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Franando na França #9: Expectativas x Realidade x Estou aqui vivendo esse momento lindo

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Quando você vê minhas fotos no instagram ou quando ouve falar “estou nesse castelo no meio de vinhedos da região de Bordeaux para terminar meu livro e está sol, e está um céu azul maravilhoso e hoje depois do almoço fui dar uma volta a pé para reconhecer a região e tirei fotos lindas, depois de passar a manhã escrevendo enquanto o meu marido ilustrava, ouvindo jazz com a luz do sol vazando pelas janelas”, o que pensa?

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Não sei se é coisa da humanidade em geral, mas sei falar por mim, que eu sou uma eterna embevecida com as histórias dos outros. Acho que eu sou imaginativa demais e sempre não só imagino a grama do vizinho mais verde, mas também florida e com Noviças Rebeldes cantando nela. O fato é que quando via as fotos ou conversava com pessoas que fizeram uma viagem parecida com essa nossa, que pegaram um carro e ficaram flanando pelas vinícolas da França, eu ouvia aquilo achando tudo tão chique e ao mesmo tempo tão gostoso – e me achando até um pouco menos sofisticada que eles, menos letrada, menos viajada. Ficava só imaginando essas pessoas andando de vinhedo em vinhedo, sentando na mesa da vinícola junto com velhinhos viticultores e conversando em francês e depois chegando de noite e tomando banho de banheira no castelo mais cheiroso e limpo da França. Que delícia maravilhosa, que sonho.

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Aí corta para a vida real, em que banho de banheira na verdade é tomar banho com uma mão só (porque a outra está segurando um chuveirinho). Para a vida real, em que o castelo tem cheiro de castelo. Para a vida real em que você, a muito contragosto, percebe que fazer um tour por vinícolas não faz sentido para você porque você e seu marido nem são assim tão fãs de vinho e não curtem a ideia de dirigir depois de uma degustação. Para a vida real em que você aborta logo seus planos de fazer uma caminhada pelos arredores do hotel-castelo porque por onde passa os cachorros começam a latir loucamente e incomodar os donos das propriedades em volta, que saem nas janelas para xingar os cachorros e porque um dos cachorros resolve correr atrás de você. Para a vida real, em que você sobe em um murinho para sentar nele, achando que estava arrasando de lindona, só para sair na foto com uma barriguinha proeminente e uma franja sebosa.

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Mas aí você ri e olha para a vida, agradecida. Acho que pra mim, a vida sempre foi esse eterno decidir entre o que fazer com esse vão entre a vida que eu imaginava e a vida real. E eventualmente, decidir fazer o melhor dele.

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Porque esse vão pode te transformar em um eterno resmungão ou um eterno deslumbrado. E, pra te falar a verdade, não gosto de nenhum dos dois personagens. Tanto o primeiro quanto o segundo podem ser bem xaropes depois de um dia ou dois. O primeiro, um xarope azedo e o segundo um xarope doce demais e difícil de engolir. O que gosto é do terceiro personagem, um pouquinho salgado, talvez: ele é algo entre os dois, um ser que abraça a vida real e suas realidadinhas engraçadas, mas sem perder o encanto. Sem perder a noção de que sim, é um sonho poder ter passado a manhã escrevendo num castelo, almoçado um pato maravilhoso, andado debaixo desse céu azul do hemisfério norte sem nada pra pensar a não ser nas letras que quero dizer e no meu amor pelo meu marido e pela vida que ainda vem.

Não, pra falar a verdade, não é um sonho. É muito mais legal que um sonho. Porque é real. E o legal da vida real é que ela é assim, real. Com tudo de agradável e de verdadeiro que existe na realidade. 🙂

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Franando na França #8: Nantes, depois e um monte de coisa

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Esse abaixo foi um post que ficou preso na pasta de rascunhos. Escrevi ele logo nos primeiros dias em Nantes. A partir de agora, estou com vontade de mudar um pouquinho o esquema dos posts franando na frança. Amanhã vamos ficar em um hotel por alguns bons dias. E começará o momento HORA DE TERMINAR O LIVRO da viagem. Hora de assumir a responsa de escritora. Assim, tive uma ideia de fazer posts mais Mark Twains e menos bloguetes. Mais no estilo do meu livro e menos no estilo mimimi estou aqui. Vejamos o que conseguirei fazer.

Mantive o post abaixo para não jogar fora o trabalho. Mas misturo no texto várias fotos de outros dias naquela cidade fantástica (no sentido fantasia da palavra, mesmo). Escrevo agora de La Rochelle, uma belezinha de cidade incrustada no Oceano Atlântico que manda um oi lindo. Fotos dela no meu instagram (e aqui mais tarde, talvez!).

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O post dos primeiros dias em Nantes:

“Quando começamos a pesquisar as coisas da viagem, uma cidade nos chamou a atenção. Ela não tem belezas maravilhosas e nem é charmosa como muitas das cidades pelas quais já passamos e certamente ainda vamos passar – mas nos apaixonamos por algumas das atrações dela e por um detalhe muito interessante para nós: é a cidade natal do Julio Verne, autor que eu e o marido amamos! O nome dessa cidade é Nantes, que fica logo na divisa entre a Bretanha e o Loire, mais conhecida como Loire-Atlântico. Assim de cara ela nos pareceu uma doideira steampunk, pelos seus museus e essa mistura do novo e velho, da terra e da água que fazem parte dela. Nos apaixonamos tanto por ela à distância que reservamos 5 dias da viagem para ficar aqui, um dos lugares que mais vamos passar tempo por aqui.

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Hoje começamos a curtição por aqui, para entender se esse namoro à distância se consumaria. A cidade é grande, não é linda, mas pulsa uma cultura mais underground que curti bastante! Estamos hospedados em um apartamento encontrado no Airbnb e que já entra na onda do bizarro e fascinante: nossa cama fica praticamente grudada no teto, separada do resto do apê por uma escadinha meio difícil de descer (diz a pessoa que morre de medo de altura e ainda está achando essa cama muito assustadora)!

O programinha hoje cedo foi passar no mercadão municipal da cidade porque já tinha planos para a noite: estava morrendo de saudades de cozinhar! O mercadão era bem interessante, com uma ótima variedade de frutos do mar (vivos! :O) e uma movimentação sensacional – continuo achando muito legal o costume dos franceses de levar cestas de palha para comprar as coisas.

Queria cozinhar no modo easy e não quis inventar comprando ingredientes muito ousados. Mas e a dificuldade de encontrar “ingredientes comuns” no hemisfério norte? Rodamos o mercado inteiro pra encontrar alho, cebola e salsa, simples assim.  Pedi deux cebolas (duas cebolas), o moço entendeu des cebolas (umas cebolas) e foi metendo cebola no saquinho. A diferença que um biquinho faz no francês é incrível.

Aí compramos azeitonas pretas, massa fresca de talharim e tomates cereja amarelos e vermelhos.

Em seguida, partimos para o Castelo dos Duques da Bretanha, que nada mais é que um museu extremamente moderno e surpreendente sobre a cidade de Nantes. Não, você não está entendendo: entramos nele às 10h30 e saímos às 13h30. E não vimos o tempo passar. :O Achamos que íamos fazer aquele básico 1 horinha em um palacinho pequeno e acabamos fazendo a via sacra da Idade Média até a Segunda Guerra e saímos quase tarde demais para o almoço. Entendemos tudo de Nantes e estamos prontos para continuar conhecendo essa cidade-sereia amanhã!

Depois de um delicioso almoço tardio que acabou também tarde, decidimos encerrar o dia no Jardin des Plantes. Nele, tínhamos uma missão: tirar uma foto com uma escultura de arbusto em forma de pato gigante que vimos em todos os guias de Nantes. Ao chegar aqui, rodamos o parque inteiro e não encontramos o dito-cujo, que deve ter imigrado no inverno ou coisa assim. Mas encontramos muitos de seus primos vivos – cada pato mais lindo que o outro! Meu marido fã de pato amou tudo.

Pato foi mesmo o tema do dia hoje. Entramos num antiquário e encontramos um pato dourado incrível para nossa coleção de patos e levamos! Eu quis ser toda simpática com o senhor que me atendeu e perguntei qual era a história do pato em questão. Sua resposta foi sensacional: “não tem história. Ele nasceu e ele morreu, essa é a história do pato, é uma história estúpida.”

A receita da janta de hoje?

Antes de mais nada, lave toda a louça – porque louça de Airbnb é sempre um mistério.

Cozinhe o macarrão na água com óleo e sal encontrados no apartamento.

Case-se com um marido que saiba picar muito bem as coisas e peça para ele picar 2 cebolas, 1 dente de alho gigante (alho aqui é coisa de gente grande) e a salsinha – e cortar no meio os tomates cerejas.

Refogue a cebola e o alho.

Jogue o tomate e azeitonas pretas.

Tempere com sal e pimenta do reino encontrados aqui.

Jogue a salsinha.

Mate as saudades de comer uma comidinha caseira.

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Franando na França #7: Do loire não há mais nada a dizer

Pra ler ouvindo

Uma vez, há alguns anos, me falaram pra, quando eu viesse pra França, pegar uma bicicleta e pedalar no Loire, região da França famosa pelos seus castelos, que margeiam um rio maravilhoso (o Loire, que é quem nomeia a região). Na minha mente de quem na época nunca tinha viajado pra fora, visualizava esse trecho da França de uma maneira extremamente poética: pensei num rio lindíssimo, onde eu pedalaria literalmente entre castelos, distribuídos de maneira homogênea, mais ou menos de 1 em 1 km. Nada de cidade, apenas um campo verde ladeado por castelos, bastava escolher um e visitar. Depois era subir na bike e seguir para o próximo.

Não precisa nem contar que o Loire é sim um rio bonito e existem sim castelos nos seus arredores, mas que ele não é bem o que eu imaginava quando mais jovem, né? Não que eu tivesse isso em mente quando pensava nesse trecho da viagem agora em 2016, já mais velha e vivida….

Mas eu preciso contar uma coisa pra você: puxa o banquinho e tenta não me interromper dizendo MAS COMO ASSIM É LINDO. Eu não gosto de castelo. Deixa eu tentar explicar. E vou explicar contando um pouquinho sobre minha sobrinha de 3 anos. A Júlia é uma das (mini)pessoas mais empolgadas com nossa viagem, a toda hora perguntando se já tínhamos visto muitos castelos por aqui. Assim, quando chegamos aos castelos do Loire, a primeira coisa que fizemos foi mandar fotos e vídeos deles, especialmente para ela. A resposta demorou para chegar e quando veio, foi apenas um áudio no whatsapp com a seguinte pergunta: MAS CADÊ OS CAVALOS VOADORES?

Júlia, é exatamente isso que eu me pergunto. Morando em um país sem cultura de castelos e assistindo a eles em filmes e desenhos da Disney, sempre tive uma imagem super fantasiosa: coisas imensas, suntuosas, de uma riqueza incrível, com fadas, princesas de vestidos brilhantes e seus bichinhos cantores circulando ao seu redor. Mas sempre que visito um castelo eu me sinto enganada. Além de serem menores e mais pelados, eles são apenas… castelos. E não os castelos que eu castelava na cabeça, castelos imeeeensos, raros, em que só reis e rainhas viviam, com seus cortesãos e seilámaisoquê. Corta para a realidade: castelos eram o duplex dos séculos passados. Bastava ter um dinheirinho e um parente rei que você garantia o seu castelo. Vai daí que o Loire, a região da França famosa pelos seus castelos, tem CENTENAS de castelos. Porque castelo na França saía mais que chuchu na Serra. Os caras têm tanto castelo que não sabem nem o que fazer com eles: o que tem por aqui de castelo que virou hotel ruim ou cenário de ensaio de casamento não tá escrito no gibi. Claro que existe espaço para castelos maiores e mais bonitos, mas mesmo eles ainda estão me devendo cavalos voadores.

Com tudo isso em mente, você já deve ter sacado que eu não tinha grandes expectativas em relação ao Loire. O plano inicial era ter ficado dois dias em Tours e dois dias em Vitré – plano muito baseado nas dicas do Lonely Planet, o livro-guru que estamos consultando na viagem. Porém, como vimos que a viagem de carro ficaria muito cansativa, quebramos ela em 4 etapas: um dia em Auxerre, outro em Orléans, aí sim fomos para Tours e em seguida Vitré (que foi um desvio da viagem, só porque cismei que era uma cidade linda – e acertei). Fizemos esse trecho quase sempre margeando o rio Loire – e vendo alguns castelinhos no caminho.

No saldo geral:

– chegamos de noite em Auxerre e não conseguimos ver muita coisa – mas tudo que pude notar é que era uma cidade MUITO SILENCIOSA e ficamos no hotel mais legal da viagem até então, como falei no post anterior.

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– nos apaixonamos por Orléans! Foi uma cidade que escolhemos meio aleatoriamente. O Lonely Planet não fez jus nenhum à cidade, que curiosamente se transformou em nossa cidade favorita da viagem até agora! Ela tem o equilíbrio certo entre tudo o que eu e o Julio gostamos – cultura, poesia e uma onda meio alternativa pairando no ar, umas ruinhas bacanas de compras, roda gigante e carrossel. É nela que vimos o rio Loire pela primeira vez! A cidade tem uma ligação super forte com a Joana D’Arc. Gostei muito de conhecer mais sobre essa santa feminista. Ah! Ela também tem a Catedral mais bonita que vi na vida (e olha que já foram muitas só nessa viagem!). Pensa num interior gigantesco e muito bem conservado, com música sacra tocando em um sistema de som maravilhoso (sem fotos, porque não gosto de fotografar interior de igrejas).

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– já Tours, que segundo o guia era a cidade ideal para se aportar no Loire, nos foi bem opaca. Cidade nem grande nem pequena, sem charme nenhum. Tanto que nem lembro o que fizemos lá, além de uma visita ao castelo da cidade… que, veja você, não tem cavalos voadores. É uma galeria de arte bem normalzinha. Acho que o que mais marcou foi entrar na Catedral (sim, aqui é overdose de igreja católica, vi só hoje pela primeira vez uma igreja batista) e ver o órgão de tubo tocando ao vivo pela primeira vez. Incrível.

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– pra não dizer que não fomos em nenhum dos castelos mais famosos, além de passar em frente de alguns bem bonitos, tentamos ir ao Castelo de Villandry, mas ele tinha fechado dois dias antes para reabrir só ano que vem (uma mistura de azar com falta de consultar o site antes de ir :D) e acabamos indo de verdade no Castelo de Brézé. O legal dele é que é um castelo com um subterrâneo gigante bem divertido para nós, o casal que ama um buraco embaixo da terra e… bem, é isso, também não tinha cavalos voadores. Mas o dia estava lindo demais, com um sol que anda muito fujão enfim dando as caras por aqui!

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– por fim, almoçamos em Saumur num restaurante delícia e chegamos em Vitré já bem no fim do dia. Achamos a cidade uma simpatia só. Ficamos no hotel Le Petit Billot, que é praticamente uma casa de vó com muitos quartos, uma fofurinha engraçada. Depois de um dia super cansativo na estrada e um perrengue pra achar estacionamento, fomos procurar um jantar por lá e nunca tivemos uma tradução melhor do que significa “confort food”. Amo comida francesa, tenho acertado mais que errado nas comidas por aqui (especialmente agora que estamos mais longe da Alsácia), mas nunca pensei que um KEBAB seria a comida mais abraçada pelo meu estômago nos últimos dias! Sério. Depois de negar vários restaurantes franceses de Vitré, encontramos um kebab com cara boa e resolvemos entrar. O kebab veio com um tempero que me levou de volta pra casa: um cuscuz marroquino temperado com um refogado de alho e cebola que não fez sentido nenhum, mas foi sensacional. Incrível como uma base de tempero tão simples pode traduzir tão simplesmente nossa casa. <3

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E essa foi nossa passagem no Loire! Vejam vocês que não falo nada da paisagem (que era linda)… é que meu negócio é flanar nas calçadas, não tem jeito. Tenho cada vez mais percebido que meu jeito de viajar (e o do marido também, um pouco) é a paixão por sentir o pulso da cidade.  Não o pulso óbvio, aquele das Galerias Lafayette, da H&M e da Zara, não. O que amo é encontrar o centro de compras alternativas, sacar o estilo de vida, perceber o que se cria naquela cidade especificamente. Prefiro mil vezes parar no meio de uma rua cheia de quinquilharias estranhas locais a parar o carro em um ponto bonito e tirar foto da paisagem. 🙂 Foi depois de cruzarmos o Loire inteiro e parado apenas uma vez por DOIS MINUTOS pra tirar uma foto só pra dizer que tiramos (e aproveitar pra pegar alguma coisa que esquecemos no porta malas) que percebemos isso.

E foi isso que aprendemos sobre nós mesmos nesse trecho da viagem. E você? Qual é seu jeito de viajar?

Rumo ao meio da viagem!

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Franando na França #6: Colmar, Dijon, Auxerre, carrosséis, estradas e silêncio

Colmar é linda. Uma cidade charmosa e boa pra um só dia de viagem, coroada por um carrossel de 1900 que diz ser o maior da Alsácia (ou o maior de alguma coisa que não me lembro agora). Caso vocês não saibam, eu sou uma colecionadora de carrosséis. Amo esse brinquedo e sua poesia e sempre que eu e o marido encontramos um, é tradição: vamos nele. Eu sempre achava simpático encontrar carrosséis por todos os cantos de Paris – até que nessa viagem descobri, com muita alegria, que aparentemente toda cidade da França conta com um (excetuando vilarejos e comunas – que, hoje descobri, são coisinhas tão compactas que funcionam como um grande condomínio maravilhoso – com um salão de festas para toda a cidade, quadro de avisos e um banheiro público – que salvou minha vida no meio da viagem de hoje). Fiz uma pesquisinha para tentar entender o porquê dessa onda tão grande de carrosséis por aqui e não encontrei. Só tenho uma razão lógica para apresentar: porque a França é demais e feita pra mim. 🙂

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Colmar só não foi mais incrível para nós porque já estávamos bem repletos de Alsácia já que ficamos bastante em Estrasburgo, empanturrados de chucrute e pães de especiarias.

Malas no carro, fomos em direção à Dijon, na viagem mais emocionante da viagem até agora – e vou deixar a ordem das fotos abaixo mostrar mais ou menos como ela foi.

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Imaginem vocês que não faz nem 1 ano que o maridão tirou a carta de motorista. Como disse no primeiro post sobre a viagem, um dos meus medos era esse lance todo de dirigirmos (dirigirMOS nada – eu nem toquei no volante ainda!) o tempo todo sem ter muita prática… e voilà. Acontece que ao viajar aqui pela França, todos os guias e GPSs dão sempre duas opções: o caminho mais rápido, mais caro e mais chato – pela autopista – e o caminho muitas vezes mais longo, mais barato e mais bonito – a rota cênica. É claro que optamos pela segunda opção! Só que ela às vezes é meio… como podemos dizer… cênica demais. É tipo usar o Waze no Brasil e cair no morro… com a diferença que o morro aqui é ALGUM LUGAR CUJO NOME JÁ ESQUECI QUE FICA PERTO DE UMA ESTAÇÃO DE ESQUI.

Pensa numa fase de videogame em que a coisa complexa vai ficando cada vez mais complexa… foi mais ou menos isso. A estradinha era tensa mesmo antes da neve. Quando vimos, estava nevando – e aí não tinha muito o que fazer e seguimos em frente e acima. Enquanto o Julio acreditava piamente que eu ia conseguir achar no manual de instruções o que significava a função SNOW do carro (dica: parou de nevar e eu não encontrei até agora), fomos subindo, subindo, subindo, a neve foi caindo, caindo, caindo, atolamos na neve (foi ótimo), pessoas se ofereceram para nos ajudar e quando conseguimos sair do outro lado nos deparamos com um restaurante num chalé de madeira pique estação de esqui de filme dos anos 20 (foi essa associação que fiz, já que não costumo esquiar na vida) e comemos por lá.

Aí o resto da estrada já foi mais tranquilo até o momento em que fomos parados pela polícia pela primeira vez na viagem (tô falando que foi emocionante!!!). A reação minha e do Julio não poderia ter sido mais diferente – e mais errada: o Julio travou e não sabia onde ficava o botão para abrir o vidro da janela do carro enquanto eu já estava tirando o cinto de segurança querendo descer do carro em movimento. Gastamos nosso francês respondendo de onde vínhamos e para onde íamos e o policial deu uma de bridge keeper do Monty Python e mandou um “belê, pode ir” em francês sem pedir documento, sem pedir nada.

Foi assim que chegamos em Dijon, que seguiu o tema da viagem e se mostrou a cidade mais esquisita da França até agora. Primeiro, que estou ainda aprendendo a lidar com o VAZIO. Cria de São Paulo e da Baixada Santista, não estou acostumada a cidades que morrem em momentos do dia. Aqui na França, em especial nas cidadelas pequenas – mas também nas maiores, como Dijon, tudo fecha para o almoço (não lembrava que esse conceito existia, olha que doideira), pouquíssimas coisas abrem aos domingos e segunda feira é meio que facultativo – e uma coisa que estou achando doida pacas – das 18h às 19h AS CIDADES DORMEM. Você anda na rua, no escuro (aqui está escurecendo bem cedo, cinco da tarde já é noite), ouvindo seus passos, vendo sua fumacinha de frio sair da boca e torcendo para encontrar alguma coisa aberta pra jantar. E O SILÊNCIO POR TODO LADO?? É de endoidecer. Eu vivia reclamando do barulho do Centro de São Paulo na janela do meu quarto toda noite – e aqui estou colocando música pra dormir porque não se ouve nada. :O Também ando com saudades do sol, mesmo amando o frio… sou uma mentira ou o quê?

Enfim, calhou de ficarmos um fim de semana e uma sexta de feriado em Dijon e vimos duas cidades completamente diferentes: sexta e domingo tudo estava deserto. Sábado tudo estava cheio, pessoas passeando na feira (todas com cestas, achei tão sympa!), muitos turistas comendo as especialidades borgonhesas e saindo pelas tabelas. Assim, vivemos um 8 ou 80: ou a cidade estava cheia demais, ou vazia demais.

Achei curioso ver a diferença bem grande entre as cidades da Alsácia e dessa capital da Borgonha: Dijon me pareceu bem esquecida, os museus são tosquitos, é tudo meio mambembe… e é por isso que eu gostei bastante dela. Achei ela real, mais sincera, com suas sujeirinhas e suas igrejas do século XII entrecobertas de limo e não iluminadas. Mas entendo o porquê do Julio não ter gostado tanto assim da cidade – ele prefere o primor e rigor germânico que vimos na Praça Stanislas, em Nancy, por exemplo, onde de manhã vimos o pessoal passar na praça e varrer as pedrinhas dos jardins. Gosto muito de ver e reconhecer esses tipos de belezas diferentes. 🙂

Em Dijon, compramos um guiazinho no Escritório de Turismo para acompanhar umas setinhas de metal que se espalham pela cidade inteira de maneira relativamente organizada para você conhecer os principais pontos turísticos dela. Acho que é algo meio padrão pela Borgonha, já que a cidade em que estamos dormindo hoje (Auxerre) e uma outra pela qual passamos agora de tarde (Samur-en-Auxois) também tinham plaquetinhas dessas pelo chão!

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Por fim, acabamos mexendo um pouco nessa perna da viagem de agora: nosso plano era fazer Dijon-Tours direto, mas vimos que ia ser uma viagem muito longa e cansativa e acabamos cortando em várias cidades – vamos dormir uma noite em cada uma. Hoje, estamos no hotel Le Parc des Maréchaux em Auxerre – um hotel sensacional, que achávamos que ia ser todo detonadinho e na verdade é uma diversão super aconchegante e temática. Imagina dormir num hotel com um pique meio murder mistery e uma janela para um parque privativo extremamente silencioso (SIM, S I L E N C I O S O). Brrrrrr.

O trajeto de Dijon até aqui foi o mais lindo da viagem até agora. Teve até parada em cidades aleatórias – paramos na cidade de Guillon só porque parecia com o meu sobrenome, tipo isso – e descobrimos essa coisa linda que está no meio das fotos aí embaixo.

Esses últimos dias andei chegando bem cansada das andanças, um pouco preguiçosa de escrever e dormindo bem cedinho. Se tem uma coisa que eu gostaria de mudar nessa viagem é que eu queria estar mais tranquila, mais passeando, mas ando extremamente tensa com as perguntas o tudo-está-bem? vou-sobreviver-50-dias-fora-de-casa? martelando na cabeça. Quem já teve síndrome do pânico sabe como é ficar com medo de ficar com medo e essa chatice toda. Mas tenho tentado respirar fundo e pensar no momento quando essas crises têm me batido. Se alguém tiver dicas, tô aceitando!

Ufa, acho que já deu por hoje. Pelo menos tirei o atraso. Hoje teve até 3 capítulos do meu livro e o primeiro desenho do Um Ano Agradável 2017!!!!

Portanto, não sei nem se vou revisar esse post, porque já passa da meia noite e já super deu a hora de repousar. Assim, se tiver alguma ZUERA no texto, perdoai-me obrigada de nada.

:*

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Franando na França #5: De Estrasburgo a Colmar | A Rota dos Chocolates

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Estou escrevendo esse post tomando um chazinho porque eu posso – estamos no hotel mais chique da viagem até agora (oba!), com maquininha para ferver água e fazer chá. E também pra acalmar, porque foi bem wtf abrir as notícias hoje e descobrir que Donald Trump foi eleito. E digo numa mistura de risadas nervosas e de apreensão séria que fico feliz por termos decidido fazer essa viagem esse ano – porque sabe-se lá como estarão as coisas daqui pra frente. Bem esquisitinhas.

Maaas a boa notícia é que hoje consegui ir na igreja aqui na França (pra quem não sabe, sou da Congregação Cristã, igreja que tem uma comunidade grande no Brasil, mas bem pequena aqui na Europa – assim, é uma coisa muito legal – e rara – conseguir ir em uma por aqui) e foi muito gostoso. Quinze pessoas, bem caseiro, bem intimista. E quero agradecer meu marido, que é o melhor marido do mundo e enfrentou uma mega-chuva numa estrada de 130 km\h, só pra me levar agora de noite. Ele dorme no meu colo enquanto escrevo esse post. <3

Hoje de manhã, fizemos o trajeto Estrasburgo-Colmar, que deveria levar umas 2 horas normalmente – mas decidimos fazer diferente. O Julio baixou o aplicativo Route du Chocolat, que mostra as melhores fabriquetas \ ateliês de doces e chocolate da região e montamos nossa viagem de vinda com base nele! Sim, é uma rota parecida com a Rota dos Vinhos (uma até se encontra com a outra), mas como disse no post anterior, decidimos ficar sóbrios nas estradinhas e deixar o fígado lidar apenas com o cacau – que já tá bom demais! 😀 Degustaremos vinhos em Bordeaux, provavelmente!

MAS GENTE, esse negócio de rota é muito legal. Já vínhamos fazendo sempre a rota cênica entre uma cidade e outra (me lembrem de falar disso mais tarde), mas com esses destinos inspirados nas sugestões da rota salvos no GPS fomos entrando nas cidadezinhas mais pitorescas da viagem até agora. Tudo meio turístico, eu senti, mas tudo lindo! Foi simples: botamos 5 lugares no GPS, ele foi nos guiando até cada um. Parávamos, escolhíamos o doce mais lindo e acessível, comprávamos, dávamos uma volta a pé pela cidade e pronto, rumo à próxima.

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Até agora só provamos o macaron e meudeusdocéu que coisa boa (aliás, descobri aqui que macaron pode ser um monte de coisa diferente – sempre de massa de amêndoa e sempre gostosa). A grande surpresa foi o almoço: em Sélestat, uma das cidades que marcamos na rota, a lojinha que queríamos ir estava fechada. Como já passava do meio dia, decidimos almoçar por lá mesmo. E, a uma escolha certa de distância, encontramos um lugar moderninho chamado Le Schatzy, onde comemos a melhor carne de porco de nossas vidas, por um preço amigo. E os legumes! Não sei o que esses franceses colocam nesses legumes que eles ficam tão gostosos – se é tempero ou se eles são orgânicos ou coisa assim. Mas até eu, que odeio salada, como tudinho.

Encerrando o post em delícias, agora vou dormir e orar por esse mundão. E bora conhecer Colmar amanhã!

<3

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Franando na França #4: Estrasburgo

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Quando eu estava falando com minha irmã no Hangouts dia desses e contei que estava em Estrasburgo, ela perguntou: “ué, na Alemanha?”. Nada mais natural essa confusão, já que essa é mais uma pra coleção das cidades que já passaram por quinquilhões de mudanças de personalidade – e em poucos anos. De vez em quando da Alemanha, de vez em quando (e atualmente) da França, dependendo do período histórico que você está estudando, Estrasburgo (ou Strasbourg, como dito em sua língua natal) é mesmo essa bagunça toda: mas ô bagunça bonita!

O trajeto de Nancy até aqui foi menos cheio de ooohs e aaahs, mas já deu pra notar as casinhas, todas madeirinhas, todas com cara de Natal, todas com aquele visual que Campos do Jordão faz de tudo pra simular. Ao chegar, demoramos pra pegar no tranco. Chegamos num domingo, ficamos a manhã inteira numa lavanderia lavando roupas (viagem de 50 dias é assim…), aí errei feio na escolha da roupa e passei muito frio, o que me deu um bode danado e um mini-desespero. Eu amo frio, mas é preciso sacar o jeito que ele anda em cada cidade para escolher bem a roupa e se dar bem com ele – senão, é um gelo só, entrando por todos os seus poros e congelando seu cérebro (foi assim que me senti!).

Depois, com as roupas lavadas e já muito melhor agasalhada, fui me aprochegando melhor daqui e curti bastante. É uma cidade bastante turística – finalmente, encontramos turistas de outros lugares que não só a França (mas ainda nenhum brasileiro, oba!) – e chegamos no pior ou melhor momento, dependendo do ponto de vista. Melhor porque ainda não está bombando, ruim porque não pegamos a feira de natal aqui que dizem ser maravilhosa! Hoje, que foi nosso último dia inteiro aqui, é que o pessoal estava começando a montar os enfeites de Natal :(. Mas sobrevivo – já fui em feiras de Natal na Alemanha e tô ligada na fofura e no cheiro de canela no ar!

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Foi ótimo ficar 4 noites aqui, deu pra fazer bastante coisa de tudo que é estilo (a maioria comida e caminhada, é só isso que fazemos em viagens): comemos chucrute em restaurantes tradicionais, compramos uma cegonha de pelúcia pra dar sorte para nossos planos de 2017 (<3), andamos no Batorama (passeio de barco pelo Reno, Ill e pontos históricos da cidade – recomendo bastante), demos um pulo a pé até a Alemanha (a cidade de Kehl faz fronteira com Estrasburgo, perto do apartamento em que ficamos), vimos alguns museus bem bacanas (demos a sorte de chegar aqui no primeiro domingo do mês, quando todos os museus abrem gratuitamente), subimos no topo da Catedral de Notre Dame daqui, comemos no Au Crocodile, restaurante com estrela Michelin com os pratos mais gostosos que já comi na vida (nunca mais vou escovar os dentes na vida, para o gosto não sair nunca mais, tipo isso), descobrimos as maravilhas dos saucissons (uma espécie de salaminhos de diversos temperos), sobrou espaço até para um trio de paellas maravilhoso num restaurante espanhol (nada a ver, mas sabe como é… já bateu saudades de um arrozinho).

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Só ainda não comemos chocolate, porque pretendemos pegar a rota dos chocolates amanhã, rumo à próxima cidade! Isso, rota de chocolates e não dos vinhos, como muita gente me recomenda e curte. Decidimos optar por algo menos alcoólico e mais light depois de percebermos nosso tipo de rolê… não demos conta nem da primeira metade da garrafa dos dois vinhos que trouxemos para o apartamento aqui! – aliás, um dos vinhos foi dado de presente pelo senhorzinho dono do mercadinho <3. Se tem uma coisa que aprendi logo cedo na França quando vim há anos na primeira vez é que basta você puxar assunto e ser legal que ganha piada, ganha um amigo, ganha presente. Nunca – eu digo nunca – encontrei um dos franceses mal educados que a galera fala que existem por aqui.

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“Ah, Francine, tudo muito bem, já entendi que você tá comendo e vivendo a vida que pediu a Deus… mas e seu livro?” Notícias do front: sigo firme e forte na revisão dele antes do sprint final. Estou cheia de altos e baixos, hora achando que perdi meus últimos 15 anos tentando escrever algo levemente medíocre, hora tendo certeza que tenho em mãos o próximo hit do verão. Só emoções.

Agora já estou cansando da Alsácia e sua alemanhice, tô a fim de uma França mais França. Amanhã, começaremos pouco a pouco a entrar mais na França. Allons-y!

 

 

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Franando na França #3: Nancy

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E aqui ficamos nós, finalmente em uma cidade que não passou por um monte de desgraceira, pra variar um pouco. Nancy fica no coração (acho que é no coração, mas não sou tão boa de geografia, então pode ser que fique em algum outro órgão menos honrado) da Lorena (ou, em bom francês, Lorraine – e sim, é claro que comemos quiche lorraine só pela piada) e por isso é cheia de docinhos (pensem em macarons originais, sem recheio, coisa de doido) e bergamotas (para os paulistas, mexericas ou tangerina). Foram dias com pontos altos como uma manhã gelada escrevendo (ou tentando escrever) na Praça Stanislas, nosso primeiro almoço em um restaurante estrelado do Michelin (chiquérrimos), um carnival descoberto num parque (adoro isso) e a passagem pela cidade de Belleville, no caminho Verdun-Nancy – fiquei toda empolgada, adoro o desenho As Bicicletas de Belleville (mas não tirei fotos, porque passamos rapidinho e só fiz um vídeo pra mandar pra minha mãe)!

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Mas Nancy é mais conhecida por ser o berço da art-nouveau, escola de design do começo de 1900 que unia japonismo, racionalismo e naturalismo e acreditava que, como na natureza, tudo devia ser não apenas funcional – mas também lindo. E apesar desse raciocínio ser muito dos meus, eu não era tão fã da art-nouveau, porque nunca tinha sacado ela direitinho. Agora que vi de perto, posso dizer que voltei fã-za-ça. Acabou que art-nouveau foi o tema de nossa visita à Nancy e inspirou caminhadas (agradeço à Letícia do Parisieníssima por várias dicas!) e nossas visitas a museus.

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O que me lembra de fazer um comentário sobre os franceses e um pouco do meu gosto por eles. Pode ser um comentário cheio de erros, afinal, apesar de eu já ter vindo bastante pra cá, nunca vivi efetivamente aqui ou fui amiga íntima de algum francês, mas a impressão que tenho é que a cultura e a intelectualidade (seria essa a palavra, será?) estão muito enraizados aqui, no jeito de viver, de pensar, de criar filhos inteligentes. Deve ser muito difícil não crescer interessado em arte ou cultura de modo geral aqui. Aqui em Nancy, a todo instante trombamos com grupos de criancinhas tendo aulas ao ar (frio!!!) livre, quer de assuntos mais “sérios”, como história da arte, quer apenas passeando na praça e aprendendo a apreciar uma exposição. Se for comparar com meu ensino no Brasil – que não foi ruim -tive história da arte apenas no colegial, vendo slides cansados e antigos em um retroprojetor. Aqui a cultura e a história são vivas, a cultura é coisa que seus avós e bisavós fizeram, está nas ruas. Não tem como fugir dela, né?

Outra coisa que acho interessante observar é o comportamento das crianças em outros contextos, que não apenas o escolar, nos museus. Fomos a um aquário aqui numa quarta feira e tinha um monte de crianças passeando por lá com seus avós (se não me engano, quarta feira não tem aula aqui na França). Os avós não estavam gritando OLHA O PEIXINHO QUE LINDO!!! PEGA O PEIXINHO! TIRA FOTO COM O PEIXINHO! DIZ QUE AMA O PEIXINHO! Eles estavam curtindo com os netos e explicando o que era cada peixe, o quanto ele era curioso, como ele vivia, sua interessância toda como peixe.

Talvez seja por uma mistura de tudo isso que aqui eu ainda não tenha visto ninguém tirando selfie no museu, por exemplo…

E acabou que achei que ficamos tempo demais em Nancy – calculamos 3 noites e fizemos tudo o que queríamos em 1 dia, tendo que matar o resto do tempo! Mas é bom para descansarmos e aprendermos a curtir as coisas com calma. Normalmente, somos muito alucinados em viagens – saímos do hotel\apartamento às 8h e voltamos de noitão, mortos de canseira, usando o lugar de estadia praticamente pra tomar um banho e dormir. Esse ritmo é divertido, mas muito insano – e temos noção de que 50 dias nessa adrenalina vai ser impossível. Assim, estamos ainda aprendendo a lidar com o slow-traveling ou algo assim.

O primeiro erro que descobri que cometemos foi que acabamos economizando demais no hotel e estamos num quarto tão apertado que é praticamente cama. Me sinto os avós do Charlie, da Fantástica Fábrica de Chocolates, que viviam em cima de uma cama, todos os quatro, juntos. Desse jeito apertado não é tão animador ficar de boas descansando entre um passeio ou outro e acabamos querendo sair o tempo todo. Meio claustrofóbico aqui. :S

Viajando e aprendendo! Torcendo pra que a próxima acomodação seja mais chic e boa pra descansar, um beijo pra vocês!

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Franando na França #2: Verdun

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Pensem numa cidade que esteve constantemente no lugar errado e na hora errada. Agora pensem no quão ruim deve ser você ser essa cidade, já que como cidade você não tem muita escolha a não ser continuar ali. Essa é Verdun, uma cidade que calhou de ser bem no meio das brigas entre alemães e franceses não apenas em uma, nem duas, mas em pelo menos 5 grandes guerras – e pra ajudar tem uma geografia extremamente estratégica para construções de fortes. As datas da foto acima contam todas as vezes em que esse local foi destruído ou damaged (estou tão imersa em outras línguas, tentando falar o menos de português possível por aqui que já estou dando tilt vocabular) em sua história.

A cidade, hoje, no entanto, parecia uma coisa pacata só. Descobri que dia de finados é comemorado dia 1 na França, e por isso ontem e hoje a maioria dos lugares estavam fechados e quietinhos. Quando descobri que íamos visitar o Ossuário de Douaumont em pleno dia de finados, achei que íamos fazer o pior erro ou o mais lindo acerto da viagem. Logo imaginei centenas de descendentes de soldados indo lá prestar homenagem a seus bisavôs. Ao chegar lá, uma surpresa: tudo bem vazio. Em termos de pessoas visitando seus bisavôs, no caso. Porque em termos de pessoas já passadas, é uma coisa de doido. De lindeza e de “gente, apenas parem”.

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A sensação em Verdun – no Ossuário, especialmente – que não fica exatamente na cidade, mas a uns 15 minutos de carro dela, é de melancolia. Muita tristeza passou por aqui e esse tipo de coisa dá um jeito de agarrar na parede de pedra dos lugares. Mas muita coisa linda também, muita história pra contar. Faz pensar em nossa história no Brasil, como é pequena, curtinha e felizmente de muita paz. Me fez pensar em meus ascendentes (tenho um tataravô nascido em cada país da Europa ocidental, praticamente) e no que eles passaram pra que eu chegasse aqui e visse essa história. Pra falar a verdade, não faço ideia do que eles passaram, mas a gente vai imaginando e sabe como é a cabeça. A minha, pelo menos. 🙂

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Pela manhã compramos chips de celular (yay) e viajar para outro país com internet ilimitada no celular é uma experiência que nunca tinha tido antes e super recomendada. Me sinto mais segura, mais em casa. Parece que não, mas um Google aqui e acolá e uma fuçadinha no Instagram fazem uma diferença.

De manhã, passamos na Cidadela Subterrânea de Verdun, um passeio por um lugar escondidinho onde muita presepada aconteceu. Achei que ia ser um passeio simples, um pique meio Museu dos Esgotos de Paris (sim, fomos lá ano passado, adoramos nos enfiar em buracos), mas logo que chegamos nos botaram num carrinho muito doido que saiu passeando por lá, com direito a projeções e músicas. Bem pique Disney. Bem o tipo de passeio que eu e o marido adoramos. Túneis com projeções e musiquinhas é com a gente mesmo. Sempre damos um jeito de encontrar, até numa cidade pequena da França. Pior que era de excelente qualidade, não era pique museu de Stars Hollow.

Comidamente, hoje não fomos tão bem, mas fomos. Por conta do feriado e de alguns desencontros de horário, o almoço e o jantar foram aqui perto do hotel mesmo, na beira da estrada. Não preciso nem dizer que restaurante de beira da estrada do interior da França já é bom pra chuchu, né? Pra mim, França é tipo Minas: qualquer biboca vendendo qualquer coisa merece Michelin.

É isso! Amanhã partimos pra próxima! Au revoir!

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