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De vez em quando eu devia reler isso

Faz uns 5 anos que me formei.

Ponto, parágrafo na outra linha.

E ao assistir a esse discurso do Michael Lewis em Princeton, lembrei do meu discurso de oradora da turma, quando foi a minha formatura. Foi tão gostoso, tão… tão aplaudido, que até o Tas, que tinha sido nosso patrono, retuitou e elogiou às pampas. Tão gostoso isso. O tempo passou e resolvi reler o menino pra ver se ainda faz sentido.

A gente tem noção da responsabilidade que é ser oradora da turma de Publicidade e Propaganda. Quando eu disse que ia ser oradora, minha mãe falou o de sempre: AI, FILHA, QUE LEGAL, VOCÊ É TÃO CRIATIVA. FAÇA UM DISCURSO MUITO CRIATIVO.
A esperança dela era que a gente criasse um discurso que fizesse tanto sucesso quanto o Use o Filtro Solar. Que um dia, quem sabe, virasse um vídeo no YouTube lido pelo Pedro Bial.
Aí, como boas publicitárias, a gente tentou ser artista: pensou em se inspirar no Arnaldo Antunes e fazer umas rimas abstratas.
A gente tentou ser moderna: pensou em escrever um discurso em 140 caracteres que coubesse no Twitter.
Só então a gente resolveu começar do começo. Então, nos fizemos a seguinte pergunta: o que é fazer Comunicação Social na Faculdade Cásper Líbero?
Enfrentar a fila do Monet, no terceiro andar, disputando atenção com as belas e escovadas meninas de Relações Públicas – um curso que a gente até hoje não entendeu.
Discutir política com o pessoal de Jornalismo, tentando não confundir os caras, todos iguaizinhos o Marcelo Camelo.
Passar pelo pessoal colorido de Rádio e TV. Todos eles sonhando ser grandes diretores, mas aceitando quem sabe começar a carreira como redatores na Gazeta.
E o pessoal de Turismo.
E por fim… ah, nós, os publicitários. Nós, os artistas que não deram certo. Os administradores que eram legais demais pra fazer administração e medrosos demais pra ser cineastas. Os criativinhos se achando alternativos porque usavam Allstar. As atendimentos, bonitas, eloquentes e presentes em todas as baladas. Os mídias, que descobriram o que era ser mídia lá pelo terceiro ano da faculdade. Os planejamentos, criativos frustrados que trocaram o Photoshop pelo PowerPoint. Os que estão em empresas, os temidos clientes, lidando com toda essa fauna. E os veículos, que passam a vida bajulando ora um, ora outro.
E todos, de um modo geral, que aguentaram os quatro anos de faculdade sendo apresentados como “o sobrinho que faz JORNALISMO na Cásper Líbero”. Todos, de um modo geral, que sempre vão ouvir das pessoas “MUITO LINDO SEU ANÚNCIO”, mesmo que não tenham sido os responsáveis pela sua beleza.
É incrível: você pode dizer: “mas eu só fiz o texto. Mas eu só fiz o planejamento de mídia. Mas eu só servi o café”. Não adianta. Aquele logotipo amarelo e roxo e o garoto propaganda vão chamar sempre mais atenção.
Quem se forma em 2009 encontra um cenário peculiar. O que na verdade é um eufemismo pra “um puta cenário desanimador”: a crise (a gente precisava falar nela, é hype), suas mil demissões e o mercado instável. Isso fez a gente se formar sem ficar muito sossegado. E isso é muito bom.
Ano passado, dois profissionais de grandes agências tiveram uma famosa discussão sobre o que os publicitários devem fazer na crise. Um deles, o Nizan, dizia que com a crise se deve apostar no óbvio. O modelo antigo: propaganda na Globo, com a Ivete Sangalo cantando um jingle! O outro, o Fábio Fernandes, falava: tem que apostar no novo. Agora é a hora de se jogar, ousar, ser mais criativo e testar um novo modelo de propaganda.
E a gente? Escolhe a Ivete ou o assustador desconhecido? Agora já era. A gente tá aqui, já passaram os Jucas, no máximo temos umas DPs pra fazer. Chegou a hora de decidir. O certo? Não se sabe. Mas a nossa obrigação, a gente desconfia: quem acaba de cair no mercado tem que aproveitar o embalo – se jogar no novo, no mais simples, no mais criativo. No que faça as pessoas usarem a cabeça. Que não confunda público alvo com painel de tiro ao alvo. É mais do que nossa obrigação. O mundo tem que mudar, e a gente tem que ajudar nisso.
Ou é isso, ou a fama de publicitário vai continuar aquela coisa linda: gente que só sabe enganar pessoas e comer criancinhas bebendo uma Original no happy hour. Ou pior, gente que só sabe fazer aqueles anúncios das Casas Bahia.
Aí vêm as pessoas sagazes e perguntam: se todas as pessoas do mundo desaparecessem e sobrassem só alguns profissionais, qual seria a utilidade de um publicitário? Publicitário não salva vidas, como um médico, não constrói pontes, como um engenheiro. Só faz umas piadinhas medíocres e ganha Cannes.
Mas um publicitário teria uma boa ideia. Essa é nossa utilidade. Propaganda é mais que um anúncio foda. É ter ideias, e fazer com que elas aconteçam. É pensar em alguma ideia genial que usaria um estetoscópio de um médico pra construir uma ponte engenhosa. É usar tudo como fonte de inspiração, pra melhorar a vida das pessoas. Se não é, devia ser.
Pra terminar, agora menos corporativas, vamos falar mais da vida. Aqui vai um trecho de um post de um amigo nosso que também está se formando agora. Ele escreveu: estamos em crise na crise. Fora a crise global, é a nossa crise interna dos 20 e poucos anos que nos atormenta, e nos faz pensar o que estamos fazendo das nossas vidas.
Que história queremos contar depois? Ser feliz profissionalmente, bem sucedido, ganhar bem, morar numa cidade bacana. Isso é tudo? O fundo da questão é maior que esse: é ser uma pessoa interessante, e tornar o mundo mais interessante.
Se fosse uma estratégia de marketing, seria esse um Objetivo Geral. Tornar sua vida, e a dos outros, mais interessante, é o que importa. Ter impressões, não de banner, mas do mundo. Compartilhar arquivos online, mas lembrar que o mais legal ainda se compartilha offline.

Hoje, cinco anos de vida e de alguma experiência depois, posso dizer: as piadas e citações da faculdade não fazem mais o menor sentido (e como isso é estranho/triste/normal, né…?) e o amor pela publicidade não acabou porque ele nunca existiu. Porque sempre fui apaixonada por ideias, e não por títulos – e hoje cada vez mais acredito que publicidade vai se entrelaçar com design (não é à toa que estou fazendo pós em design), porque quem manda são as ideias. Ou deveria ser. Não fosse o excesso de crença na tecnologia pela tecnologia, o excesso de veículo gordo, excesso de happy hours, o excesso de departamentos querendo trabalhar um contra o outro e a falta de gente legal que consegue criar uma boa ideia sem consultar o FWA ou pedir permissão.

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3 Comments

  • Ale Nahra
    Posted 27 de janeiro de 2013 at 16:04

    Francine, tu é um dos maiores exemplos de (muito) talento sendo empregado pelas forças do mal 😉

    • Francine Guilen
      Posted 29 de janeiro de 2013 at 10:48

      por pouco tempo, Ale. POR POUCO TEMPO. 🙂

  • Lu
    Posted 1 de fevereiro de 2013 at 17:32

    Beleza, Fran. Continue acreditando nas suas idéias. O mundo precisa de muiiiitas pessoas assim.

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