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O palhaço egoísta

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Nunca fiz curso de palhaço porque não me interesso (não me interesso pra minha vida, para o que eu acredito sobre o ser palhaço, mas você é quem sabe a respeito do seu nariz), então já comecemos trabalhando com essa informação. Mas sou palhaça há cerca de 8 anos, em hospitais. Sei a diferença entre o Bozo e o Slava, e sei do desconhecimento do público a respeito do tipo mais, digamos, intelectualizado do palhaço. Ou clown, que seja.

Vai ver meu problema é não curtir palhaço intelectualizado. É que pra mim palhaço é sensibilidade e intuição, e pra mim a partir do momento em que intelectualizamos a intuição o palhaço morreu. Então tiro o nariz, tiro mesmo (porque pra mim os melhores palhaços não precisam se esconder por trás da máscara para encontrar seu verdadeiro eu universal), para falar sobre uma coisa que me deixou chateada quando fui assistir ao Slava sexta feira: o público intelectual.

O palhaço russo se apresentou em um teatro de shopping, e teatro de shopping tem um público de shopping, tem as pessoas que vão lá achando que palhaço russo é palhaço do Vostok. Tem sim. Paciência. Vi gente conversando entediada, gente tirando fotos com flash totalmente alheias à postura esperada em um espetáculo daquele e tinha uma moça na minha frente me fazendo o favor de checar o Facebook no celular de cinco em cinco minutos. Mas nada disso me incomodou tanto quanto o grupinho que sentou atrás de mim.

Era um grupinho que mandava as pessoas se calarem a cada tossida alta. E pior: mandava AS CRIANÇAS se calarem. Eles estavam tão preocupados consigo mesmos, em mostrar para o público ao redor que aquilo não era um show do Patati Patatá, que não devem nem ter entrado na magia do gênio que estava no palco. No intervalo, eles não pararam de falar sobre esse publicozinho de shopping. Fiquei pensando se elas não seriam as mesmas que reclamam no Facebook que o público brasileiro deveria ter mais acesso à cultura. Porque se mantivermos o Slava restrito à Praça Roosevelt, a boa cultura vai continuar assim, coisa da elite de palhaços que só olha para o seu próprio nariz. Se estamos dispostos a deixar “o público de shopping” mais inteligente, vamos ter que aguentar um pouco de foto com flash nos espetáculos, sim. Faz parte da curva de aprendizado. Deles e nossa.

Mas pra mim o que mais marcou foi mesmo ver as pessoas mandando AS CRIANÇAS se calarem. Repito isso porque é o que me deixa triste. Se palhaço é espontaneidade, é rir de seu próprio ridículo, pra mim o cúmulo da ironia é se incomodar ao ver crianças se divertindo e “errando”, sendo tocadas pela espontaneidade do que está acontecendo lá na frente. Fazer uma criança rir alto ou falar alguma coisa fora do script pra mim é sinal de que o palhaço funcionou. E funcionou bem.

E como palhaços ou como pessoas à paisana, ainda acredito que elas é quem têm que nos ensinar a nos comportar na vida. E não o contrário.

Dito isso, beijo no nariz.

1 Comment

  • marilucia
    Posted 15 de julho de 2013 at 18:50

    E mandou bem dona do Palitos. Beijs
    Me mande nossa foto com os palhaços

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