Colmar é linda. Uma cidade charmosa e boa pra um só dia de viagem, coroada por um carrossel de 1900 que diz ser o maior da Alsácia (ou o maior de alguma coisa que não me lembro agora). Caso vocês não saibam, eu sou uma colecionadora de carrosséis. Amo esse brinquedo e sua poesia e sempre que eu e o marido encontramos um, é tradição: vamos nele. Eu sempre achava simpático encontrar carrosséis por todos os cantos de Paris – até que nessa viagem descobri, com muita alegria, que aparentemente toda cidade da França conta com um (excetuando vilarejos e comunas – que, hoje descobri, são coisinhas tão compactas que funcionam como um grande condomínio maravilhoso – com um salão de festas para toda a cidade, quadro de avisos e um banheiro público – que salvou minha vida no meio da viagem de hoje). Fiz uma pesquisinha para tentar entender o porquê dessa onda tão grande de carrosséis por aqui e não encontrei. Só tenho uma razão lógica para apresentar: porque a França é demais e feita pra mim. 🙂
Colmar só não foi mais incrível para nós porque já estávamos bem repletos de Alsácia já que ficamos bastante em Estrasburgo, empanturrados de chucrute e pães de especiarias.
Malas no carro, fomos em direção à Dijon, na viagem mais emocionante da viagem até agora – e vou deixar a ordem das fotos abaixo mostrar mais ou menos como ela foi.
Imaginem vocês que não faz nem 1 ano que o maridão tirou a carta de motorista. Como disse no primeiro post sobre a viagem, um dos meus medos era esse lance todo de dirigirmos (dirigirMOS nada – eu nem toquei no volante ainda!) o tempo todo sem ter muita prática… e voilà. Acontece que ao viajar aqui pela França, todos os guias e GPSs dão sempre duas opções: o caminho mais rápido, mais caro e mais chato – pela autopista – e o caminho muitas vezes mais longo, mais barato e mais bonito – a rota cênica. É claro que optamos pela segunda opção! Só que ela às vezes é meio… como podemos dizer… cênica demais. É tipo usar o Waze no Brasil e cair no morro… com a diferença que o morro aqui é ALGUM LUGAR CUJO NOME JÁ ESQUECI QUE FICA PERTO DE UMA ESTAÇÃO DE ESQUI.
Pensa numa fase de videogame em que a coisa complexa vai ficando cada vez mais complexa… foi mais ou menos isso. A estradinha era tensa mesmo antes da neve. Quando vimos, estava nevando – e aí não tinha muito o que fazer e seguimos em frente e acima. Enquanto o Julio acreditava piamente que eu ia conseguir achar no manual de instruções o que significava a função SNOW do carro (dica: parou de nevar e eu não encontrei até agora), fomos subindo, subindo, subindo, a neve foi caindo, caindo, caindo, atolamos na neve (foi ótimo), pessoas se ofereceram para nos ajudar e quando conseguimos sair do outro lado nos deparamos com um restaurante num chalé de madeira pique estação de esqui de filme dos anos 20 (foi essa associação que fiz, já que não costumo esquiar na vida) e comemos por lá.
Aí o resto da estrada já foi mais tranquilo até o momento em que fomos parados pela polícia pela primeira vez na viagem (tô falando que foi emocionante!!!). A reação minha e do Julio não poderia ter sido mais diferente – e mais errada: o Julio travou e não sabia onde ficava o botão para abrir o vidro da janela do carro enquanto eu já estava tirando o cinto de segurança querendo descer do carro em movimento. Gastamos nosso francês respondendo de onde vínhamos e para onde íamos e o policial deu uma de bridge keeper do Monty Python e mandou um “belê, pode ir” em francês sem pedir documento, sem pedir nada.
Foi assim que chegamos em Dijon, que seguiu o tema da viagem e se mostrou a cidade mais esquisita da França até agora. Primeiro, que estou ainda aprendendo a lidar com o VAZIO. Cria de São Paulo e da Baixada Santista, não estou acostumada a cidades que morrem em momentos do dia. Aqui na França, em especial nas cidadelas pequenas – mas também nas maiores, como Dijon, tudo fecha para o almoço (não lembrava que esse conceito existia, olha que doideira), pouquíssimas coisas abrem aos domingos e segunda feira é meio que facultativo – e uma coisa que estou achando doida pacas – das 18h às 19h AS CIDADES DORMEM. Você anda na rua, no escuro (aqui está escurecendo bem cedo, cinco da tarde já é noite), ouvindo seus passos, vendo sua fumacinha de frio sair da boca e torcendo para encontrar alguma coisa aberta pra jantar. E O SILÊNCIO POR TODO LADO?? É de endoidecer. Eu vivia reclamando do barulho do Centro de São Paulo na janela do meu quarto toda noite – e aqui estou colocando música pra dormir porque não se ouve nada. :O Também ando com saudades do sol, mesmo amando o frio… sou uma mentira ou o quê?
Enfim, calhou de ficarmos um fim de semana e uma sexta de feriado em Dijon e vimos duas cidades completamente diferentes: sexta e domingo tudo estava deserto. Sábado tudo estava cheio, pessoas passeando na feira (todas com cestas, achei tão sympa!), muitos turistas comendo as especialidades borgonhesas e saindo pelas tabelas. Assim, vivemos um 8 ou 80: ou a cidade estava cheia demais, ou vazia demais.
Achei curioso ver a diferença bem grande entre as cidades da Alsácia e dessa capital da Borgonha: Dijon me pareceu bem esquecida, os museus são tosquitos, é tudo meio mambembe… e é por isso que eu gostei bastante dela. Achei ela real, mais sincera, com suas sujeirinhas e suas igrejas do século XII entrecobertas de limo e não iluminadas. Mas entendo o porquê do Julio não ter gostado tanto assim da cidade – ele prefere o primor e rigor germânico que vimos na Praça Stanislas, em Nancy, por exemplo, onde de manhã vimos o pessoal passar na praça e varrer as pedrinhas dos jardins. Gosto muito de ver e reconhecer esses tipos de belezas diferentes. 🙂
Em Dijon, compramos um guiazinho no Escritório de Turismo para acompanhar umas setinhas de metal que se espalham pela cidade inteira de maneira relativamente organizada para você conhecer os principais pontos turísticos dela. Acho que é algo meio padrão pela Borgonha, já que a cidade em que estamos dormindo hoje (Auxerre) e uma outra pela qual passamos agora de tarde (Samur-en-Auxois) também tinham plaquetinhas dessas pelo chão!
Por fim, acabamos mexendo um pouco nessa perna da viagem de agora: nosso plano era fazer Dijon-Tours direto, mas vimos que ia ser uma viagem muito longa e cansativa e acabamos cortando em várias cidades – vamos dormir uma noite em cada uma. Hoje, estamos no hotel Le Parc des Maréchaux em Auxerre – um hotel sensacional, que achávamos que ia ser todo detonadinho e na verdade é uma diversão super aconchegante e temática. Imagina dormir num hotel com um pique meio murder mistery e uma janela para um parque privativo extremamente silencioso (SIM, S I L E N C I O S O). Brrrrrr.
O trajeto de Dijon até aqui foi o mais lindo da viagem até agora. Teve até parada em cidades aleatórias – paramos na cidade de Guillon só porque parecia com o meu sobrenome, tipo isso – e descobrimos essa coisa linda que está no meio das fotos aí embaixo.
Esses últimos dias andei chegando bem cansada das andanças, um pouco preguiçosa de escrever e dormindo bem cedinho. Se tem uma coisa que eu gostaria de mudar nessa viagem é que eu queria estar mais tranquila, mais passeando, mas ando extremamente tensa com as perguntas o tudo-está-bem? vou-sobreviver-50-dias-fora-de-casa? martelando na cabeça. Quem já teve síndrome do pânico sabe como é ficar com medo de ficar com medo e essa chatice toda. Mas tenho tentado respirar fundo e pensar no momento quando essas crises têm me batido. Se alguém tiver dicas, tô aceitando!
Ufa, acho que já deu por hoje. Pelo menos tirei o atraso. Hoje teve até 3 capítulos do meu livro e o primeiro desenho do Um Ano Agradável 2017!!!!
Portanto, não sei nem se vou revisar esse post, porque já passa da meia noite e já super deu a hora de repousar. Assim, se tiver alguma ZUERA no texto, perdoai-me obrigada de nada.
:*