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Quanto rende uma história?

Já houve um tempo em que eu acreditava que meu livro seria uma trilogia. Aí percebi o quanto é difícil fazer render uma história. Que, se for ver, a história crua dá umas 50 páginas, assim, pá puf. Mas aí é conto, e não era conto que eu queria contar. Aí, fui tentando. E percebi que esse negócio de fazer render a história é tipo cozinhar bem. Porque, assim, preparar a história rende bastante tempo da minha vida, ah isso rende. Mas na hora de ler, é tudo tão rápido. Ninguém percebe que um parágrafo pode ter saído de uma gestação de dois dias. É tipo aquele prato magnífico que você fica 5 horas fazendo e que, pra comer, os comensais levam 20 minutos, sabe? Isso no caso de gente bacana, que tem gente que nem mastiga e já sai cuspindo opinião logo na entrada (sei disso porque sou dessas :D).

A verdade é que, com o tempo, estou aprendendo a fazer render. E tento não fazer render enfiando descrições intermináveis, aquele palavrório complicado cheio de fel cio e plenitude, que isso aí é colocar água no feijão e deixar tudo ralo demais. Mas falando de detalhes do âmago da história, umas historinhas paralelas que dão gosto, colocando um bacon aqui, um tempero ali, detalhes que não são a história – mas fazem a história ficar mais gostosa. Aí rende que é uma beleza.

(lembrei do tio Sandro enquanto esse post foi saindo).

bolo

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Artistinha, graças a Deus.

Há mais ou menos 5 anos, eu estava prestes a me formar. Era uma daquelas fases de vida balançante que jogam a gente de um lado pra outro, e naquele instante eu estava sendo jogada para fora de um emprego bacana. E, de repente, toda a crise que tive para encontrar meu primeiro emprego de verdade voltou à minha mente. Porque esse tipo de crise é um tipo que não morre, não. Fica lá, latente. Ela só muda de formato, e vai somando problemas a cada nova fase da vida (ah, que saudades de quando eu não pagava meu aluguel!). Provavelmente, vai acontecer de novo.

E lá fui eu, batendo de porta em porta, encarando todo tipo de clichê de diretores de criação, eu e minha engraçada pasta na mão. Cheguei ao ponto de ser entrevistada por um deles que, em pleno milênio, curtia fazer a pose de Don Draper. A entrevista aconteceu enquanto ele bebia vinho e me dizia que a relação da agência dele com o cliente era tão legal que eles até se encontravam para tomar droga juntos. Achei tão moderno.

Outra entrevista marcou minha vida. Foi outro diretor de criação que curtia uma pose. Ele pegou meu portfólio, bem simples ainda na época, e me devolveu imediatamente.

– Não vejo projetos pessoais. – ele disse. – é coisa de artistinha, e artistinhas nunca viram bons publicitários.

Ouvi aquilo, me levantei e, pouco antes de sumir para o mundo, pensei, não falei: “palhaço.”

(e no fim, ele foi mesmo palhaço comigo, no hospital, anos depois, porque a vida é assim, cheia de piadinhas).

A verdade é que, graças a Deus, não dei ouvidos a esse conselho. E dias depois, encontrei uma agência que acreditou no potencial dessa pretensa artistinha, um diretor de criação que sabe canalizar arte até em e-mail marketing, na medida certa – e lá amarrei meu bode.

4 anos depois, o bode já estava todo reclamão e me chamou de canto: – escuta, sai daí um pouco. Vai passear, ver como está o mundo lá fora. O pior que pode acontecer é você se arrepender. E desamarrei o bode e passei os últimos 6 meses entendendo o universo da propaganda em outra agência. Bem reconhecida, bem antiga, bem tradiça. E me arrependi.

Só não me arrependi completamente porque esses quase 6 meses serviram de alguma coisa. Com eles, entendi, em resumo, o que está faltando na propaganda, hoje. São os artistinhas.

Entendi que a divisão entre propaganda offline e propaganda digital existe sim, e vi como o resultado disso é pior que número ruim de circo mambembe. Mas disso eu até já sabia. O maior aprendizado desse tempo foi mesmo ver que não, a culpa desse circo não é só dos velhinhos que não sabem mexer no computador. É muito fácil jogar a culpa neles, enquanto enfiamos nossos empinados narizes de geração Y em nossos copinhos de Yakult. Nananinanão. A culpa é muito nossa, muito minha, muito dessa geração que está chegando. Geração que anda vendendo propaganda com manual de instrução.

E enquanto o “redator offline”, por mais empoeirado que esteja, ainda lê seu título pro cliente com um brilhinho no olhar, um resquício de arte, mesmo que já com um pouco de esforço para fazer o mundo do trocadilho subsistir, a equipe modernosa de digital (ah, sim, dígital, com acento no primeiro i, pra ficar ainda mais sofisticado) começa a falar de parallax, paracax, QR code, shenanigans, bluetooth, com ponta da língua entre os dentes e tudo. E tira dos bolsos referências e mais referências, e fala de códigos e siglas e engajamentos. E tira de seu trabalho a magia. Paixão pelo que está apresentando? Cadê? Não sei. Talvez ela esteja escondida em algum rodapé entre o slide 45 e o 59.

Estou achando é que perigamos virar uma geração de antenados, no pior sentido da palavra. Porque se deixar, recebemos conteúdo e mais conteúdo, sem tempo de deixar que ele se misture em nossa cabeça e vire coisa nova. Estamos é virando um bando de esponja com antenas, devolvendo para o mundo job requentado, tecnologia sem sentido, coisa que é legal até a página 1. Vou te contar, hoje, a (má) propaganda anda sendo um tal de botar chantilly em falta de ideia.

Que dá saudades dos tempos do pão com manteiga. Aquele em que, em vez de se pensar primeiro na plataforma, ou na última tendência do FWA, não se pensava. Intuía-se.

E aí sim, depois que a ideia nasce, depois que ela sai da sala de reunião brilhando, com gente sorrindo e com aquele jeitão de que quer mudar o mundo, aí sim ela vai em busca da melhor tecnologia para existir bem. Porque aí sim até wireframe pode ser lido com paixão.

Ufa.

oy

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O livro que você não pode colocar na sua “pilha de livros para ler”

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Porque essa pilha de livros para ler é uma das coisas da vida que são assustadoras, que vão se acumulando, prontas para serem devoradas por nós,  com jeitinho, na verdade, de que nos devorarão. A minha fica dentro do meu guarda-roupa e já está quase saltando pra fora, inda mais agora que resolvi reler Os Miseráveis depois de 10 anos (e continua bom, viu?). Aí que a DraftFCB criou uma campanha em prol de novos autores, incentivando nós, leitores, a ler mais rápido e parar de empilhar livros pela vida.

Tudo muito bom, tudo muito bem, mas pra mim deviam era fazer um desses pra escritores. Já pensou? Um software que apaga seus escritos se você demorar mais que 12 anos pra escrever? Ia ser muito sucesso.

 

 

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medo de nunca terminar.

Meu livro, é! Fiz aqui uma lista das coisas que a gente faz com um livro que não termina:

  1. Coloca na herança pro filho terminar e ele que faça um bom trabalho.
  2. Chama a Zíbia e continua o trabalho mesmo depois de morta.
  3. Bota fogo. Fogo em você mesma, só de raiva.
  4. Manda enterrar junto com você. Com a seguinte inscrição: esse ano eu termino.
  5. Pede pra publicarem mesmo assim, igual aquele Castelo daquele mala do Kafka que me fez ler um livro chato e inteiro para terminar assim sem mais nem

Ou um dia alugo uma cabana na montanha e escrevo e escrevo e escrevo em uma febre de 5 dias até terminar a coisa toda. Que, minha gente, já tem 12 anos de idade. É um adolescente! É um mardito adolescente gritando no meu computador e sacudindo a porta do meu armário!

Mas vejam vocês se não encontrei uma banda russa sucesso que tem o mesmo nome completamente inventado do meu livro:

 

E uma foto no Pinterest que é a cara de uma das minhas personagens:

rebeca

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