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Franando na França #7: Do loire não há mais nada a dizer

Pra ler ouvindo

Uma vez, há alguns anos, me falaram pra, quando eu viesse pra França, pegar uma bicicleta e pedalar no Loire, região da França famosa pelos seus castelos, que margeiam um rio maravilhoso (o Loire, que é quem nomeia a região). Na minha mente de quem na época nunca tinha viajado pra fora, visualizava esse trecho da França de uma maneira extremamente poética: pensei num rio lindíssimo, onde eu pedalaria literalmente entre castelos, distribuídos de maneira homogênea, mais ou menos de 1 em 1 km. Nada de cidade, apenas um campo verde ladeado por castelos, bastava escolher um e visitar. Depois era subir na bike e seguir para o próximo.

Não precisa nem contar que o Loire é sim um rio bonito e existem sim castelos nos seus arredores, mas que ele não é bem o que eu imaginava quando mais jovem, né? Não que eu tivesse isso em mente quando pensava nesse trecho da viagem agora em 2016, já mais velha e vivida….

Mas eu preciso contar uma coisa pra você: puxa o banquinho e tenta não me interromper dizendo MAS COMO ASSIM É LINDO. Eu não gosto de castelo. Deixa eu tentar explicar. E vou explicar contando um pouquinho sobre minha sobrinha de 3 anos. A Júlia é uma das (mini)pessoas mais empolgadas com nossa viagem, a toda hora perguntando se já tínhamos visto muitos castelos por aqui. Assim, quando chegamos aos castelos do Loire, a primeira coisa que fizemos foi mandar fotos e vídeos deles, especialmente para ela. A resposta demorou para chegar e quando veio, foi apenas um áudio no whatsapp com a seguinte pergunta: MAS CADÊ OS CAVALOS VOADORES?

Júlia, é exatamente isso que eu me pergunto. Morando em um país sem cultura de castelos e assistindo a eles em filmes e desenhos da Disney, sempre tive uma imagem super fantasiosa: coisas imensas, suntuosas, de uma riqueza incrível, com fadas, princesas de vestidos brilhantes e seus bichinhos cantores circulando ao seu redor. Mas sempre que visito um castelo eu me sinto enganada. Além de serem menores e mais pelados, eles são apenas… castelos. E não os castelos que eu castelava na cabeça, castelos imeeeensos, raros, em que só reis e rainhas viviam, com seus cortesãos e seilámaisoquê. Corta para a realidade: castelos eram o duplex dos séculos passados. Bastava ter um dinheirinho e um parente rei que você garantia o seu castelo. Vai daí que o Loire, a região da França famosa pelos seus castelos, tem CENTENAS de castelos. Porque castelo na França saía mais que chuchu na Serra. Os caras têm tanto castelo que não sabem nem o que fazer com eles: o que tem por aqui de castelo que virou hotel ruim ou cenário de ensaio de casamento não tá escrito no gibi. Claro que existe espaço para castelos maiores e mais bonitos, mas mesmo eles ainda estão me devendo cavalos voadores.

Com tudo isso em mente, você já deve ter sacado que eu não tinha grandes expectativas em relação ao Loire. O plano inicial era ter ficado dois dias em Tours e dois dias em Vitré – plano muito baseado nas dicas do Lonely Planet, o livro-guru que estamos consultando na viagem. Porém, como vimos que a viagem de carro ficaria muito cansativa, quebramos ela em 4 etapas: um dia em Auxerre, outro em Orléans, aí sim fomos para Tours e em seguida Vitré (que foi um desvio da viagem, só porque cismei que era uma cidade linda – e acertei). Fizemos esse trecho quase sempre margeando o rio Loire – e vendo alguns castelinhos no caminho.

No saldo geral:

– chegamos de noite em Auxerre e não conseguimos ver muita coisa – mas tudo que pude notar é que era uma cidade MUITO SILENCIOSA e ficamos no hotel mais legal da viagem até então, como falei no post anterior.

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– nos apaixonamos por Orléans! Foi uma cidade que escolhemos meio aleatoriamente. O Lonely Planet não fez jus nenhum à cidade, que curiosamente se transformou em nossa cidade favorita da viagem até agora! Ela tem o equilíbrio certo entre tudo o que eu e o Julio gostamos – cultura, poesia e uma onda meio alternativa pairando no ar, umas ruinhas bacanas de compras, roda gigante e carrossel. É nela que vimos o rio Loire pela primeira vez! A cidade tem uma ligação super forte com a Joana D’Arc. Gostei muito de conhecer mais sobre essa santa feminista. Ah! Ela também tem a Catedral mais bonita que vi na vida (e olha que já foram muitas só nessa viagem!). Pensa num interior gigantesco e muito bem conservado, com música sacra tocando em um sistema de som maravilhoso (sem fotos, porque não gosto de fotografar interior de igrejas).

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– já Tours, que segundo o guia era a cidade ideal para se aportar no Loire, nos foi bem opaca. Cidade nem grande nem pequena, sem charme nenhum. Tanto que nem lembro o que fizemos lá, além de uma visita ao castelo da cidade… que, veja você, não tem cavalos voadores. É uma galeria de arte bem normalzinha. Acho que o que mais marcou foi entrar na Catedral (sim, aqui é overdose de igreja católica, vi só hoje pela primeira vez uma igreja batista) e ver o órgão de tubo tocando ao vivo pela primeira vez. Incrível.

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– pra não dizer que não fomos em nenhum dos castelos mais famosos, além de passar em frente de alguns bem bonitos, tentamos ir ao Castelo de Villandry, mas ele tinha fechado dois dias antes para reabrir só ano que vem (uma mistura de azar com falta de consultar o site antes de ir :D) e acabamos indo de verdade no Castelo de Brézé. O legal dele é que é um castelo com um subterrâneo gigante bem divertido para nós, o casal que ama um buraco embaixo da terra e… bem, é isso, também não tinha cavalos voadores. Mas o dia estava lindo demais, com um sol que anda muito fujão enfim dando as caras por aqui!

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– por fim, almoçamos em Saumur num restaurante delícia e chegamos em Vitré já bem no fim do dia. Achamos a cidade uma simpatia só. Ficamos no hotel Le Petit Billot, que é praticamente uma casa de vó com muitos quartos, uma fofurinha engraçada. Depois de um dia super cansativo na estrada e um perrengue pra achar estacionamento, fomos procurar um jantar por lá e nunca tivemos uma tradução melhor do que significa “confort food”. Amo comida francesa, tenho acertado mais que errado nas comidas por aqui (especialmente agora que estamos mais longe da Alsácia), mas nunca pensei que um KEBAB seria a comida mais abraçada pelo meu estômago nos últimos dias! Sério. Depois de negar vários restaurantes franceses de Vitré, encontramos um kebab com cara boa e resolvemos entrar. O kebab veio com um tempero que me levou de volta pra casa: um cuscuz marroquino temperado com um refogado de alho e cebola que não fez sentido nenhum, mas foi sensacional. Incrível como uma base de tempero tão simples pode traduzir tão simplesmente nossa casa. <3

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E essa foi nossa passagem no Loire! Vejam vocês que não falo nada da paisagem (que era linda)… é que meu negócio é flanar nas calçadas, não tem jeito. Tenho cada vez mais percebido que meu jeito de viajar (e o do marido também, um pouco) é a paixão por sentir o pulso da cidade.  Não o pulso óbvio, aquele das Galerias Lafayette, da H&M e da Zara, não. O que amo é encontrar o centro de compras alternativas, sacar o estilo de vida, perceber o que se cria naquela cidade especificamente. Prefiro mil vezes parar no meio de uma rua cheia de quinquilharias estranhas locais a parar o carro em um ponto bonito e tirar foto da paisagem. 🙂 Foi depois de cruzarmos o Loire inteiro e parado apenas uma vez por DOIS MINUTOS pra tirar uma foto só pra dizer que tiramos (e aproveitar pra pegar alguma coisa que esquecemos no porta malas) que percebemos isso.

E foi isso que aprendemos sobre nós mesmos nesse trecho da viagem. E você? Qual é seu jeito de viajar?

Rumo ao meio da viagem!

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Franando na França #6: Colmar, Dijon, Auxerre, carrosséis, estradas e silêncio

Colmar é linda. Uma cidade charmosa e boa pra um só dia de viagem, coroada por um carrossel de 1900 que diz ser o maior da Alsácia (ou o maior de alguma coisa que não me lembro agora). Caso vocês não saibam, eu sou uma colecionadora de carrosséis. Amo esse brinquedo e sua poesia e sempre que eu e o marido encontramos um, é tradição: vamos nele. Eu sempre achava simpático encontrar carrosséis por todos os cantos de Paris – até que nessa viagem descobri, com muita alegria, que aparentemente toda cidade da França conta com um (excetuando vilarejos e comunas – que, hoje descobri, são coisinhas tão compactas que funcionam como um grande condomínio maravilhoso – com um salão de festas para toda a cidade, quadro de avisos e um banheiro público – que salvou minha vida no meio da viagem de hoje). Fiz uma pesquisinha para tentar entender o porquê dessa onda tão grande de carrosséis por aqui e não encontrei. Só tenho uma razão lógica para apresentar: porque a França é demais e feita pra mim. 🙂

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Colmar só não foi mais incrível para nós porque já estávamos bem repletos de Alsácia já que ficamos bastante em Estrasburgo, empanturrados de chucrute e pães de especiarias.

Malas no carro, fomos em direção à Dijon, na viagem mais emocionante da viagem até agora – e vou deixar a ordem das fotos abaixo mostrar mais ou menos como ela foi.

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Imaginem vocês que não faz nem 1 ano que o maridão tirou a carta de motorista. Como disse no primeiro post sobre a viagem, um dos meus medos era esse lance todo de dirigirmos (dirigirMOS nada – eu nem toquei no volante ainda!) o tempo todo sem ter muita prática… e voilà. Acontece que ao viajar aqui pela França, todos os guias e GPSs dão sempre duas opções: o caminho mais rápido, mais caro e mais chato – pela autopista – e o caminho muitas vezes mais longo, mais barato e mais bonito – a rota cênica. É claro que optamos pela segunda opção! Só que ela às vezes é meio… como podemos dizer… cênica demais. É tipo usar o Waze no Brasil e cair no morro… com a diferença que o morro aqui é ALGUM LUGAR CUJO NOME JÁ ESQUECI QUE FICA PERTO DE UMA ESTAÇÃO DE ESQUI.

Pensa numa fase de videogame em que a coisa complexa vai ficando cada vez mais complexa… foi mais ou menos isso. A estradinha era tensa mesmo antes da neve. Quando vimos, estava nevando – e aí não tinha muito o que fazer e seguimos em frente e acima. Enquanto o Julio acreditava piamente que eu ia conseguir achar no manual de instruções o que significava a função SNOW do carro (dica: parou de nevar e eu não encontrei até agora), fomos subindo, subindo, subindo, a neve foi caindo, caindo, caindo, atolamos na neve (foi ótimo), pessoas se ofereceram para nos ajudar e quando conseguimos sair do outro lado nos deparamos com um restaurante num chalé de madeira pique estação de esqui de filme dos anos 20 (foi essa associação que fiz, já que não costumo esquiar na vida) e comemos por lá.

Aí o resto da estrada já foi mais tranquilo até o momento em que fomos parados pela polícia pela primeira vez na viagem (tô falando que foi emocionante!!!). A reação minha e do Julio não poderia ter sido mais diferente – e mais errada: o Julio travou e não sabia onde ficava o botão para abrir o vidro da janela do carro enquanto eu já estava tirando o cinto de segurança querendo descer do carro em movimento. Gastamos nosso francês respondendo de onde vínhamos e para onde íamos e o policial deu uma de bridge keeper do Monty Python e mandou um “belê, pode ir” em francês sem pedir documento, sem pedir nada.

Foi assim que chegamos em Dijon, que seguiu o tema da viagem e se mostrou a cidade mais esquisita da França até agora. Primeiro, que estou ainda aprendendo a lidar com o VAZIO. Cria de São Paulo e da Baixada Santista, não estou acostumada a cidades que morrem em momentos do dia. Aqui na França, em especial nas cidadelas pequenas – mas também nas maiores, como Dijon, tudo fecha para o almoço (não lembrava que esse conceito existia, olha que doideira), pouquíssimas coisas abrem aos domingos e segunda feira é meio que facultativo – e uma coisa que estou achando doida pacas – das 18h às 19h AS CIDADES DORMEM. Você anda na rua, no escuro (aqui está escurecendo bem cedo, cinco da tarde já é noite), ouvindo seus passos, vendo sua fumacinha de frio sair da boca e torcendo para encontrar alguma coisa aberta pra jantar. E O SILÊNCIO POR TODO LADO?? É de endoidecer. Eu vivia reclamando do barulho do Centro de São Paulo na janela do meu quarto toda noite – e aqui estou colocando música pra dormir porque não se ouve nada. :O Também ando com saudades do sol, mesmo amando o frio… sou uma mentira ou o quê?

Enfim, calhou de ficarmos um fim de semana e uma sexta de feriado em Dijon e vimos duas cidades completamente diferentes: sexta e domingo tudo estava deserto. Sábado tudo estava cheio, pessoas passeando na feira (todas com cestas, achei tão sympa!), muitos turistas comendo as especialidades borgonhesas e saindo pelas tabelas. Assim, vivemos um 8 ou 80: ou a cidade estava cheia demais, ou vazia demais.

Achei curioso ver a diferença bem grande entre as cidades da Alsácia e dessa capital da Borgonha: Dijon me pareceu bem esquecida, os museus são tosquitos, é tudo meio mambembe… e é por isso que eu gostei bastante dela. Achei ela real, mais sincera, com suas sujeirinhas e suas igrejas do século XII entrecobertas de limo e não iluminadas. Mas entendo o porquê do Julio não ter gostado tanto assim da cidade – ele prefere o primor e rigor germânico que vimos na Praça Stanislas, em Nancy, por exemplo, onde de manhã vimos o pessoal passar na praça e varrer as pedrinhas dos jardins. Gosto muito de ver e reconhecer esses tipos de belezas diferentes. 🙂

Em Dijon, compramos um guiazinho no Escritório de Turismo para acompanhar umas setinhas de metal que se espalham pela cidade inteira de maneira relativamente organizada para você conhecer os principais pontos turísticos dela. Acho que é algo meio padrão pela Borgonha, já que a cidade em que estamos dormindo hoje (Auxerre) e uma outra pela qual passamos agora de tarde (Samur-en-Auxois) também tinham plaquetinhas dessas pelo chão!

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Por fim, acabamos mexendo um pouco nessa perna da viagem de agora: nosso plano era fazer Dijon-Tours direto, mas vimos que ia ser uma viagem muito longa e cansativa e acabamos cortando em várias cidades – vamos dormir uma noite em cada uma. Hoje, estamos no hotel Le Parc des Maréchaux em Auxerre – um hotel sensacional, que achávamos que ia ser todo detonadinho e na verdade é uma diversão super aconchegante e temática. Imagina dormir num hotel com um pique meio murder mistery e uma janela para um parque privativo extremamente silencioso (SIM, S I L E N C I O S O). Brrrrrr.

O trajeto de Dijon até aqui foi o mais lindo da viagem até agora. Teve até parada em cidades aleatórias – paramos na cidade de Guillon só porque parecia com o meu sobrenome, tipo isso – e descobrimos essa coisa linda que está no meio das fotos aí embaixo.

Esses últimos dias andei chegando bem cansada das andanças, um pouco preguiçosa de escrever e dormindo bem cedinho. Se tem uma coisa que eu gostaria de mudar nessa viagem é que eu queria estar mais tranquila, mais passeando, mas ando extremamente tensa com as perguntas o tudo-está-bem? vou-sobreviver-50-dias-fora-de-casa? martelando na cabeça. Quem já teve síndrome do pânico sabe como é ficar com medo de ficar com medo e essa chatice toda. Mas tenho tentado respirar fundo e pensar no momento quando essas crises têm me batido. Se alguém tiver dicas, tô aceitando!

Ufa, acho que já deu por hoje. Pelo menos tirei o atraso. Hoje teve até 3 capítulos do meu livro e o primeiro desenho do Um Ano Agradável 2017!!!!

Portanto, não sei nem se vou revisar esse post, porque já passa da meia noite e já super deu a hora de repousar. Assim, se tiver alguma ZUERA no texto, perdoai-me obrigada de nada.

:*

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Franando na França #5: De Estrasburgo a Colmar | A Rota dos Chocolates

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Estou escrevendo esse post tomando um chazinho porque eu posso – estamos no hotel mais chique da viagem até agora (oba!), com maquininha para ferver água e fazer chá. E também pra acalmar, porque foi bem wtf abrir as notícias hoje e descobrir que Donald Trump foi eleito. E digo numa mistura de risadas nervosas e de apreensão séria que fico feliz por termos decidido fazer essa viagem esse ano – porque sabe-se lá como estarão as coisas daqui pra frente. Bem esquisitinhas.

Maaas a boa notícia é que hoje consegui ir na igreja aqui na França (pra quem não sabe, sou da Congregação Cristã, igreja que tem uma comunidade grande no Brasil, mas bem pequena aqui na Europa – assim, é uma coisa muito legal – e rara – conseguir ir em uma por aqui) e foi muito gostoso. Quinze pessoas, bem caseiro, bem intimista. E quero agradecer meu marido, que é o melhor marido do mundo e enfrentou uma mega-chuva numa estrada de 130 km\h, só pra me levar agora de noite. Ele dorme no meu colo enquanto escrevo esse post. <3

Hoje de manhã, fizemos o trajeto Estrasburgo-Colmar, que deveria levar umas 2 horas normalmente – mas decidimos fazer diferente. O Julio baixou o aplicativo Route du Chocolat, que mostra as melhores fabriquetas \ ateliês de doces e chocolate da região e montamos nossa viagem de vinda com base nele! Sim, é uma rota parecida com a Rota dos Vinhos (uma até se encontra com a outra), mas como disse no post anterior, decidimos ficar sóbrios nas estradinhas e deixar o fígado lidar apenas com o cacau – que já tá bom demais! 😀 Degustaremos vinhos em Bordeaux, provavelmente!

MAS GENTE, esse negócio de rota é muito legal. Já vínhamos fazendo sempre a rota cênica entre uma cidade e outra (me lembrem de falar disso mais tarde), mas com esses destinos inspirados nas sugestões da rota salvos no GPS fomos entrando nas cidadezinhas mais pitorescas da viagem até agora. Tudo meio turístico, eu senti, mas tudo lindo! Foi simples: botamos 5 lugares no GPS, ele foi nos guiando até cada um. Parávamos, escolhíamos o doce mais lindo e acessível, comprávamos, dávamos uma volta a pé pela cidade e pronto, rumo à próxima.

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Até agora só provamos o macaron e meudeusdocéu que coisa boa (aliás, descobri aqui que macaron pode ser um monte de coisa diferente – sempre de massa de amêndoa e sempre gostosa). A grande surpresa foi o almoço: em Sélestat, uma das cidades que marcamos na rota, a lojinha que queríamos ir estava fechada. Como já passava do meio dia, decidimos almoçar por lá mesmo. E, a uma escolha certa de distância, encontramos um lugar moderninho chamado Le Schatzy, onde comemos a melhor carne de porco de nossas vidas, por um preço amigo. E os legumes! Não sei o que esses franceses colocam nesses legumes que eles ficam tão gostosos – se é tempero ou se eles são orgânicos ou coisa assim. Mas até eu, que odeio salada, como tudinho.

Encerrando o post em delícias, agora vou dormir e orar por esse mundão. E bora conhecer Colmar amanhã!

<3

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Franando na França #4: Estrasburgo

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Quando eu estava falando com minha irmã no Hangouts dia desses e contei que estava em Estrasburgo, ela perguntou: “ué, na Alemanha?”. Nada mais natural essa confusão, já que essa é mais uma pra coleção das cidades que já passaram por quinquilhões de mudanças de personalidade – e em poucos anos. De vez em quando da Alemanha, de vez em quando (e atualmente) da França, dependendo do período histórico que você está estudando, Estrasburgo (ou Strasbourg, como dito em sua língua natal) é mesmo essa bagunça toda: mas ô bagunça bonita!

O trajeto de Nancy até aqui foi menos cheio de ooohs e aaahs, mas já deu pra notar as casinhas, todas madeirinhas, todas com cara de Natal, todas com aquele visual que Campos do Jordão faz de tudo pra simular. Ao chegar, demoramos pra pegar no tranco. Chegamos num domingo, ficamos a manhã inteira numa lavanderia lavando roupas (viagem de 50 dias é assim…), aí errei feio na escolha da roupa e passei muito frio, o que me deu um bode danado e um mini-desespero. Eu amo frio, mas é preciso sacar o jeito que ele anda em cada cidade para escolher bem a roupa e se dar bem com ele – senão, é um gelo só, entrando por todos os seus poros e congelando seu cérebro (foi assim que me senti!).

Depois, com as roupas lavadas e já muito melhor agasalhada, fui me aprochegando melhor daqui e curti bastante. É uma cidade bastante turística – finalmente, encontramos turistas de outros lugares que não só a França (mas ainda nenhum brasileiro, oba!) – e chegamos no pior ou melhor momento, dependendo do ponto de vista. Melhor porque ainda não está bombando, ruim porque não pegamos a feira de natal aqui que dizem ser maravilhosa! Hoje, que foi nosso último dia inteiro aqui, é que o pessoal estava começando a montar os enfeites de Natal :(. Mas sobrevivo – já fui em feiras de Natal na Alemanha e tô ligada na fofura e no cheiro de canela no ar!

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Foi ótimo ficar 4 noites aqui, deu pra fazer bastante coisa de tudo que é estilo (a maioria comida e caminhada, é só isso que fazemos em viagens): comemos chucrute em restaurantes tradicionais, compramos uma cegonha de pelúcia pra dar sorte para nossos planos de 2017 (<3), andamos no Batorama (passeio de barco pelo Reno, Ill e pontos históricos da cidade – recomendo bastante), demos um pulo a pé até a Alemanha (a cidade de Kehl faz fronteira com Estrasburgo, perto do apartamento em que ficamos), vimos alguns museus bem bacanas (demos a sorte de chegar aqui no primeiro domingo do mês, quando todos os museus abrem gratuitamente), subimos no topo da Catedral de Notre Dame daqui, comemos no Au Crocodile, restaurante com estrela Michelin com os pratos mais gostosos que já comi na vida (nunca mais vou escovar os dentes na vida, para o gosto não sair nunca mais, tipo isso), descobrimos as maravilhas dos saucissons (uma espécie de salaminhos de diversos temperos), sobrou espaço até para um trio de paellas maravilhoso num restaurante espanhol (nada a ver, mas sabe como é… já bateu saudades de um arrozinho).

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Só ainda não comemos chocolate, porque pretendemos pegar a rota dos chocolates amanhã, rumo à próxima cidade! Isso, rota de chocolates e não dos vinhos, como muita gente me recomenda e curte. Decidimos optar por algo menos alcoólico e mais light depois de percebermos nosso tipo de rolê… não demos conta nem da primeira metade da garrafa dos dois vinhos que trouxemos para o apartamento aqui! – aliás, um dos vinhos foi dado de presente pelo senhorzinho dono do mercadinho <3. Se tem uma coisa que aprendi logo cedo na França quando vim há anos na primeira vez é que basta você puxar assunto e ser legal que ganha piada, ganha um amigo, ganha presente. Nunca – eu digo nunca – encontrei um dos franceses mal educados que a galera fala que existem por aqui.

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“Ah, Francine, tudo muito bem, já entendi que você tá comendo e vivendo a vida que pediu a Deus… mas e seu livro?” Notícias do front: sigo firme e forte na revisão dele antes do sprint final. Estou cheia de altos e baixos, hora achando que perdi meus últimos 15 anos tentando escrever algo levemente medíocre, hora tendo certeza que tenho em mãos o próximo hit do verão. Só emoções.

Agora já estou cansando da Alsácia e sua alemanhice, tô a fim de uma França mais França. Amanhã, começaremos pouco a pouco a entrar mais na França. Allons-y!

 

 

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Franando na França #3: Nancy

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E aqui ficamos nós, finalmente em uma cidade que não passou por um monte de desgraceira, pra variar um pouco. Nancy fica no coração (acho que é no coração, mas não sou tão boa de geografia, então pode ser que fique em algum outro órgão menos honrado) da Lorena (ou, em bom francês, Lorraine – e sim, é claro que comemos quiche lorraine só pela piada) e por isso é cheia de docinhos (pensem em macarons originais, sem recheio, coisa de doido) e bergamotas (para os paulistas, mexericas ou tangerina). Foram dias com pontos altos como uma manhã gelada escrevendo (ou tentando escrever) na Praça Stanislas, nosso primeiro almoço em um restaurante estrelado do Michelin (chiquérrimos), um carnival descoberto num parque (adoro isso) e a passagem pela cidade de Belleville, no caminho Verdun-Nancy – fiquei toda empolgada, adoro o desenho As Bicicletas de Belleville (mas não tirei fotos, porque passamos rapidinho e só fiz um vídeo pra mandar pra minha mãe)!

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Mas Nancy é mais conhecida por ser o berço da art-nouveau, escola de design do começo de 1900 que unia japonismo, racionalismo e naturalismo e acreditava que, como na natureza, tudo devia ser não apenas funcional – mas também lindo. E apesar desse raciocínio ser muito dos meus, eu não era tão fã da art-nouveau, porque nunca tinha sacado ela direitinho. Agora que vi de perto, posso dizer que voltei fã-za-ça. Acabou que art-nouveau foi o tema de nossa visita à Nancy e inspirou caminhadas (agradeço à Letícia do Parisieníssima por várias dicas!) e nossas visitas a museus.

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O que me lembra de fazer um comentário sobre os franceses e um pouco do meu gosto por eles. Pode ser um comentário cheio de erros, afinal, apesar de eu já ter vindo bastante pra cá, nunca vivi efetivamente aqui ou fui amiga íntima de algum francês, mas a impressão que tenho é que a cultura e a intelectualidade (seria essa a palavra, será?) estão muito enraizados aqui, no jeito de viver, de pensar, de criar filhos inteligentes. Deve ser muito difícil não crescer interessado em arte ou cultura de modo geral aqui. Aqui em Nancy, a todo instante trombamos com grupos de criancinhas tendo aulas ao ar (frio!!!) livre, quer de assuntos mais “sérios”, como história da arte, quer apenas passeando na praça e aprendendo a apreciar uma exposição. Se for comparar com meu ensino no Brasil – que não foi ruim -tive história da arte apenas no colegial, vendo slides cansados e antigos em um retroprojetor. Aqui a cultura e a história são vivas, a cultura é coisa que seus avós e bisavós fizeram, está nas ruas. Não tem como fugir dela, né?

Outra coisa que acho interessante observar é o comportamento das crianças em outros contextos, que não apenas o escolar, nos museus. Fomos a um aquário aqui numa quarta feira e tinha um monte de crianças passeando por lá com seus avós (se não me engano, quarta feira não tem aula aqui na França). Os avós não estavam gritando OLHA O PEIXINHO QUE LINDO!!! PEGA O PEIXINHO! TIRA FOTO COM O PEIXINHO! DIZ QUE AMA O PEIXINHO! Eles estavam curtindo com os netos e explicando o que era cada peixe, o quanto ele era curioso, como ele vivia, sua interessância toda como peixe.

Talvez seja por uma mistura de tudo isso que aqui eu ainda não tenha visto ninguém tirando selfie no museu, por exemplo…

E acabou que achei que ficamos tempo demais em Nancy – calculamos 3 noites e fizemos tudo o que queríamos em 1 dia, tendo que matar o resto do tempo! Mas é bom para descansarmos e aprendermos a curtir as coisas com calma. Normalmente, somos muito alucinados em viagens – saímos do hotel\apartamento às 8h e voltamos de noitão, mortos de canseira, usando o lugar de estadia praticamente pra tomar um banho e dormir. Esse ritmo é divertido, mas muito insano – e temos noção de que 50 dias nessa adrenalina vai ser impossível. Assim, estamos ainda aprendendo a lidar com o slow-traveling ou algo assim.

O primeiro erro que descobri que cometemos foi que acabamos economizando demais no hotel e estamos num quarto tão apertado que é praticamente cama. Me sinto os avós do Charlie, da Fantástica Fábrica de Chocolates, que viviam em cima de uma cama, todos os quatro, juntos. Desse jeito apertado não é tão animador ficar de boas descansando entre um passeio ou outro e acabamos querendo sair o tempo todo. Meio claustrofóbico aqui. :S

Viajando e aprendendo! Torcendo pra que a próxima acomodação seja mais chic e boa pra descansar, um beijo pra vocês!

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Franando na França #2: Verdun

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Pensem numa cidade que esteve constantemente no lugar errado e na hora errada. Agora pensem no quão ruim deve ser você ser essa cidade, já que como cidade você não tem muita escolha a não ser continuar ali. Essa é Verdun, uma cidade que calhou de ser bem no meio das brigas entre alemães e franceses não apenas em uma, nem duas, mas em pelo menos 5 grandes guerras – e pra ajudar tem uma geografia extremamente estratégica para construções de fortes. As datas da foto acima contam todas as vezes em que esse local foi destruído ou damaged (estou tão imersa em outras línguas, tentando falar o menos de português possível por aqui que já estou dando tilt vocabular) em sua história.

A cidade, hoje, no entanto, parecia uma coisa pacata só. Descobri que dia de finados é comemorado dia 1 na França, e por isso ontem e hoje a maioria dos lugares estavam fechados e quietinhos. Quando descobri que íamos visitar o Ossuário de Douaumont em pleno dia de finados, achei que íamos fazer o pior erro ou o mais lindo acerto da viagem. Logo imaginei centenas de descendentes de soldados indo lá prestar homenagem a seus bisavôs. Ao chegar lá, uma surpresa: tudo bem vazio. Em termos de pessoas visitando seus bisavôs, no caso. Porque em termos de pessoas já passadas, é uma coisa de doido. De lindeza e de “gente, apenas parem”.

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A sensação em Verdun – no Ossuário, especialmente – que não fica exatamente na cidade, mas a uns 15 minutos de carro dela, é de melancolia. Muita tristeza passou por aqui e esse tipo de coisa dá um jeito de agarrar na parede de pedra dos lugares. Mas muita coisa linda também, muita história pra contar. Faz pensar em nossa história no Brasil, como é pequena, curtinha e felizmente de muita paz. Me fez pensar em meus ascendentes (tenho um tataravô nascido em cada país da Europa ocidental, praticamente) e no que eles passaram pra que eu chegasse aqui e visse essa história. Pra falar a verdade, não faço ideia do que eles passaram, mas a gente vai imaginando e sabe como é a cabeça. A minha, pelo menos. 🙂

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Pela manhã compramos chips de celular (yay) e viajar para outro país com internet ilimitada no celular é uma experiência que nunca tinha tido antes e super recomendada. Me sinto mais segura, mais em casa. Parece que não, mas um Google aqui e acolá e uma fuçadinha no Instagram fazem uma diferença.

De manhã, passamos na Cidadela Subterrânea de Verdun, um passeio por um lugar escondidinho onde muita presepada aconteceu. Achei que ia ser um passeio simples, um pique meio Museu dos Esgotos de Paris (sim, fomos lá ano passado, adoramos nos enfiar em buracos), mas logo que chegamos nos botaram num carrinho muito doido que saiu passeando por lá, com direito a projeções e músicas. Bem pique Disney. Bem o tipo de passeio que eu e o marido adoramos. Túneis com projeções e musiquinhas é com a gente mesmo. Sempre damos um jeito de encontrar, até numa cidade pequena da França. Pior que era de excelente qualidade, não era pique museu de Stars Hollow.

Comidamente, hoje não fomos tão bem, mas fomos. Por conta do feriado e de alguns desencontros de horário, o almoço e o jantar foram aqui perto do hotel mesmo, na beira da estrada. Não preciso nem dizer que restaurante de beira da estrada do interior da França já é bom pra chuchu, né? Pra mim, França é tipo Minas: qualquer biboca vendendo qualquer coisa merece Michelin.

É isso! Amanhã partimos pra próxima! Au revoir!

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Franando na França #1: Comecinho da viagem – Berlim e trajeto Paris-Verdun

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Olá olá olá!

Estamos no quinto dia da nossa viagem e só agora consegui uma somatória de internet acessível + fôlego pra fazer um post!

Já começo explicando porque raios fomos parar na Alemanha, sendo que a roadtrip era francesa. Não, caros, não acabamos perdidos pegando a estrada errada nessa pertitude maravilha que é a Europa. É que tínhamos um amigo perdido por lá (na realidade, morando por lá, mesmo) e decidimos, antes de começar a parte road da trip, pegar um avião e fazer uma visitinha a ele. Passamos o primeiro final de semana da viagem em Berlim e ficamos hospedados no apartamento dele (que foi dormir na casa de amigos – ato muito fofo e que me deixou muito sem graça – magina, sair de casa pras visitas, nunca fiz isso na vida!).
Eu já conhecia Berlim – tinha passado 4 dias por lá num mochilão-de-boutique que fiz em 2010 e tinha gostado demais. O Julio ainda não conhecia essa loucura de cidade e decidimos ir para ele conhecer. Achei a Berlim de 2010 mais doida que a de agora – talvez porque na época eu estava um pouco mais doida também e fiz um walking tour especializado em cultura underground e grafite. Mas dessa vez, além de fazer passeios bacanas, como o walking tour do Sandeman’s e o museu da DDR (duas ótimas pedidas, que conheci da última vez que fui graças à Mirele, minha amiga de extremo bom gosto), além da Dungeon’s Berlin (se você não conhece essa franquia de passeios de terror divertidos, por favor passe a conhecer!) e de uma exposição-experiência bizarra do Bosch, conseguimos conhecer um lado mais dia a dia da cidade – e me apaixonei por um canto chamado Admiral Strasse.

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Mas hoje voltamos para Paris e começou oficialmente a parte mais aguardada da viagem: o dia em que pegamos um carro e começamos a rodar. Eu tinha muitos medos, especialmente porque não temos um carro e não dirigimos muito – meu marido tirou a carta não faz nem 1 ano (!) – é, eu e o marido (ele ainda mais que eu) somos meio avessos a esse lance todo de ter carro (e estamos sempre adiando o dia em que teremos esse tal carro). Mas no dia em que decidimos fazer essa viagem, o leasing de um carro foi a primeira coisa com a qual concordamos.
Como gostamos de já começar no nível hardcore, nunca tínhamos feito uma viagem de mais de 2 horas dirigindo e decidimos estrear numa viagem de 6 horas (contando paradinhas) em outro país, numa língua que não falamos tão bem. E. FOI. TUDO. MUITO. TRANQUILO.
(é sério, o medo era tanto que dormi ontem a base de calmante).
E foi lindo.
Parte porque o Julio é um motorista sensacional, parte porque o carro que a gente pegou, um Peugeot 308 (pela Peugeot Open Europe) é uma coisa de louco. Nos sentimos dirigindo no futuro… mas rumo ao passado. <3
Tem muita coisa pra contar e pretendo contar nos próximos dias, mas queria dividir algumas dicas, caso alguém aí se inspire com meus (possíveis) próximos posts ou tenha googlado e caído aqui em busca de informações.

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Organizar uma viagem assim exige uma dose muito boa de organização e outra de maluquice. É muita coisa pra pensar – desde filtrar quais cidades visitamos e quais deixamos de visitar – até baixar as fotos direitinho e organizadas para não bagunçar tudo. É trabalho de equipe do começo ao fim! De todas as viagens que fizemos, essa foi a mais organizada e a menos organizada ao mesmo tempo. A mais organizada, porque nos preparamos bastante: financeiramente, é claro, mas também comprando um guia bacanudo da Lonely Planet, treinando um pouco dirigir em estradas e até fazendo uns meses intensivões de francês! A menos organizada porque temos um trajeto-master, mas nem tudo está reservado e escrito em pedra. Por muito tempo, tudo o que tínhamos era a passagem de ida e volta e muita vontade de conhecer a França por inteiro.
Somos um casal com um combinação muito boa de opostos e por isso vivemos sempre na base de um equilíbrio de caos e ordem, na minha opinião, perfeito. Eu sou a pessoa que cria e bagunça. Ele é a pessoa que executa e organiza. Eu sou o departamento de entretenimento (pesquisei mil lugares, restaurantes e hotéis) e ele o departamento logístico (é ele quem cuida do dinheiro e dos horários).
Esse equilíbrio é bom no on-the-go da viagem também, especialmente: o Julio é muito bom com a ordem. Assim, temos tudo muito claro sobre onde estamos, quanto temos e quais os próximos passos. Evita coisas horríveis que já passei em viagens-solo que eu fazia como perdas de passagens (!), de passaporte (!!!) e gastos escabrosos de dinheiro (!!!!!) Se eu entro em pânico (porque sou meio desesperadinha), ele me mostra as planilhas e tudo fica bem. Já na hora do improviso, sou eu que assumo. Quando uma das planilhas se mostra errada meu marido sai de cena (e precisa sair, senão ele entra em pânico!!) e eu assumo, achando uma saída às vezes inusitada, às vezes simples pacas.
Com essa divisão clara de tarefas, fica muito gostoso viajar e temos o melhor dos dois mundos: uma viagem extremamente divertida e livre, mas com tudo bem organizadinho.
Nosso primeiro momento desse foi hoje na hora do almoço. Pegamos o carro com o tanque meio vazio e não aparecia um postinho sequer no caminho. O Julio, já um pouquiiiinho preocupado, me pediu para ler o manual de instruções e descobrir como o GPS poderia calcular o caminho até o próximo posto. Olhei o manual de instruções, desolada. Nunca li um manual de instruções na vida e não seria dessa vez. Decidi inventar que, pela lógica, toda cidade teria um posto de gasolina. Viramos na primeira cidade à direita e acabamos almoçando por lá um frango com legumes da estação maravilhoso (esses franceses sabem fazer até chuchu ficar gostoso!) e descobrindo os preparativos do Halloween por aqui.
Mas a lindeza toda é o equilíbrio! Claro que vou defender o meu jeito meio caótico de fazer as coisas, porque adoro essa diversão toda… mas uma ordenzinha também é boa pra chuchu (por exemplo, se não fosse a teimosia metódica do marido não teríamos conseguido conectar e esse post nem existiria!). Já falei aqui antes como o melhor caminho para a liberdade e a criatividade são as regras, não? Senão falei, me lembrem de falar quando voltar.

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Falando nisso… sigo na revisão final do meu livro e numa notícia muito doida: decidi trocar o sexo do meu protagonista. O Sandro, que durante 15 anos foi um protagonista menino do meu livro, virou Samara. Isso porque hoje, com 29 anos na cara, não vejo sentido nenhum ser uma autora mulher escrevendo meu primeiro livro com um menino como protagonista. Um pouquinho de girl power não faz mal a ninguém. 😉

Ufa, mil coisas! Até a próxima!

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Amanhã a gente começa, e dessa vez é amanhã mesmo

 

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Parece que foi ontem (quando na verdade foi há 11 anos atrás). Primeiro ano da faculdade, aquele monte de pessoinhas prontas para encarar a verdade daquela música que eu temia ver realizada, à sua maneira moderna e cheia de “crises dos 20 anos”, sentadinhas, ansiosas, na aula de sociologia, aquela disciplina de nome misterioso.

O professor entrava na sala e do alto de seu allstar vermelho e sua expressão de sonhador moderado que arrancava suspiros das calouras falou sobre o flâneur.

Aquele sujeito-estilo-de-vida-função-social que surgiu na França (é claro) do século 19 junto à ideia de cidade, entrou na minha cabeça imediatamente e se aboletou por lá. Eu era uma caiçara fajuta recém fugida saída de Santos e estava encantada com essa São Paulo toda. Aquela multidão, aquela coisa que não tinha começo nem fim que era a cidade, a urbanidade da urbanidade, aquela coisa particularmente linda para quem, como eu na época, vivia no circuito Pinheiros-Vila Madalena-Paulista, ah, aquela São Paulo da diversidade, do bom gosto e da cultura pulando por todos os lados (nota mental: uma São Paulo que ainda existe pra além do meu cansaço e que merece minha atenção ano que vem)…

O raciocínio flâneur era um prato cheio praquela Francine de roupas coloridas que vivia na Avenida Paulista matando tempo. O flâneur me inspirou a andar tardes e mais tardes por aquela avenida naqueles primeiros anos da faculdade, em que eu ainda não trabalhava oficialmente, era só freelancer, com a vida mais ou menos ganha porque nem precisava de muito. E curti muito e guardo com muito carinho os anos de 2005 e 2006, antes dos amigos terem que marcar na agenda para se encontrar, antes do dinheiro ou da vontade de cada um de ser mais bem sucedido mais inteligente mais culto mais diferente mais descolado mudar todas as lógicas.

Aí eu arranjei emprego, a vida foi sacolejando e o conceito de flâneur sumiu da minha cabeça.

Até agora. Nesses últimos seis meses (na verdade, nesses últimos anos, sem querer) em que eu e meu marido nos preparamos para a viagem que começa amanhã, flanar tem sido um verbo possível. Graças a Deus, aos planos, aos sonhos e às planilhas mágicas da família Guilen-Almeida. Serão sete semanas em que quero, apenas, pura, simplesmente, de toda a alma, ser flâneur.

Sai o relógio, sai o compromisso, sai o deadline, sai o ganhar mais e mais e mais e mais, sai a necessidade de provar que é isso, aquilo, é publicitário, é empreendedor, é descolado, é nômade digital, sai a necessidade de ter uma resposta pronta para os jantares em que perguntam pra você “mas e aí, o que você faz da vida?”, sai até mesmo a vergonha e medo de ter que me explicar sobre como pretendo fazer para ter dinheiro nos próximos 2 meses (ou mesmo pelo resto da vida). Entra o flâneur.

A Wikipedia me ajuda a explicar um pouquinho dos meus planos de vida e de viagem pra vocês. Flâneur é metade curiosidade, metade fazer-nada. É andar pelas ruas, calçadas, parques, passagens, cafés, sem um trajeto definido. É estar e ser, ao mesmo tempo.

O pulo do gato, a magia da coisa toda é que flanar é o oposto de vagabundagem ou preguiça. Não é um simples andarilho a esmo. Balzac dizia que flanar é a gastronomia do olho. É degustar cada passo, observar tudo, sem tempo marcado e sem ter-quê. Sim, flâneur é o jeito mais francês do mundo de falar sobre atenção plena, aplicada à vida na cidade.

Pra quem diz que flâneur é coisa de mendigo ou coisa de quem já tem a vida ganha eu digo que é claro que é fácil flanar na França, sem outro compromisso que o de terminar de escrever um livro – mas os meses de puro estresse e mudanças constantes que precederam (e permitiram) essa viagem me mostraram que do jeito que esteve não dá pra continuar. E quando voltar, quero tentar de todos os jeitos permanecer flâneur. Prestar atenção no fluir do metrô cheio ou no aroma do bolo assando aqui em casa, entender o passarinhar do passarinho no outro lado da avenida e no gingado esquisito do mendigo que mora aqui no bairro. Esteja eu cheia de jobs ou cheia de sonhos, ou os dois juntos, que é bom também.

 

The crowd is his element, as the air is that of birds and water of fishes. His passion and his profession are to become one flesh with the crowd. For the perfect flâneur, for the passionate spectator, it is an immense joy to set up house in the heart of the multitude, amid the ebb and flow of movement, in the midst of the fugitive and the infinite. To be away from home and yet to feel oneself everywhere at home; to see the world, to be at the centre of the world, and yet to remain hidden from the world—impartial natures which the tongue can but clumsily define. The spectator is a prince who everywhere rejoices in his incognito. The lover of life makes the whole world his family, just like the lover of the fair sex who builds up his family from all the beautiful women that he has ever found, or that are or are not—to be found; or the lover of pictures who lives in a magical society of dreams painted on canvas. Thus the lover of universal life enters into the crowd as though it were an immense reservoir of electrical energy. Or we might liken him to a mirror as vast as the crowd itself; or to a kaleidoscope gifted with consciousness, responding to each one of its movements and reproducing the multiplicity of life and the flickering grace of all the elements of life.

— Charles Baudelaire, “The Painter of Modern Life”, (New York: Da Capo Press, 1964). Orig. published inLe Figaro, in 1863.

 

É isso. Esse é meu plano, que começa amanhã, que tem e não tem a ver com minha crise sobre continuar morando ou não em cidades grandes.

Porque acho curioso ver como o conceito de flâneur nasceu exatamente junto com as cidades, que no século 19 eram muito mais vazias e lentas, mas já eram devoradoras. Afinal, foi quando as cidades nasceram e se encheram que as pessoas tiveram que aprender a dividir pequenos espaços públicos sem se cumprimentar. Pense nisso: para acelerar a vida, para nos cansar menos, para fugir de conversas, aprendemos a dividir elevadores, vagões, carros, sem um bom dia. Aprendemos a nos des-conhecer.

É de arrepiar a espinha esse desconhecimento, não?

E eu aqui, com medo dos 50 dias de desconhecido que serão essa viagem, como se o desconhecido não fizesse parte de nossos dias a cada minuto… 😉

Leia mais sobre o flâneur aqui 

E está convidado a acompanhar meus próximos passos de agora em diante! O próximo pode ser amanhã enquanto eu estiver fazendo as malas, ou mais pra frente, em outro continente.

🙂

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O pulso ainda pulsa

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Sobre criar, sobre escrever, sobre deixar o cérebro e o coração escorrerem pelas pontas dos dedos, sobre falar um pouco sobre sua verdade, com um pouquinho de edição, deixar dizer o que você tem por dentro.

Sobre escrever, um post sobre escrever e sobre fugir de sua sina e falhar miseravelmente, porque escrever é do que você é feito.

Fiquei aqui pensando. Tentando lembrar quando foi que eu descobri que era escritora. Não me lembro exatamente – mas o engraçado é que lembro de todas, todinhas as vezes em que descobri (ou inventei) que não era.

Nasci em família de leitores, com estantes cheias de livros. Me interessei por aquelas letrinhas tão cedo! Antes de saber escrever, lembro como eu me sentava na varanda do prédio e escrevia diários. Escrevia num alfabeto imaginário, uma coisa que parecia um vvvvvvvvvvvvvvv, mas que eu entendia muito bem.

Deve ter sido por isso que minha irmã de 8 anos decidiu me ensinar a ler e escrever de verdade – e aprendi direitinho, quando eu tinha 4 anos. Imagina, mal tinha aprendido a falar! Tão logo juntei as palavras de uma embalagem de longa vida (simbólico, talvez?) que estava na geladeira, descobri como fazer isso sozinha, agradeci minha irmã e saí juntando todas as outras palavras do mundo.

Com 7 anos, já tinha um diário (costume que levo até hoje). E tomava ditados dos meus coleguinhas de escola – o que nunca contribuiu para minha popularidade, mas aprendi a superar, usando o gosto pela leitura a meu favor.

Costumava ser a melhor aluna na aula de português – claro que só até o momento em que entramos nas teorias da gramática. Nunca fui pessoa de teoria, sempre fui mais apaixonada pela prática. E errava todas as análises sintáticas de frases – mas minhas frases eram impecáveis, mesmo eu não sabendo dizer se o que tinha acabado de escrever era um objeto direto ou indireto. Quando chegou literatura, no colegial, briguei com o professor, que ao final do período confessou que morria de medo de eu corrigir algum erro literário dele (afinal, ele era jornalista e conhecia mais de Marcelo Rubens Paiva que de Machado de Assis, um ultraje para a Francine adolescente, sempre uma fã dos clássicos).

Em 2001, uma coisa linda começou a acontecer. 2001 foi um ano muito importante pra minha vida – com 14 anos, me sentia alinhada ao universo. Foi quando me converti oficialmente e me batizei, a fase em que estive mais alinhada com tudo o que acredito até hoje. Foi quando aprendi a tocar piano. Algo muito cósmico acontecia naquela época. Foi, inclusive, quando o meu marido (até então, um desconhecido em algum lugar de Santos) abriu o site que foi a razão pela qual nos conhecemos.

Também foi quando uma vontade muito grande de escrever um livro nasceu. E comecei a escrevê-lo.

E 15 anos se passaram e eu não terminei.

E hoje eu entendo porquê. Hoje eu entendo que passei os últimos 15 anos fugindo de ser quem eu sou, de uma forma ou de outra. Nunca foi nada terrível, não é como se eu tivesse me perdido na vida – pelo contrário, eu estive incrivelmente achada. Uma carreira muito bacana como publicitária, depois o famoso “largou tudo para abrir seu próprio negócio” e todo o status de empreendedora criativa que vem com isso… mas nunca tive coragem de constatar o óbvio: não sou publicitária. Não sou empreendedora. Ou sou tudo isso… mas sou, acima de tudo, e no fundo de tudo, escritora.

Engraçado como a gente repara nessas coisas depois. Pela lógica da vida e da paixão pelas palavras, eu devia ter feito jornalismo e devia ter feito letras, mas decidi cursar publicidade. Porque se tinha uma coisa que amava tanto quanto escrever era “criar”, de um modo geral. E ainda amo. (Na realidade, como cristã, acredito que criação é a força mais poderosa que temos. Está ali, lado a lado com o amor [e é por isso que o poder de criar uma vida através do próprio amor é o maior presente que recebemos como seres vivos, na minha opinião] – e está nas nossas mãos. Acredito que criar nossas próprias vidas da melhor maneira possível é perpetuar a criação de Deus no universo… e coloquei isso tudo entre parênteses, porque seria assunto pra outro post, mas decidi juntar tudo). E entrei em publicidade tendo certeza de que queria criar, mas não queria ser redatora. Passei os 3 primeiros anos da faculdade dizendo pra quem quisesse ouvir que EU NÃO PASSARIA MADRUGADAS PENSANDO EM UM TÍTULO SENSACIONAL PARA UM ANÚNCIO, QUERIA CRIAR “DE FORMA GERAL”. Claro que esse pensamento um tanto generalista me rendeu uma certa dificuldade pra encontrar um emprego, mas consegui algo incrível e com esse perfil depois de tentar bastante. Trabalhei 1 ano com guerrilha, um tipo de propaganda que amava demais. Não era óbvio, não era uma chatice como quase toda propaganda é e a equipe era incrível.

Até que o departamento foi fechado e fomos todos para a rua.

E resolvi, a muito custo, virar redatora.

Tirei um portfólio da cartola, fui contratada em uma agência super incrível que estava começando e o resto é história. Passei praticamente 7 anos, entre idas e vindas, trabalhando com redação publicitária – que é um jeito um pouco besta, mas completamente legítimo, de ser escritora.

E assim fui escritora para várias marcas. Fui a escritora que contou a história de personagens como o Itaú, a Natura, Intimus, Huggies e muitos outros que nem me lembro mais.

E o meu livro continuava lá, tímido e lento, às vezes calado, mas quase sempre sendo escrito em horários de almoço espremidos enquanto estava na agência. Eu conseguia olhar pra ele e guardá-lo como meu tesourinho, minha garantia de que tudo podia dar errado, mas ele seria meu trunfo.

E meu blog, bem, a frequência com a qual atualizo meu blog é um excelente termômetro do quanto ando ou não alinhada com o que quero pra minha vida. Pois é, você já entendeu pra onde isso vai.

Até que não rolou mais. A vontade de criar algo novo, de fazer algo mais meu, veio com tudo. E veio sob a forma de um negócio novo, a Sras&amp;Srs, bebê lindo que já nem é mais tão bebê assim e do qual gosto muito. Ajudar casais a fazerem casamentos mais verdadeiros e menos cafonas e menos cheios “de requinte” (quem lê esse blog há anos saw that coming há muito tempo atrás, não?) é uma coisa incrível. Gosto muito de fazer isso.

Mas tem alguém me olhando lá de dentro da gaveta.

Que me diz que faz 6 meses que não conversamos. Nem no horário espremido no almoço, mais. Que me diz que sou uma traidora, porque a razão principal pela qual eu tinha largado meu emprego das 9h às 18h é porque ia parar de criar histórias para marcas e criar aquela história que quer sair de mim.

Porque na inexperiência de poder ter tudo, de poder fazer tudo, abracei tudo e esqueci de uma coisa, uma coisa simples: esqueci do que tinha que fazer.

Desde maio, estive trabalhando de domingo a domingo, sem parar, criando casamentos, sim, mas escrevendo não muito mais que os e-mails para clientes e fornecedores.

E embora criar casamentos dê um prazer danado, tinha algum ponto cego aqui dentro que se encontrava muito, muito contrariado.

Já faz algum tempo estou planejando uma desaceleração nessa loucura toda – e finalmente chegou outubro. E hoje, pela primeira vez em muito tempo, embora ainda tenha algumas coisas pra finalizar antes das férias chegarem oficialmente, consegui olhar pro relógio sem entrar em desespero e sem ter alguma coisa pra fazer.

Achei que quando essa hora chegasse, ia me afundar no cobertor e relaxar.

Não. Vim pra cá, escrever.

Porque estava com uma saudade danada do poder criador da palavra.

E mesmo sem saber onde queria chegar com esse texto todo, cheguei aqui. E não estou nem preocupada por ele ter saído tão grande e meio, até, manquinho. Porque mostra o quanto ele estava entalado aqui dentro.

Hoje, cheguei ao primeiro post oficial das minhas férias – mesmo antes de elas chegarem oficialmente. E estou muito feliz.

Porque dia 27/10 começará a viagem em que vou terminar de escrever meu livro. Porque acho que a gente pode agradecer quando está realizando um sonho (mesmo tendo demorado um pouco pra entender que era o que estava acontecendo). Porque sempre achei incrível pessoas que saíam de viagem para terminar de escrever um livro. Lia ou ouvia isso e pensava “é o que quero pra minha vida”. E, sem querer, acabei fazendo isso.

Minha ideia é atualizar esse blog com frequência durante a viagem – mas se eu não o fizer, a razão é boa – vai querer dizer que a família Zaspargo, o Pedro, a Greta, o Gregório e a Daphne estarão voltando à vida e verão um ponto final, finalmente.

Obrigada pelo dom de gostar de escrever, devo tudo a e(E)le.

🙂

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O que é casamento?

AlexNoriega06

Faz menos de 1 ano que saí da agência pra trabalhar com casamentos. Parecem 10 anos. No começo, achei maluquice – nunca tinha pensado em abrir um negócio, muito menos um negócio que pareceu brotar tão do nada – eu, escritora, publicitária, designer de ideias, trabalhar com casamento? De onde veio isso?

Até que descobri que veio da minha vida inteira acreditando na instituição do casamento e odiando as festas de casamento em que ia – que se esqueciam completamente do real motivo do casamento. Veio do meu sonho em me casar, que era um sonho muito presente (até demais). Veio de ser uma romântica incurável, mas à minha maneira peculiar – sempre fui de um romantismo sem cavalo branco. Um romantismo do dia a dia, das coisinhas, do amor que não vem com drama.

Demorou pra perceber isso. Mas essa semana, em que, além, de poder dizer que a Sras&Srs floresceu e entrou nos trilhos oficialmente, completei 2 anos de casada, deixou muito claro o que é casamento, pra mim.

Casamento é você combinar de comemorar seus 2 anos de casados de várias maneiras diferentes E TODAS ELAS SEREM ESTRAGADAS COMPLETAMENTE por razões além do seu alcance – e você e seu marido, em vez de brigarem, desistirem ou resmungarem, rirem de todas elas. E, mais ainda: o plano B se mostrar melhor do que o plano A, invariavelmente.

Senão, veja: nossa primeira comemoração seria tomar um brunch exclusivo numa sala fechada só pra nós dois num café relativamente chique aqui de São Paulo no sábado, a Brigadeiros by Cousins, antes do dia do aniversário. Um brunch caro (180 reais por cabeça, magina, nem o Barbacoa custa isso), mas que estávamos dispostos a provar porque somos loucos.

Quando já estávamos à caminho do café, o dono me ligou avisando que a chef ficara doente e (curiosamente, um brunch de 180 reais não tem um plano B! WAT – nem preciso desrecomendar, né?) nosso brunch estava cancelado.

Desanimados, mas não derrotados, acabamos comendo um pão na chapa numa padaria no caminho. O melhor pão na chapa que comi na vida.

A próxima celebração seria na própria terça feira, dia do nosso aniversário. Tem um restaurante italiano que até já mencionei aqui, o Millesapori. Amo. A comida é boa, mas o legal mesmo é o dono dele, que é o cara mais divertido e simpático do mundo. Certa vez, levei o marido pra comer lá no aniversário dele e ganhamos até parabéns pra você em italiano e uma oração, ou algo parecido. <3 O restaurante não é perto de casa, então pegamos um Uber Pool, que demorou 435 horas para chegar lá. Ao chegarmos, a descoberta: o dono se aposentou há 1 ano. Hoje, quem atende é o filho dele, que também é simpático… mas parte da magia do restaurante legal se perdeu.

Derrotados, mas não desanimados, decidimos voltar pra casa. Tínhamos uma terceira etapa de celebração – íamos conhecer um lugar novo também longe de casa, mas ouvimos nossa intuição e cancelamos essa etapa. Chega de dar sopa pro azar.

Vale dizer também que, é claro, minha ideia era não trabalhar na terça feira, afinal sou dona do meu próprio nariz e pela primeira vez eu poderia fazer isso. Vale dizer que é claro que não fiz, porque a vida.

Oito horas da noite, cansados, mas ainda apaixonados, depois de negociar se iríamos descongelar o tupperware de estrogonofe que descansava solitário no freezer ou tentar uma última intifada pedindo o delivery do Mercearia do Francês – só para descobrir que esse delivery não funciona mais – acabamos por pedir uma pizza de 30 reais. E nos entregamos para o destino.

Numa última tentativa de sermos chiques e românticos, abrimos um vinho que estava na geladeira aqui de casa. Ele se mostrou um dos piores vinhos que já tomamos na vida.

E foi comendo pizza de 30 reais e tomando um vinho ruim em copo de champignon embaixo do edredom, assistindo a Brooklin Nine-Nine, que olhei para meu marido e pensei, feliz da vida: isso é casamento.

E eu não trocaria isso por nada desse mundo. 🙂

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