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Eu queria agradecer o meu misterioso vizinho

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Há pouco mais de 1 semana achei estranho ouvir sinos perto de casa. Digo, moro no Centro de São Paulo e a igreja católica mais próxima fica longe o suficiente para eu não conseguir ouvir seus badalos. E, apesar de não ser católica e nem entender o que badalos de sinos querem dizer, sou encantada com esse som. Me dá aquela sensação de saudades do que nunca vivi, sabe? Parece que estou numa cidade do interior, parece um abraço. Parece um ritual de todo dia, badalando as coisas constantes da vida.

Pois bem. Ao ouvir aqueles sinos, eu e meu marido ficamos nos perguntando se tinham aberto uma igreja católica nova aqui perto (sei lá, nunca vi isso, mas vai quê, o Papa novo é legal etc.), até que dias depois percebi a verdade: algum vizinho meu realizou meu sonho por mim. ALGUÉM AQUI PERTO COMPROU UM RELÓGIO DE CARRILHÃO PRA MIM. Digo, não comprou pra mim, imagino que tenha sido pra ele, mas eu ouço todos os badalos em horas cheias e fico feliz porque sei que elas badalam pra mim também!

Melhor? Às 18h em ponto ele toca Ave Maria. O único lugar em que via isso acontecer era a praça de Águas de Lindoia, que também conta com uma fonte sonorizada (e de repente me deu a maior saudades de ir pra lá). Melhor ainda? 18h é o horário em que termina meu expediente aqui no meu home office. E agora tenho um despertador pontual e sagrado para me lembrar de que a vida real começou. 🙂

Caso você não conheça um relógio de carrilhão (que triste sua vida deve ter sido até agora), conheça já:

Não sei quem fez essa escolha, mas me dá uma vontade danada de bater de porta em porta aqui no prédio, para descobrir quem fez essa escolha tão acertada na vida e agradecer. Abraço, vizinho de bom gosto!

E deixem estar, que quando eu for uma milionária excêntrica terei uma coleção desses relógios!

Ah sim, a foto que ilustra esse post é o relógio do meu avô. <3

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Falando para as moscas

E moscas não comentam, apenas olham para você com uma inconfundível cara de mosca morta.

Às vezes vocês também sentem que perderam o bonde da blogagem? Que seu blog era um relativo sucesso no início dos anos 2000, mas quem se importa, o bug do milênio também era um tremendo sucesso e ninguém nunca mais falou nele? E que agora você continua escrevendo só porque gosta muito dessa coisarada toda de palavras e sentenças jogadas para o mundo pelos seus dedos?

Tantos pontos de interrogação e nenhuma respostinha. Deixem estar, leitores invisíveis. Vocês podem não me dizer nada hoje, mas o tempo dirá.

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Tempo, esse senhor tagarela e um pouco fofoqueiro.

 

 

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A vida vai pro livro e ele devolve de maneiras maravilhosas

Coisas ruins acontecem na vida. Adoraria que fosse tudo algodão doce, unicórnios e pinhatas estrategicamente localizadas nos cantos mais tediosos, cheias de balinhas de chocolate e bençãos. Quer dizer, acredito nas pinhatas estrategicamente localizadas, mas tem vezes em que não as enxergamos e é isso. Infelizmente, às vezes têm coisas horrorosas que pulam na gente saídas do nada e nos afogamos nelas sem entender bem o que estamos fazendo.

Digo isso porque na minha vida coisas assim aconteceram. E tem coisa horrorosa que é que nem teia de aranha. Parece que quanto mais você tenta melhorar, se salvar e mexer, mais a teia prende. Sair dessa teia precisa de muita… não sei dizer muita o quê. Força de vontade, epifania, fé ou apenas uma oportunidade bem explorada? Não sei. Depende de qual é a sua teia e como ela foi feita. Mas se tem uma coisa em comum entre as teias é que fica também aquela impressão de que foi você que se lançou na teia, pra começo de conversa, e aquela sensação de COMO FOI QUE FIZ ISSO, ESSE NÃO SOU EU, uma frasezinha que imprime no seu cérebro como uma tatuagem e acende e queima. Eu já passei por isso, talvez você também. Quer dizer, espero que você não, mas eu acho que em certa medida todo mundo já passou por isso na vida. Pode ser um ISSO tenebroso ou um ISSINHO, digamos, como por exemplo, quebrar um vaso caro na casa de seus pais quando você é criança.

Enfim, por que estou falando isso? Porque há 1 ano, mais ou menos, decidi voltar à terapia pra me livrar de vez de quaisquer resquícios de teias interiores e estou mais feliz que nunca. Não vou entrar em detalhes sobre fatos (porque sou escritora, e escritores transformam sentimentos em metafóricas borboletas, é isso que fazemos), mas vou tentar ajudar um pouco com minha opinião sobre como lidar com teias do passado. Pela minha experiência pessoal, como disse acima, a primeira resposta automática é acender a tatuagem mental e se culpar: como disse lá em cima, POR QUE, COMO, ONDE, O QUE EU ESTAVA PENSANDO? EU ISSO, EU AQUILO, E SE? Depois que passa essa sensação (que pode durar horas ou anos), você evolui mentalmente, percebe que virou o dono da razão (oh não) e decide culpar qualquer outra coisa que aparecer na sua frente: a aranha, a sociedade, alguma faxineira metafórica que não fez seu serviço direito… a verdade é que conheço muita gente que parou nessa segunda sensação. E estou pra ver geração pior que a minha pra lidar com ela: porque aprendemos que nos culpar não é saudável e nem correto. Até aí, parabéns, tarefa bem feita. Acho ótimo. Mas culpar os outros é a nova moda. Mais legal ainda: culpar a sociedade, essa senhora tão austera quanto genérica e inexistente. Essa tem sido a escolha mais pedida.

Pois é. Foi o que escolhi por um tempo. Depois de apagar a tatuagem mental, passei uns tempos culpando esse ser etéreo (ah, sua aranha nojenta e horrorosa) e me revoltando. Só para perceber, depois de alguns quase-ataques de pânico no transporte público, que essa também não era a melhor solução. Ela pareceu confortável até eu perceber que estava era criando uma nova teinha, dessa vez feita por mim mesma, que me deixava desconfortável pra caramba. Não, culpar o que quer que seja não era DE LONGE  a melhor solução. Culpa é o pensamento mais fácil, não é? Uma catástrofe acontece e já buscamos os culpados. Acontece que em pouquíssimos casos existe um culpado, em outros o buraco é mais embaixo e na grande maioria nem mesmo existe um culpado. Existe responsabilidade e existe – e vou dizer mesmo que vocês achem feio – existe perdão. Me perdoem por usar uma expressão tão fora de moda em um mundo com perdões tão seletivos, mas sim, ele existe.

E se posso ajudar de algum jeito, baseada em minha própria experiência pessoal com teias de aranha, enquanto você culpar a si mesmo ou culpar a aranha ou o que quer que esteja culpando, a teia não vai embora. E em vez de você melhorar, a cada comentário que você faz cheio de rancor xingando as teias do planeta, mais você se apega a essa teia que hoje nem existe mais. Você saiu da teia, tem que sair cem por cento e aproveitar essa oportunidade, aproveitar o mundo lá fora. E pegar uma vassoura. E em vez de usar essa vassoura para bater, recomendo usar para varrer as teias, as suas e as dos outros. Por que sabe o que bater gera? Mais aranhas. Que vão ficar com raiva da sua raiva, e só de raiva vão gerar mais teias. E apesar de você ter aprendido a lição e estar ileso às teias (será?), outras pessoas podem se prejudicar por causa dessas aranhas e teias que tanto rancor gera, eventualmente. Se tenho uma sugestão é: aproveita que você saiu dela, assume sua responsabilidade como sobrevivente e usa essa vassoura pra varrer. Com um sorriso no rosto e trabalho duro e não o trabalho fácil de falar mal das aranhas do mundo.

Por que decidi escrever sobre isso? Pra terminar um raciocínio que comecei no meu livro hoje. A verdade é que há anos planejo uma cena de um personagem caindo num abismo sem fundo (sim, meu livro é uma fantasia, em que esse tipo de coisas existe fisicamente e não apenas mentalmente). Mas, uma vez escrita, essa parte da história nunca tinha me convencido cem por cento, estava meio sem graça, sem emoção, fácil. Hoje, decidi dar mais atenção para essa cena. Mais ou menos como ando dando atenção nas sessões de terapia, ultimamente. E acho que consegui deixar ela senão perfeita, pelo menos mais sincera. Ela ficou mais ou menos assim:

Os pensamentos de Sandro continuavam caindo com ele, em cima dele. Não se lembrava de algum par de mãos ou vareta ou o que quer que fosse empurrando sua força de vontade para o Abismo sem Fundo. Então era ele que tinha se jogado? Mas que diacho. O que o fizera fazer aquilo? Será que seu cérebro ruivo era tão frágil que não aguentava comentários malcolocados? Especialmente quando eram comentários malcolocados sobre a inexistência súbita de sua mãe? Mas ele já não tinha ouvido o suficiente, lido o suficiente nas redes sociais por aí? Já não tinha sobrevivido a cerca de mil quinhentos e oitenta comentários sutilmente maldosos e duas mil e oitenta sugestões feitas de bom coração, mas tão tortas quanto os comentários maldosos, porque fingiam que não o eram? Não, nunca se ouve o suficiente quando você não tapa os ouvidos para sempre. Ele sabia que era algo por aí. Nas três vezes e meia em que tentara fazer terapia, Sandro chegou a olhar para esse novelo da sua cabeça, um dentre muitos, mas era um novelo tão felpudo e bonitinho, e estava tão bem encaixado ali dentro, que ele não tinha coragem de puxar o primeiro fio – para falar a verdade, não conseguia nem encontrar a ponta.

E, leitor, você sabe como são os novelos dentro da cabeça.

Foi mais ou menos quando já estava a mais de dez mil milhas (milhas são mais chiques que quilômetros, e não me faça começar a tentar explicar o sistema de medidas willifillenses) que Sandro percebeu que voltar não era uma opção. Olhar para cima só servia para lhe dar noção da velocidade com que caía, olhar para baixo era olhar para o impossível. Terrestres terrenos não são feitos de fibras suficientes para encarar o infinito com razão. Quando o fazem, uns inventam, outros descobrem, depois criam semânticas que viram guerras. O segredo para encarar o infinito, e esse é um segredo valioso que divido com você porque se você chegou até aqui comigo é porque é curioso o suficiente, e vai que algum dia na sua vida você acabe indo parar numa situação análoga a de Sandro Zaspargo, a gente nunca sabe. O segredo não é encarar de cabeça aberta, como muitos pensam. O segredo é encarar de peito aberto e sorriso também. E aí tudo se assenta, o infinito e o terreno.

Mas Sandro não conhecia esse segredo. E antes de inventar, antes de descobrir, antes de pensar se ia de peito ou de cabeça, antes de qualquer coisa, entrou em verdadeiro pânico, e esse foi o destino de Sandro. Quero dizer, o destino de Sandro foi continuar indo para baixo, porque não havia muito o que se fazer. E como quem se afoga, talvez pior que quem se afoga, quanto mais ele tentava ir para cima, quanto mais pensava em sacudir braços e pernas em busca de alguma superfície, mais ia para baixo. Willifill não era muito bom em gravidade, mas quando decidia ser, ah, era bem grave.

Dizem que quando estamos prestes a morrer, um flashback de nossa vida inteira passa diante de nós. Uma maneira de ocupar a cabeça com pensamentos do passado, num momento em que o futuro está mais nebuloso que fabuloso, deve ser. Acontece que na posição de Sandro, não havia flashback. Porque ele não estava prestes a morrer. Ao menos não tão preste assim. Sabia que eventualmente, não desfalecendo devido à queda, poderia sofrer fome, tédio ou qualquer coisa pior. Nessas horas, coisas bem frugais passam por nossa cabeça, também, como por exemplo o que fazer quando bater a vontade de ir ao banheiro, ou como seria interessante ter um celular no bolso para fotografar esse momento único, e não digo que Sandro não pensou nestas duas coisas com bastante desânimo.

E naquela mente em que flashback nenhum passava, a sensação de impotência era pior que tudo. E junto a ela, pensamentos bem desinteressantes começavam a se aboletar por ali. Como por exemplo “o que foi que eu fiz?”. Como por exemplo “será que alguém vai mesmo sentir minha falta?”. Ou então “se eu sair daqui, será que alguém vai mesmo me perdoar?”. Afinal, prosseguia a mente de Sandro, chegar em Willifill tinha sido um capricho de sua parte. Ninguém o obrigara a fazer aquilo, e ele, um adolescente já feito, não era assim tão ingênuo. Sabia dos perigos e eventuais desventuras que poderiam surgir de uma aventura daquelas. Afinal, a vida já não havia lhe ensinado que tudo o que parece bom demais geralmente não é? E que esse negócio de usar a imaginação e lutar por ela, e, por todos os céus, essa coisa de sonhar, não ia levar ele a lugar algum? Ele sabia que o futuro de verdade, seu destino como platanense naturalizado pouco a pouco paulistano e como humano não era viver naquele mundo frumez em que tudo plantava bananeira e as imaginações corriam soltas (para o bem ou para o mal). Ele sabia que sua missão era crescer para virar seu pai, seu engravatado e… e quem ele queria enganar? E covarde pai. Era tudo aquilo que rolava mente abaixo em Sandro. E mais um pouco. E ele não percebia mais o que era e o que não era, porque chega uma hora em que a mente mente – e você sabe que mente.

E Sandro caía.

O que vai acontecer com Sandro? Vai continuar caindo ou vai dar um jeito de voltar pra terra firme? E uma vez em terra firme, como vai lidar com a sensação pós-Abismo? A resposta que tenho pra hoje é que meu livro é como minha vida. E aqui sou eu que escolho.

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Uma parminha pra cá

Pra ler ouvindo isso aqui:

Não vou mentir, eu sou urbana pra caramba. Quase todas as minhas férias são baseadas em uma viagem para alguma capital. Adoro entender os segredos da vida urbana de diferentes cidades e países. Como boa filha da praia, não gosto de praia. E como boa criança de apartamento (mas nem tanto, devo dizer a meu favor que passei boa parte das minhas férias de infância brincando de índio nos pés de fruta da chácara do meu avô no interior) tenho verdadeiro pavor de mato. E tenho também a “sorte” de ser premiada com algum tipo de animal selvagem dentro do meu quarto sempre que arrisco uma viagem pra fazenda – geralmente uma aranha horrorosa, sendo perseguida por um sapo.

Acontece que coisas estranhas acontecem com o passar dos anos. E ando meio rural na minha cabeça. Sim, minhas raízes de família do interior de São Paulo / de Minas andam falando um pouco mais alto ultimamente. Não sei se é uma vontade genuína de sair do Centro de São Paulo e ir morar no interior (acho que não conseguiria…), mas é mais uma vontade de viver melhor, sem a necessidade de acotovelar pessoas no metrô ou buzinar no trânsito como parte obrigatória da vida. Uma vida mais simples, menos HORÁRIOS HORÁRIOS HORÁRIOS. E menos gente reclamando nas redes sociais.

Bem, minhas últimas decisões na vida foram todas nesse sentido e já melhoraram bastante :). Mas parece que falta mais. Estive lendo o livro C S Lewis Letters to Children, uma coletânea gostosa de cartas escritas pelo autor para crianças que eram suas fãs nas décadas de 50 e 60, e não tem como deixar de notar o quanto ele comenta sobre os animais que viviam ao redor de sua casa e sobre os fatos da natureza com muito mais frequência do que comentamos hoje. Mais que isso: era tudo tão mais devagar. Hoje reduzimos em meses a comunicação. Uma resposta que levaria 1 mês para chegar chega em 1 minuto via WhatsApp. Não acho que isso seja negativo – que ajuda essa facilidade fez na vida! Mas o que ando vendo como negativo é ficarmos aflitos se não recebermos a resposta em 1 minuto. Acho negativo enxergar essa facilidade como a única alternativa que a vida oferece.

Nesse livro, achei interessante uma passagem em que C S Lewis pergunta para uma criança o que significa uma expressão que ela usa numa carta. No começo, achei esquisito ele não ter pesquisado sobre a expressão e aceitar esperar pelo menos mais 2 meses para só então entender o significado da expressão e sóóó então poder continuar o diálogo. Até que lembrei que em tempos pré internet existia um jeito de saber mais sobre as coisas antes de googlar: perguntar para a pessoa.

Acho que é por isso que tenho uma paixão tão coisada por Paris. É uma cidade grande, com cotovelos no metrô e buzinas, muitas buzinas. Mas, nas duas vezes em que tive a chance de ir até lá, tive a impressão de sentir um resquício de vida mais calma dentro deles. Não lembro se já cheguei a colocar essa foto neste blog, e se já coloquei, me desculpem a repetição. É que ela resume o que quero ver mais na minha vida. Não sei se esse sujeito estava tendo pensamentos horrorosos ou se na verdade tinha acabado de brigar com a esposa e enchido a cara de vinho, no melhor estilo francês. Mas não me interessa. O método como ele tirou os sapatos e se deitou, todo urbano, mas em contato com o momento, no meio desse parque, é isso que me interessa. 🙂

Paris (158)

Tentando. Acho que essa é a palavra que mais tenho usado ultimamente. E conseguindo também. 🙂

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