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O problema de ser babaca é que é sem querer

Já fiz muita coisa besta, da qual tenho vergonha ou raiva nesse campo. No colégio, já tratei mal meninas por elas “serem oferecidas demais”. Na vida, já olhei feio para mulheres bonitas só porque elas eram bonitas demais. Mais velha, já fui completamente submissa a um namorado babaca que me desrespeitava – e eu insistia no erro.

O pior disso tudo? Não posso culpar a falta de leitura ou de pensamento sobre o assunto. Tive uma criação maravilhosa. Meus pais sempre foram muito abertos para falar sobre tudo e eu passei minha adolescência me achando muito bem resolvida em relação a preconceito, relacionamentos e feminismo.

Pior ainda? No tempo em que eu me envolvi com o namorado babaca supracitado, eu ASSINAVA A BUST, a revista mais feminista do mundo e devorava cada artigo, achando que estava sendo a feminista mais feminista do mundo na época… sem perceber que estava vivendo exatamente o contrário do que lia. Afinal, eu era iluminada, sabia diferenciar a esquerda da direita, era ÓBVIO que eu não ia cair nessa armadilha.

O problema é que a armadilha é tão, mas tão entranhada dentro da gente que a gente nem percebe.

O que eu quero dizer com esse desabafo? Que ser preconceituosa, sexista, que estar do lado de lá ou de cá do preconceito é a coisa mais fácil do mundo. Não é só coisa de homem branco hetero, nem de “religioso”, nem de gente burra, não. É coisa de gente. E muitas vezes é coisa DA GENTE. Porque ser babaca, ser mau, ser agressor ou ser vitima não é só apertar um botão e começar a ser, não. Não é como em filme, com risadas malévolas, com música tema e tudo mais. Somos babacas e somos trouxas e somos maus mais vezes do que pensamos ser, porque somos sem querer. E é isso que precisamos assumir. Porque só assim vamos perceber. E aprender.

Tendo pensado bastante nisso nos últimos anos e feliz com a nova onda do feminismo que vejo brotar por aí, tenho tentado ultimamente duas coisas:

  1. Acima de tudo, apoiar a nova onda do feminismo compartilhando informações úteis e honestas. Informações que empoderam a mulher, mas também a humanidade como um todo – sem desautorizar outros gêneros de ser, um desrespeito que vejo acontecer demais e aí já não faz mais sentido algum. Pra mim, é só com informação e não com mimimi que conseguimos ajudar a dar luz pra gente e pros outros…
  2. …sem julgar e sem ser cruel com a pessoa que não está “iluminada” o suficiente. Porque já estive lá, justamente na época em que achava que mais estava iluminada e bem resolvida. Porque, quem sabe, eu não estou lá de novo? Ou você? Afinal, se tem uma coisa que a vida me ensinou é que muitas vezes quando estamos em nossa fase de mais certezas é que mais estamos errando… e que muitas certezas iluminadas de hoje são bem tortas quando vistas no futuro, em perspectiva.

Feliz ano novo e que estejamos acordadas e conscientes de nossas próprias virtudes e babaquices. E que (nos) amemos, porque a dor só para de doer quando paramos de procurar culpados pra apontar. Acredite. 🙂

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