Se tem uma coisa que não gosto é da #gratidão. Acho besta, acho cafona e usada demais e sem sentidomente.
Se tem uma coisa que acho polêmica é ficar falando pra alguém que a vida é perfeita, basta ser otimista e sorrir até a bochecha doer, aí tudo o que você vai notar é a dor na sua bochecha e esquecer do resto das dores da vida.
Mas se tem uma coisa que suplanta as duas coisas acima é minha raiva com nossa tendência a entrar na loucura da massa e esquecer de usar nossa própria massa cinzenta.
Ontem eu entrei na loucura da internet e fiz uma brincadeira falando pras pessoas escolherem seus sentimentos em relação a 2016 no meu tumblr irônico Tudo Ótimo, Babaca. A piada foi ótima, mas foi naquele momento que eu comecei a pensar na injustiça que eu estava cometendo.
Pois bem. Globalmente, 2016 foi um ano horroroso. O mundo anda uma panela de pressão, com decisões políticas esquisitas e marcantes em todo canto, crise no Brasil, guerras cada vez mais presentes, separações de celebridades, mortes de celebridades.
Mas às vezes precisamos colocar o mundo em perspectiva. E separar o mundo da gente. E, no meu caso, perceber que apesar de 2016 ter tido sua cota de impossibilidades na minha vida, ele felizmente/graças a Deus não foi assim tão terrível pra mim. A verdade é que 1. A panela de pressão não me pressionou muito. Não sei o que ela vai fazer no futuro – se entupir e explodir de vez ou no fim vai só virar um caldo gostoso (não sei, nesse mundo doido tudo é possível, não é?), mas por enquanto pra mim ela tem sido apenas uma presença pra ficarmos de olho na cozinha desse planeta*. 2. Aqui em casa a crise apareceu na nossa vida de uma maneira mais doida que cruel (de certa forma, graças a ela estamos tentando construir uma nova vida muito mais legal que a anterior). 3. A guerra é uma realidade que felizmente nunca vivi. 4. E especialmente, apesar de celebridades importantes terem se separado ou partido, olha que coisa boa, na minha família e amigos não tivemos nenhum desses casos esse ano.
Deu pra entender o raciocínio? É por isso que acho uma hipocrisia do caramba eu sair xingando um ano que não foi tão cruel comigo, especificamente.
Houve sofrimento, houve perda e tristeza pra muita gente – muitas pessoas foram diretamente afetadas e sofreram de verdade nesses 366 dias (sim, um dia a mais, porque desgraça pouca é bobagem). E é justamente por essas pessoas que acho melhor mudar meu discurso. É injusto comigo mesma e PRINCIPALMENTE com elas que eu – eu como indivídua, pessoa, privada, particular – comece a xingar 2016 só porque está na moda. Não me sinto no direito, pra falar a verdade.
Se 2016 foi terrível pra você, você tem todo o direito – vai lá, xingue, poste, mande à merda – eu mesma fiz isso em 2011 (minha foto de feliz ano novo em 2011 é clássica [pra quem não lembra/sabe, ela figura eu mostrando dois dedos, um para cada 1 do ano]) e tinha toda a razão (como 2011 foi ruim pra mim, aquele cretino…) – mas acho muito importante, antes de mais nada, ser sincero e não mais um na onda de posts em busca da melhor piada.
A vida é uma eterna questão de equilíbrio – entre não se alienar em si mesmo e não se alienar na massa. E acho que se alguém pode ajudar a melhorar o mundo é quem, nele, ainda está em condições de acreditar que as coisas podem ser boas.
Assim, obrigada por ter sido esquisito porém bom pra mim, 2016. E que 2017 seja mais gentil com todos nós.
Uma foto de duas coisas boas de 2016: minha avó, que fez 80 anos, e meu sobrinho, que nasceu em junho. 🙂
*O que me fez pensar, depois de escrever esse post, o quanto de ódio a 2016 na verdade é mais do que tudo, medo do que as decisões tomadas em 2016 venham a se tornar em 2017 e nos próximos anos. Ou seja, não é ódio a 2016, mas medo dos anos que vêm. Assim, e se em vez de ficarmos xingando o ano que já se passou (e que não é uma entidade e sim uma quantidade de dias que quem mede é a gente), que tal se nos prepararmos para os próximos anos, esses sim sobre os quais ainda temos algum poder? Enfim, filosofia pós-post pra arrematar. 🙂