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Franando na França #1: Comecinho da viagem – Berlim e trajeto Paris-Verdun

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Olá olá olá!

Estamos no quinto dia da nossa viagem e só agora consegui uma somatória de internet acessível + fôlego pra fazer um post!

Já começo explicando porque raios fomos parar na Alemanha, sendo que a roadtrip era francesa. Não, caros, não acabamos perdidos pegando a estrada errada nessa pertitude maravilha que é a Europa. É que tínhamos um amigo perdido por lá (na realidade, morando por lá, mesmo) e decidimos, antes de começar a parte road da trip, pegar um avião e fazer uma visitinha a ele. Passamos o primeiro final de semana da viagem em Berlim e ficamos hospedados no apartamento dele (que foi dormir na casa de amigos – ato muito fofo e que me deixou muito sem graça – magina, sair de casa pras visitas, nunca fiz isso na vida!).
Eu já conhecia Berlim – tinha passado 4 dias por lá num mochilão-de-boutique que fiz em 2010 e tinha gostado demais. O Julio ainda não conhecia essa loucura de cidade e decidimos ir para ele conhecer. Achei a Berlim de 2010 mais doida que a de agora – talvez porque na época eu estava um pouco mais doida também e fiz um walking tour especializado em cultura underground e grafite. Mas dessa vez, além de fazer passeios bacanas, como o walking tour do Sandeman’s e o museu da DDR (duas ótimas pedidas, que conheci da última vez que fui graças à Mirele, minha amiga de extremo bom gosto), além da Dungeon’s Berlin (se você não conhece essa franquia de passeios de terror divertidos, por favor passe a conhecer!) e de uma exposição-experiência bizarra do Bosch, conseguimos conhecer um lado mais dia a dia da cidade – e me apaixonei por um canto chamado Admiral Strasse.

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Mas hoje voltamos para Paris e começou oficialmente a parte mais aguardada da viagem: o dia em que pegamos um carro e começamos a rodar. Eu tinha muitos medos, especialmente porque não temos um carro e não dirigimos muito – meu marido tirou a carta não faz nem 1 ano (!) – é, eu e o marido (ele ainda mais que eu) somos meio avessos a esse lance todo de ter carro (e estamos sempre adiando o dia em que teremos esse tal carro). Mas no dia em que decidimos fazer essa viagem, o leasing de um carro foi a primeira coisa com a qual concordamos.
Como gostamos de já começar no nível hardcore, nunca tínhamos feito uma viagem de mais de 2 horas dirigindo e decidimos estrear numa viagem de 6 horas (contando paradinhas) em outro país, numa língua que não falamos tão bem. E. FOI. TUDO. MUITO. TRANQUILO.
(é sério, o medo era tanto que dormi ontem a base de calmante).
E foi lindo.
Parte porque o Julio é um motorista sensacional, parte porque o carro que a gente pegou, um Peugeot 308 (pela Peugeot Open Europe) é uma coisa de louco. Nos sentimos dirigindo no futuro… mas rumo ao passado. <3
Tem muita coisa pra contar e pretendo contar nos próximos dias, mas queria dividir algumas dicas, caso alguém aí se inspire com meus (possíveis) próximos posts ou tenha googlado e caído aqui em busca de informações.

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Organizar uma viagem assim exige uma dose muito boa de organização e outra de maluquice. É muita coisa pra pensar – desde filtrar quais cidades visitamos e quais deixamos de visitar – até baixar as fotos direitinho e organizadas para não bagunçar tudo. É trabalho de equipe do começo ao fim! De todas as viagens que fizemos, essa foi a mais organizada e a menos organizada ao mesmo tempo. A mais organizada, porque nos preparamos bastante: financeiramente, é claro, mas também comprando um guia bacanudo da Lonely Planet, treinando um pouco dirigir em estradas e até fazendo uns meses intensivões de francês! A menos organizada porque temos um trajeto-master, mas nem tudo está reservado e escrito em pedra. Por muito tempo, tudo o que tínhamos era a passagem de ida e volta e muita vontade de conhecer a França por inteiro.
Somos um casal com um combinação muito boa de opostos e por isso vivemos sempre na base de um equilíbrio de caos e ordem, na minha opinião, perfeito. Eu sou a pessoa que cria e bagunça. Ele é a pessoa que executa e organiza. Eu sou o departamento de entretenimento (pesquisei mil lugares, restaurantes e hotéis) e ele o departamento logístico (é ele quem cuida do dinheiro e dos horários).
Esse equilíbrio é bom no on-the-go da viagem também, especialmente: o Julio é muito bom com a ordem. Assim, temos tudo muito claro sobre onde estamos, quanto temos e quais os próximos passos. Evita coisas horríveis que já passei em viagens-solo que eu fazia como perdas de passagens (!), de passaporte (!!!) e gastos escabrosos de dinheiro (!!!!!) Se eu entro em pânico (porque sou meio desesperadinha), ele me mostra as planilhas e tudo fica bem. Já na hora do improviso, sou eu que assumo. Quando uma das planilhas se mostra errada meu marido sai de cena (e precisa sair, senão ele entra em pânico!!) e eu assumo, achando uma saída às vezes inusitada, às vezes simples pacas.
Com essa divisão clara de tarefas, fica muito gostoso viajar e temos o melhor dos dois mundos: uma viagem extremamente divertida e livre, mas com tudo bem organizadinho.
Nosso primeiro momento desse foi hoje na hora do almoço. Pegamos o carro com o tanque meio vazio e não aparecia um postinho sequer no caminho. O Julio, já um pouquiiiinho preocupado, me pediu para ler o manual de instruções e descobrir como o GPS poderia calcular o caminho até o próximo posto. Olhei o manual de instruções, desolada. Nunca li um manual de instruções na vida e não seria dessa vez. Decidi inventar que, pela lógica, toda cidade teria um posto de gasolina. Viramos na primeira cidade à direita e acabamos almoçando por lá um frango com legumes da estação maravilhoso (esses franceses sabem fazer até chuchu ficar gostoso!) e descobrindo os preparativos do Halloween por aqui.
Mas a lindeza toda é o equilíbrio! Claro que vou defender o meu jeito meio caótico de fazer as coisas, porque adoro essa diversão toda… mas uma ordenzinha também é boa pra chuchu (por exemplo, se não fosse a teimosia metódica do marido não teríamos conseguido conectar e esse post nem existiria!). Já falei aqui antes como o melhor caminho para a liberdade e a criatividade são as regras, não? Senão falei, me lembrem de falar quando voltar.

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Falando nisso… sigo na revisão final do meu livro e numa notícia muito doida: decidi trocar o sexo do meu protagonista. O Sandro, que durante 15 anos foi um protagonista menino do meu livro, virou Samara. Isso porque hoje, com 29 anos na cara, não vejo sentido nenhum ser uma autora mulher escrevendo meu primeiro livro com um menino como protagonista. Um pouquinho de girl power não faz mal a ninguém. 😉

Ufa, mil coisas! Até a próxima!

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Amanhã a gente começa, e dessa vez é amanhã mesmo

 

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Parece que foi ontem (quando na verdade foi há 11 anos atrás). Primeiro ano da faculdade, aquele monte de pessoinhas prontas para encarar a verdade daquela música que eu temia ver realizada, à sua maneira moderna e cheia de “crises dos 20 anos”, sentadinhas, ansiosas, na aula de sociologia, aquela disciplina de nome misterioso.

O professor entrava na sala e do alto de seu allstar vermelho e sua expressão de sonhador moderado que arrancava suspiros das calouras falou sobre o flâneur.

Aquele sujeito-estilo-de-vida-função-social que surgiu na França (é claro) do século 19 junto à ideia de cidade, entrou na minha cabeça imediatamente e se aboletou por lá. Eu era uma caiçara fajuta recém fugida saída de Santos e estava encantada com essa São Paulo toda. Aquela multidão, aquela coisa que não tinha começo nem fim que era a cidade, a urbanidade da urbanidade, aquela coisa particularmente linda para quem, como eu na época, vivia no circuito Pinheiros-Vila Madalena-Paulista, ah, aquela São Paulo da diversidade, do bom gosto e da cultura pulando por todos os lados (nota mental: uma São Paulo que ainda existe pra além do meu cansaço e que merece minha atenção ano que vem)…

O raciocínio flâneur era um prato cheio praquela Francine de roupas coloridas que vivia na Avenida Paulista matando tempo. O flâneur me inspirou a andar tardes e mais tardes por aquela avenida naqueles primeiros anos da faculdade, em que eu ainda não trabalhava oficialmente, era só freelancer, com a vida mais ou menos ganha porque nem precisava de muito. E curti muito e guardo com muito carinho os anos de 2005 e 2006, antes dos amigos terem que marcar na agenda para se encontrar, antes do dinheiro ou da vontade de cada um de ser mais bem sucedido mais inteligente mais culto mais diferente mais descolado mudar todas as lógicas.

Aí eu arranjei emprego, a vida foi sacolejando e o conceito de flâneur sumiu da minha cabeça.

Até agora. Nesses últimos seis meses (na verdade, nesses últimos anos, sem querer) em que eu e meu marido nos preparamos para a viagem que começa amanhã, flanar tem sido um verbo possível. Graças a Deus, aos planos, aos sonhos e às planilhas mágicas da família Guilen-Almeida. Serão sete semanas em que quero, apenas, pura, simplesmente, de toda a alma, ser flâneur.

Sai o relógio, sai o compromisso, sai o deadline, sai o ganhar mais e mais e mais e mais, sai a necessidade de provar que é isso, aquilo, é publicitário, é empreendedor, é descolado, é nômade digital, sai a necessidade de ter uma resposta pronta para os jantares em que perguntam pra você “mas e aí, o que você faz da vida?”, sai até mesmo a vergonha e medo de ter que me explicar sobre como pretendo fazer para ter dinheiro nos próximos 2 meses (ou mesmo pelo resto da vida). Entra o flâneur.

A Wikipedia me ajuda a explicar um pouquinho dos meus planos de vida e de viagem pra vocês. Flâneur é metade curiosidade, metade fazer-nada. É andar pelas ruas, calçadas, parques, passagens, cafés, sem um trajeto definido. É estar e ser, ao mesmo tempo.

O pulo do gato, a magia da coisa toda é que flanar é o oposto de vagabundagem ou preguiça. Não é um simples andarilho a esmo. Balzac dizia que flanar é a gastronomia do olho. É degustar cada passo, observar tudo, sem tempo marcado e sem ter-quê. Sim, flâneur é o jeito mais francês do mundo de falar sobre atenção plena, aplicada à vida na cidade.

Pra quem diz que flâneur é coisa de mendigo ou coisa de quem já tem a vida ganha eu digo que é claro que é fácil flanar na França, sem outro compromisso que o de terminar de escrever um livro – mas os meses de puro estresse e mudanças constantes que precederam (e permitiram) essa viagem me mostraram que do jeito que esteve não dá pra continuar. E quando voltar, quero tentar de todos os jeitos permanecer flâneur. Prestar atenção no fluir do metrô cheio ou no aroma do bolo assando aqui em casa, entender o passarinhar do passarinho no outro lado da avenida e no gingado esquisito do mendigo que mora aqui no bairro. Esteja eu cheia de jobs ou cheia de sonhos, ou os dois juntos, que é bom também.

 

The crowd is his element, as the air is that of birds and water of fishes. His passion and his profession are to become one flesh with the crowd. For the perfect flâneur, for the passionate spectator, it is an immense joy to set up house in the heart of the multitude, amid the ebb and flow of movement, in the midst of the fugitive and the infinite. To be away from home and yet to feel oneself everywhere at home; to see the world, to be at the centre of the world, and yet to remain hidden from the world—impartial natures which the tongue can but clumsily define. The spectator is a prince who everywhere rejoices in his incognito. The lover of life makes the whole world his family, just like the lover of the fair sex who builds up his family from all the beautiful women that he has ever found, or that are or are not—to be found; or the lover of pictures who lives in a magical society of dreams painted on canvas. Thus the lover of universal life enters into the crowd as though it were an immense reservoir of electrical energy. Or we might liken him to a mirror as vast as the crowd itself; or to a kaleidoscope gifted with consciousness, responding to each one of its movements and reproducing the multiplicity of life and the flickering grace of all the elements of life.

— Charles Baudelaire, “The Painter of Modern Life”, (New York: Da Capo Press, 1964). Orig. published inLe Figaro, in 1863.

 

É isso. Esse é meu plano, que começa amanhã, que tem e não tem a ver com minha crise sobre continuar morando ou não em cidades grandes.

Porque acho curioso ver como o conceito de flâneur nasceu exatamente junto com as cidades, que no século 19 eram muito mais vazias e lentas, mas já eram devoradoras. Afinal, foi quando as cidades nasceram e se encheram que as pessoas tiveram que aprender a dividir pequenos espaços públicos sem se cumprimentar. Pense nisso: para acelerar a vida, para nos cansar menos, para fugir de conversas, aprendemos a dividir elevadores, vagões, carros, sem um bom dia. Aprendemos a nos des-conhecer.

É de arrepiar a espinha esse desconhecimento, não?

E eu aqui, com medo dos 50 dias de desconhecido que serão essa viagem, como se o desconhecido não fizesse parte de nossos dias a cada minuto… 😉

Leia mais sobre o flâneur aqui 

E está convidado a acompanhar meus próximos passos de agora em diante! O próximo pode ser amanhã enquanto eu estiver fazendo as malas, ou mais pra frente, em outro continente.

🙂

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O pulso ainda pulsa

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Sobre criar, sobre escrever, sobre deixar o cérebro e o coração escorrerem pelas pontas dos dedos, sobre falar um pouco sobre sua verdade, com um pouquinho de edição, deixar dizer o que você tem por dentro.

Sobre escrever, um post sobre escrever e sobre fugir de sua sina e falhar miseravelmente, porque escrever é do que você é feito.

Fiquei aqui pensando. Tentando lembrar quando foi que eu descobri que era escritora. Não me lembro exatamente – mas o engraçado é que lembro de todas, todinhas as vezes em que descobri (ou inventei) que não era.

Nasci em família de leitores, com estantes cheias de livros. Me interessei por aquelas letrinhas tão cedo! Antes de saber escrever, lembro como eu me sentava na varanda do prédio e escrevia diários. Escrevia num alfabeto imaginário, uma coisa que parecia um vvvvvvvvvvvvvvv, mas que eu entendia muito bem.

Deve ter sido por isso que minha irmã de 8 anos decidiu me ensinar a ler e escrever de verdade – e aprendi direitinho, quando eu tinha 4 anos. Imagina, mal tinha aprendido a falar! Tão logo juntei as palavras de uma embalagem de longa vida (simbólico, talvez?) que estava na geladeira, descobri como fazer isso sozinha, agradeci minha irmã e saí juntando todas as outras palavras do mundo.

Com 7 anos, já tinha um diário (costume que levo até hoje). E tomava ditados dos meus coleguinhas de escola – o que nunca contribuiu para minha popularidade, mas aprendi a superar, usando o gosto pela leitura a meu favor.

Costumava ser a melhor aluna na aula de português – claro que só até o momento em que entramos nas teorias da gramática. Nunca fui pessoa de teoria, sempre fui mais apaixonada pela prática. E errava todas as análises sintáticas de frases – mas minhas frases eram impecáveis, mesmo eu não sabendo dizer se o que tinha acabado de escrever era um objeto direto ou indireto. Quando chegou literatura, no colegial, briguei com o professor, que ao final do período confessou que morria de medo de eu corrigir algum erro literário dele (afinal, ele era jornalista e conhecia mais de Marcelo Rubens Paiva que de Machado de Assis, um ultraje para a Francine adolescente, sempre uma fã dos clássicos).

Em 2001, uma coisa linda começou a acontecer. 2001 foi um ano muito importante pra minha vida – com 14 anos, me sentia alinhada ao universo. Foi quando me converti oficialmente e me batizei, a fase em que estive mais alinhada com tudo o que acredito até hoje. Foi quando aprendi a tocar piano. Algo muito cósmico acontecia naquela época. Foi, inclusive, quando o meu marido (até então, um desconhecido em algum lugar de Santos) abriu o site que foi a razão pela qual nos conhecemos.

Também foi quando uma vontade muito grande de escrever um livro nasceu. E comecei a escrevê-lo.

E 15 anos se passaram e eu não terminei.

E hoje eu entendo porquê. Hoje eu entendo que passei os últimos 15 anos fugindo de ser quem eu sou, de uma forma ou de outra. Nunca foi nada terrível, não é como se eu tivesse me perdido na vida – pelo contrário, eu estive incrivelmente achada. Uma carreira muito bacana como publicitária, depois o famoso “largou tudo para abrir seu próprio negócio” e todo o status de empreendedora criativa que vem com isso… mas nunca tive coragem de constatar o óbvio: não sou publicitária. Não sou empreendedora. Ou sou tudo isso… mas sou, acima de tudo, e no fundo de tudo, escritora.

Engraçado como a gente repara nessas coisas depois. Pela lógica da vida e da paixão pelas palavras, eu devia ter feito jornalismo e devia ter feito letras, mas decidi cursar publicidade. Porque se tinha uma coisa que amava tanto quanto escrever era “criar”, de um modo geral. E ainda amo. (Na realidade, como cristã, acredito que criação é a força mais poderosa que temos. Está ali, lado a lado com o amor [e é por isso que o poder de criar uma vida através do próprio amor é o maior presente que recebemos como seres vivos, na minha opinião] – e está nas nossas mãos. Acredito que criar nossas próprias vidas da melhor maneira possível é perpetuar a criação de Deus no universo… e coloquei isso tudo entre parênteses, porque seria assunto pra outro post, mas decidi juntar tudo). E entrei em publicidade tendo certeza de que queria criar, mas não queria ser redatora. Passei os 3 primeiros anos da faculdade dizendo pra quem quisesse ouvir que EU NÃO PASSARIA MADRUGADAS PENSANDO EM UM TÍTULO SENSACIONAL PARA UM ANÚNCIO, QUERIA CRIAR “DE FORMA GERAL”. Claro que esse pensamento um tanto generalista me rendeu uma certa dificuldade pra encontrar um emprego, mas consegui algo incrível e com esse perfil depois de tentar bastante. Trabalhei 1 ano com guerrilha, um tipo de propaganda que amava demais. Não era óbvio, não era uma chatice como quase toda propaganda é e a equipe era incrível.

Até que o departamento foi fechado e fomos todos para a rua.

E resolvi, a muito custo, virar redatora.

Tirei um portfólio da cartola, fui contratada em uma agência super incrível que estava começando e o resto é história. Passei praticamente 7 anos, entre idas e vindas, trabalhando com redação publicitária – que é um jeito um pouco besta, mas completamente legítimo, de ser escritora.

E assim fui escritora para várias marcas. Fui a escritora que contou a história de personagens como o Itaú, a Natura, Intimus, Huggies e muitos outros que nem me lembro mais.

E o meu livro continuava lá, tímido e lento, às vezes calado, mas quase sempre sendo escrito em horários de almoço espremidos enquanto estava na agência. Eu conseguia olhar pra ele e guardá-lo como meu tesourinho, minha garantia de que tudo podia dar errado, mas ele seria meu trunfo.

E meu blog, bem, a frequência com a qual atualizo meu blog é um excelente termômetro do quanto ando ou não alinhada com o que quero pra minha vida. Pois é, você já entendeu pra onde isso vai.

Até que não rolou mais. A vontade de criar algo novo, de fazer algo mais meu, veio com tudo. E veio sob a forma de um negócio novo, a Sras&amp;Srs, bebê lindo que já nem é mais tão bebê assim e do qual gosto muito. Ajudar casais a fazerem casamentos mais verdadeiros e menos cafonas e menos cheios “de requinte” (quem lê esse blog há anos saw that coming há muito tempo atrás, não?) é uma coisa incrível. Gosto muito de fazer isso.

Mas tem alguém me olhando lá de dentro da gaveta.

Que me diz que faz 6 meses que não conversamos. Nem no horário espremido no almoço, mais. Que me diz que sou uma traidora, porque a razão principal pela qual eu tinha largado meu emprego das 9h às 18h é porque ia parar de criar histórias para marcas e criar aquela história que quer sair de mim.

Porque na inexperiência de poder ter tudo, de poder fazer tudo, abracei tudo e esqueci de uma coisa, uma coisa simples: esqueci do que tinha que fazer.

Desde maio, estive trabalhando de domingo a domingo, sem parar, criando casamentos, sim, mas escrevendo não muito mais que os e-mails para clientes e fornecedores.

E embora criar casamentos dê um prazer danado, tinha algum ponto cego aqui dentro que se encontrava muito, muito contrariado.

Já faz algum tempo estou planejando uma desaceleração nessa loucura toda – e finalmente chegou outubro. E hoje, pela primeira vez em muito tempo, embora ainda tenha algumas coisas pra finalizar antes das férias chegarem oficialmente, consegui olhar pro relógio sem entrar em desespero e sem ter alguma coisa pra fazer.

Achei que quando essa hora chegasse, ia me afundar no cobertor e relaxar.

Não. Vim pra cá, escrever.

Porque estava com uma saudade danada do poder criador da palavra.

E mesmo sem saber onde queria chegar com esse texto todo, cheguei aqui. E não estou nem preocupada por ele ter saído tão grande e meio, até, manquinho. Porque mostra o quanto ele estava entalado aqui dentro.

Hoje, cheguei ao primeiro post oficial das minhas férias – mesmo antes de elas chegarem oficialmente. E estou muito feliz.

Porque dia 27/10 começará a viagem em que vou terminar de escrever meu livro. Porque acho que a gente pode agradecer quando está realizando um sonho (mesmo tendo demorado um pouco pra entender que era o que estava acontecendo). Porque sempre achei incrível pessoas que saíam de viagem para terminar de escrever um livro. Lia ou ouvia isso e pensava “é o que quero pra minha vida”. E, sem querer, acabei fazendo isso.

Minha ideia é atualizar esse blog com frequência durante a viagem – mas se eu não o fizer, a razão é boa – vai querer dizer que a família Zaspargo, o Pedro, a Greta, o Gregório e a Daphne estarão voltando à vida e verão um ponto final, finalmente.

Obrigada pelo dom de gostar de escrever, devo tudo a e(E)le.

🙂

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