levantar quase 12h, comer um bolo que descobri ser delicioso da Bolo da Madre e passar o resto do dia trabalhando (pois sim!), para terminá-lo vendo a nova febre do momento aqui na Mansão Almeida-Guilen – a Parks and Recreation – e demorando para entender que horas eram. Meu cérebro convive há 28 anos com as mudanças do horário de verão e inverno, mas ainda não sabe lidar lindamente com essas alterações.

A dica final do dia é o projeto da Silvia Strass, nova conhecida dessa nova fase da vida que mostra que a vida e suas coincidências são essa coisa linda. Assistam aí embaixo, depois cliquem, ajudem e sonhem.

 

Beijinhos.

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Quando vamos chegar aqui?

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Li alguma coisa nas redes sociais do Dallas Clayton que me inspirou (novidade, quase tudo dele me inspira!).

Era a frase do título. Quando vamos chegar aqui?

Por que é que somos construídos pra pensar lá na frente e só lá na frente – e de vez em quando pensar lá atrás?

É uma pergunta retórica, não me respondam com filosofia. 😀

Chegamos no topo do Everest e não curtimos o topo. Passeamos em Paris e enquanto estamos lá pensamos “puxa, vou sentir saudades”. Decidimos largar o emprego das 9h às 18h para trabalhar de casa e mimar os sonhos, e quando olhamos para a vida de alguém que parece mais colorida no facebook ficamos pensando “quando vamos chegar lá?”, sem nem perceber que nunca vamos chegar lá, porque já chegamos lá e o lá virou aqui.

E de vez em quando é o contrário. Lembramos do passado como se tivesse sido ou maravilhoso ou tenebroso. E não damos conta que no passado não estávamos sofrendo tanto ou curtindo tanto assim – provavelmente porque estávamos ocupados pensando no futuro ou comparando nossa vida nas redes sociais ou lembrando do passado do passado com saudades.

Não gosto de citar versículos fora de contexto, mas esses dias ouvi um trecho de Eclesiastes que diz “10 Nunca digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Porque não provém da sabedoria esta pergunta.” e isso só corrobora a missão que tento, tento, tento cumprir.

Aproveitar agora. Não ontem. Não daqui 1 segundo. Não quando eu postar esse post. Mas agora. No momento em que digito esse último ponto.

Quando vamos chegar aqui?

dallaslindo

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